São Paulo, sábado, 29 de setembro de 2007

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Para o BC, demanda atual trará mais inflação

Investimento não tem acompanhado o consumo; taxa maior deve vir em 2008

Setor de serviços preocupa o BC, pois é uma área que não reage à importação; com isso, permite aumento de preços com mais facilidade

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mantido o ritmo atual de aumento da procura por bens e serviços por parte da população, o país terá de conviver com um pouco mais de inflação em 2008. Isso apesar de os investimentos para aumentar o parque produtivo também estarem crescendo. A avaliação é dos diretores do BC, que revisaram de 4,1% para 4,2% a projeção do IPCA para 2008 -o índice é referência para o regime de metas de inflação.
A preocupação do BC é com o descompasso entre a alta da demanda e a maturação dos investimentos, o que faz com que as empresas usem quase todo o material e equipamentos disponíveis para produzir.
"A utilização da capacidade instalada vem crescendo apesar dos investimentos", destaca Mário Mesquita, diretor de Política Econômica do BC. "No passado, esses níveis de utilização coincidiram com a aceleração da inflação", completa.
No relatório trimestral de inflação divulgado nesta semana, o BC deixa claro o temor de pressão sobre os preços ao alertar que o investimento feito até agora pelos empresários "tem contribuído para retardar a elevação das taxas de utilização da capacidade, mas tem sido insuficiente para evitar que estas se mantenham em níveis historicamente elevados".
Além disso, os diretores do BC chamam a atenção para a importância do setor de serviços na estabilidade dos preços. Isso porque é uma área em que é difícil medir exatamente o nível de uso da capacidade instalada e, também, não reage à importação, permitindo mais facilmente o aumento de preços.
Segundo Mesquita, ao contrário de outros segmentos como alimentação, em que os preços oscilam mais, no setor de serviços os movimentos de alta costumam ser mais persistentes e também demoram mais para reagir diante da alta dos juros para conter a inflação.
Essa avaliação, porém, não é consenso dentro da equipe econômica. Técnicos da Fazenda defendem que o risco de descompasso entre investimentos e aumento da demanda é pequeno. Isso porque o que puxa hoje a taxa de investimento é o setor de bens de capital que, rapidamente, eleva a capacidade produtiva. Com isso, eles acreditam que o nível atual de uso da capacidade instalada deverá cair em 2008, afastando as pressões inflacionárias.
Além disso, alegam que, como está no final da cadeia produtiva, o setor de serviços não contamina os preços ao longo do processo produtivo e a repercussão na inflação é menor. Por isso, dizem que a alta da inflação será facilmente revertida a partir de meados de 2008, já que foi puxada pelo aumento no preço dos alimentos.


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