São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 2008

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Plano de resgate não resolve tudo, dizem economistas

Analistas apontam problemas na regulação e dificuldades para retomar confiança

Professor de Harvard elogia iniciativa de troca de socorro por ações de empresas, mas critica "populismo" de limitar os bônus dos executivos

DE WASHINGTON

Se o plano for aprovado até quarta-feira, como esperam os líderes democratas do Congresso, segundo a entrevista coletiva de ontem, será uma iniciativa bem-vinda e necessária, mas está longe de ser a solução de todos os problemas econômicos da crise atual. A ação deve ser mais ampla e duradoura. Essa é a opinião de economistas ouvidos pela Folha.
Para Jeremy Stein, professor de economia de Harvard, o governo precisa usar o poder de barganha de que dispõe no momento para obrigar as empresas financeiras a se reestruturar. "Esse plano não pode ser um substituto para a reestruturação e o refinanciamento do setor privado, que são tão necessários, mas apenas seu complemento", disse à Folha.
Stein elogia a iniciativa de exigir ações em troca das empresas auxiliadas como maneira de garantir algum ganho ao contribuinte, caso essas venham a se valorizar depois da intervenção do governo, mas acha que a inclusão da medida que limita os ganhos dos executivos é puramente política. "Não faz sentido", afirma. "É o Congresso jogando para a platéia, basicamente."
Com ele concorda Kevin Murphy, professor de economia da Universidade do Sul da Califórnia. "Estamos sendo ingênuos se achamos que regular os salários vai fazer com que os pagamentos diminuam", disse.
Bill Clinton tentou fazer isso quando assumiu a Presidência, em 1992. As empresas acharam maneiras "criativas" de recompensar seus dirigentes, lembra.
Seja como for, algum tipo de punição para dirigentes que tomaram decisões erradas que levaram à quebra ou quase quebra das empresas deveria mesmo constar da medida. É o que defende Christopher Carroll, professor de economia da Johns Hopkins. "Se tivermos de resgatar algumas pessoas que tomaram más decisões para salvar o resto do navio, tudo bem", disse à Folha. "A meta deveria ser evitar que o navio afunde, e não dar algumas bóias ao capitão e à equipe."
Outro aspecto ressaltado é a pressa com que o processo todo está sendo tocado. Nos últimos dias, com a falta de acordo quanto a uma proposta de lei, havia crescido uma corrente que defende a aprovação de medidas emergenciais agora e o adiamento da votação do pacote inteiro para depois das eleições presidenciais, que acontecem em 4 de novembro.
"Não gostaria que o argumento da pressa e da urgência repisado pelo governo seja usado como desculpa para que algo realmente estúpido e simples seja aprovado. Só o anuncio do acordo já faz ganhar mais tempo", disse Stein. "Os maiores pânicos parecem ter cedido, o melhor seria debater os detalhes por mais semanas, enquanto um tipo de plano mais simples saísse."
Dele discorda Bruce Josten, da Câmara de Comércio dos EUA. "Nós temos um sistema capitalista que depende de crédito, e crédito depende de confiança", disse ele em teleconferência recente. "Nesse momento, nós estamos com falta de ambos."
(SÉRGIO DÁVILA)

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