São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2001

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A NOVELA DO CALOTE

BC passa a contar como reservas empréstimos às instituições financeiras; país já perdeu US$ 13,27 bi este ano

Argentina muda conta e melhora reservas

FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES

As reservas internacionais da Argentina deram um salto de US$ 2,4 bilhões sem que nenhum recurso extra entrasse no sistema financeiro do país. Uma mudança na forma de o Banco Central contabilizar as reservas foi a responsável pelo aumento dos números anunciados pelo governo.
Entre os dias 22 e 23, as reservas internacionais subiram de US$ 18,9 bilhões para US$ 21,3 bilhões. Se o governo não tivesse "inflado" os dados, as reservas mostrariam que naquele dia houve, na realidade, uma saída de US$ 220 milhões.
Analistas e profissionais do mercado consultados pela Folha afirmaram que essa foi mais uma forma encontrada pelo governo para apresentar números um pouco menos negativos no momento de iniciar a operação de troca da dívida externa do país nos próximos meses.
"A mudança pode enganar quem não monitora esses números diariamente. Quem os acompanha com cuidado terá apenas o trabalho extra de fazer os cálculos para ver os níveis reais das reservas", afirma Leonardo Chialva, da Delphos Investment.
O que o Banco Central fez foi passar a computar nas reservas totais do sistema financeiro do país os títulos que representam os empréstimos feitos às instituições financeiras.
Há duas semanas, o governo argentino já havia obrigado os bancos que atuam no país trazerem de volta mais de US$ 1,5 bilhão que mantinha em contas no Deutsche Bank de Nova York, nos Estados Unidos.
Esses recursos, que fortaleceram as reservas do Banco Central, faziam parte do dinheiro que os bancos não podem utilizar para empréstimos ou reaplicações -similar aos depósitos compulsórios do sistema financeiro do Brasil.
Segundo o Banco Central, a mudança tem o objetivo de dar maior transparência nas cifras apresentadas e segue uma metodologia que já é utilizada em muitas análises econômicas.
O novo cálculo fez com que as reservas internacionais ficassem um pouco acima do nível do começo deste mês. No dia 1º, as reservas eram de US$ 21 bilhões. Mesmo com a mudança nas regras, as perdas das reservas no ano assustam: já evaporaram US$ 13,27 bilhões das reservas do sistema financeiro da Argentina.
A sangria dos depósitos bancários também começou a ganhar novo fôlego. As incertezas sobre a recuperação da economia do país e o sucesso da reestruturação da dívida ainda são muito grandes. Somente no dia 23, os investidores tiraram mais US$ 343 milhões dos bancos. Neste mês, as saídas somam US$ 2,65 bilhões.

Negócios em baixa
O risco-país da Argentina voltou a encostar nos 3.000 pontos básicos. O adiamento do prazo para os pequenos investidores entrarem na reestruturação da dívida no mercado local incomodou os investidores, pois pode ser um indicador de que a adesão à operação está abaixo do esperado pelo governo.
O Merval, principal índice da Bolsa argentina, encerrou os negócios com desvalorização de 2,9%. No fim do dia, o risco-país estava em 2.962 pontos básicos.
A escalada do risco-país é um indicador das crescentes dúvidas do mercado internacional sobre a possibilidade de a Argentina conseguir ter êxito na reestruturação de sua dívida pública e evitar o "default" (calote).



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