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A NOVELA DO CALOTE
BC passa a contar como reservas empréstimos às instituições financeiras; país já perdeu US$ 13,27 bi este ano
Argentina muda conta e melhora reservas
FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES
As reservas internacionais da
Argentina deram um salto de US$
2,4 bilhões sem que nenhum recurso extra entrasse no sistema financeiro do país. Uma mudança
na forma de o Banco Central contabilizar as reservas foi a responsável pelo aumento dos números
anunciados pelo governo.
Entre os dias 22 e 23, as reservas
internacionais subiram de US$
18,9 bilhões para US$ 21,3 bilhões.
Se o governo não tivesse "inflado"
os dados, as reservas mostrariam
que naquele dia houve, na realidade, uma saída de US$ 220 milhões.
Analistas e profissionais do
mercado consultados pela Folha
afirmaram que essa foi mais uma
forma encontrada pelo governo
para apresentar números um
pouco menos negativos no momento de iniciar a operação de
troca da dívida externa do país
nos próximos meses.
"A mudança pode enganar
quem não monitora esses números diariamente. Quem os acompanha com cuidado terá apenas o
trabalho extra de fazer os cálculos
para ver os níveis reais das reservas", afirma Leonardo Chialva, da
Delphos Investment.
O que o Banco Central fez foi
passar a computar nas reservas
totais do sistema financeiro do
país os títulos que representam os
empréstimos feitos às instituições
financeiras.
Há duas semanas, o governo argentino já havia obrigado os bancos que atuam no país trazerem
de volta mais de US$ 1,5 bilhão
que mantinha em contas no
Deutsche Bank de Nova York, nos
Estados Unidos.
Esses recursos, que fortaleceram as reservas do Banco Central,
faziam parte do dinheiro que os
bancos não podem utilizar para
empréstimos ou reaplicações
-similar aos depósitos compulsórios do sistema financeiro do
Brasil.
Segundo o Banco Central, a mudança tem o objetivo de dar maior
transparência nas cifras apresentadas e segue uma metodologia
que já é utilizada em muitas análises econômicas.
O novo cálculo fez com que as
reservas internacionais ficassem
um pouco acima do nível do começo deste mês. No dia 1º, as reservas eram de US$ 21 bilhões.
Mesmo com a mudança nas regras, as perdas das reservas no
ano assustam: já evaporaram US$
13,27 bilhões das reservas do sistema financeiro da Argentina.
A sangria dos depósitos bancários também começou a ganhar
novo fôlego. As incertezas sobre a
recuperação da economia do país
e o sucesso da reestruturação da
dívida ainda são muito grandes.
Somente no dia 23, os investidores tiraram mais US$ 343 milhões
dos bancos. Neste mês, as saídas
somam US$ 2,65 bilhões.
Negócios em baixa
O risco-país da Argentina voltou a encostar nos 3.000 pontos
básicos. O adiamento do prazo
para os pequenos investidores entrarem na reestruturação da dívida no mercado local incomodou
os investidores, pois pode ser um
indicador de que a adesão à operação está abaixo do esperado pelo governo.
O Merval, principal índice da
Bolsa argentina, encerrou os negócios com desvalorização de
2,9%. No fim do dia, o risco-país
estava em 2.962 pontos básicos.
A escalada do risco-país é um
indicador das crescentes dúvidas
do mercado internacional sobre a
possibilidade de a Argentina conseguir ter êxito na reestruturação
de sua dívida pública e evitar o
"default" (calote).
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