São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2007

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Recurso de fundo do BNDES deve permanecer no exterior

Coutinho diz que dinheiro financiará exportações

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O novo fundo que está sendo estudado pelo governo para diversificar a aplicação dos dólares que sobram atualmente no mercado e acabam engrossando as reservas internacionais não deverá aumentar a necessidade de intervenções no câmbio, segundo o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.
Ao rebater as críticas de que a transferência do dinheiro para projetos do bancos iria duplicar as intervenções do governo no mercado cambial, ele explicou, ontem, que a idéia é que os recursos repassados ao BNDES fiquem no exterior.
O banco usará os dólares obtidos com o novo fundo como fonte de recursos para impulsionar as exportações brasileiras financiando os compradores dos produtos nacionais. Isso reforçará a atuação do BNDES como um Eximbank, instituição especializada em fomento ao comércio exterior.
"O Brasil não tem um Eximbank e, na prática, o BNDES desempenha esse papel. Temos empresas altamente competitivas que precisam do suporte do BNDES para aumentar as operações no exterior", justificou.
Na prática, parte dos dólares que estão sobrando no mercado nacional seria adquirida pelo Tesouro e transferida para um novo fundo do governo no exterior, em vez de ir para as reservas. Esse fundo compraria papéis do BNDES, mas o dinheiro não retornaria ao Brasil para ser aplicado em financiamentos internamente. Ele ficaria como uma disponibilidade do banco lá fora.
Segundo Coutinho, isso permitiria ao banco usar seu orçamento exclusivamente para financiar projetos dentro do país, em vez de ter que dividir os recursos com as operações externas. "Isso aliviaria a pressão sobre "funding" [fonte de recursos] do BNDES", disse.
Segundo os cálculos de Coutinho, do total de recursos demandados hoje ao BNDES, cerca de US$ 10 bilhões são para financiar operações de comércio exterior. Exatamente a quantia que o ministro Guido Mantega (Fazenda) estimou como a necessária para o início das atividades do novo fundo público.
Coutinho disse ainda que não há uma definição sobre o assunto e que a operação para viabilizar o aumento das aplicações externas do banco não precisa ser feita por meio de um fundo soberano de reservas.
"Reserva é reserva, tem que ser líquida e aplicada em geral em treasuries [títulos do governo dos EUA]", afirmou. "Como a reserva já chegou a nível elevado, em algum momento é possível que haja uma coordenação entre o Tesouro e o BC e, em vez de agregar mais recursos para as reservas, possa agregar recursos para um tipo de "funding" para o BNDES. Não necessariamente tem que ver com o fundo soberano."
Segundo Coutinho, não é interesse do BNDES que essa operação seja "fator de perturbação da política macroeconômica" ou "pressione o superávit primário". Os recursos são necessários, na avaliação dele, porque o país vive um "ciclo de investimento robusto" e, apesar de o mercado de capitais suprir parte do dinheiro necessário para esses investimentos, o sistema bancário privado ainda não participa com o volume suficiente por causa da estrutura de depósitos compulsórios (parte do dinheiro do sistema financeiro que fica recolhida no BC) e a taxa de juros "tão alta".


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