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Recurso de fundo do BNDES deve permanecer no exterior
Coutinho diz que dinheiro financiará exportações
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O novo fundo que está sendo
estudado pelo governo para diversificar a aplicação dos dólares que sobram atualmente no
mercado e acabam engrossando as reservas internacionais
não deverá aumentar a necessidade de intervenções no câmbio, segundo o presidente do
BNDES, Luciano Coutinho.
Ao rebater as críticas de que a
transferência do dinheiro para
projetos do bancos iria duplicar
as intervenções do governo no
mercado cambial, ele explicou,
ontem, que a idéia é que os recursos repassados ao BNDES
fiquem no exterior.
O banco usará os dólares obtidos com o novo fundo como
fonte de recursos para impulsionar as exportações brasileiras financiando os compradores dos produtos nacionais. Isso reforçará a atuação do
BNDES como um Eximbank,
instituição especializada em fomento ao comércio exterior.
"O Brasil não tem um Eximbank e, na prática, o BNDES desempenha esse papel. Temos
empresas altamente competitivas que precisam do suporte do
BNDES para aumentar as operações no exterior", justificou.
Na prática, parte dos dólares
que estão sobrando no mercado nacional seria adquirida pelo Tesouro e transferida para
um novo fundo do governo no
exterior, em vez de ir para as reservas. Esse fundo compraria
papéis do BNDES, mas o dinheiro não retornaria ao Brasil
para ser aplicado em financiamentos internamente. Ele ficaria como uma disponibilidade
do banco lá fora.
Segundo Coutinho, isso permitiria ao banco usar seu orçamento exclusivamente para financiar projetos dentro do
país, em vez de ter que dividir
os recursos com as operações
externas. "Isso aliviaria a pressão sobre "funding" [fonte de recursos] do BNDES", disse.
Segundo os cálculos de Coutinho, do total de recursos demandados hoje ao BNDES, cerca de US$ 10 bilhões são para financiar operações de comércio
exterior. Exatamente a quantia
que o ministro Guido Mantega
(Fazenda) estimou como a necessária para o início das atividades do novo fundo público.
Coutinho disse ainda que não
há uma definição sobre o assunto e que a operação para
viabilizar o aumento das aplicações externas do banco não
precisa ser feita por meio de um
fundo soberano de reservas.
"Reserva é reserva, tem que
ser líquida e aplicada em geral
em treasuries [títulos do governo dos EUA]", afirmou. "Como
a reserva já chegou a nível elevado, em algum momento é
possível que haja uma coordenação entre o Tesouro e o BC e,
em vez de agregar mais recursos para as reservas, possa agregar recursos para um tipo de
"funding" para o BNDES. Não
necessariamente tem que ver
com o fundo soberano."
Segundo Coutinho, não é interesse do BNDES que essa
operação seja "fator de perturbação da política macroeconômica" ou "pressione o superávit primário". Os recursos são
necessários, na avaliação dele,
porque o país vive um "ciclo de
investimento robusto" e, apesar de o mercado de capitais suprir parte do dinheiro necessário para esses investimentos, o
sistema bancário privado ainda
não participa com o volume suficiente por causa da estrutura
de depósitos compulsórios
(parte do dinheiro do sistema
financeiro que fica recolhida no
BC) e a taxa de juros "tão alta".
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