São Paulo, domingo, 29 de novembro de 2009

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TVs terão de vir com conversor até 2011

Fabricantes driblam plano de Hélio Costa de vender os aparelhos separadamente

Em dois anos, 1 milhão de conversores avulsos foi comercializado, ante expectativa de 9 milhões do Ministério das Comunicações


JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois anos após o início da TV digital no país, o governo (Ministério das Comunicações) não só fracassou em convencer os grandes fabricantes a produzir o conversor -aparelho que capta o sinal digital das emissoras de televisão- como cedeu à pressão da indústria, interessada em vender televisores de LCD e de plasma já com o conversor embutido, uma estratégia para evitar a queda de preço desses aparelhos.
A reivindicação dos fabricantes virou regra em setembro por meio de uma portaria conjunta dos ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e da Ciência e Tecnologia. A partir de 2010, Sony, LG, Panasonic, Samsung, Philips e os demais concorrentes só produzirão o conversor para embarcá-lo nos televisores com mais de 32 polegadas.
A medida se amplia, a partir de 2011, quando todos os televisores de LCD e plasma terão de conter o conversor. Algumas marcas, como a japonesa Panasonic, abandonarão a produção de aparelhos analógicos já no próximo ano.
"O governo [Ministério das Comunicações] pagou um mico porque não soube entender que o mercado não queria uma tecnologia intermediária", diz Maurício Loureiro, presidente da Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas).
Para ele, a tecnologia japonesa de transmissão do sinal digital de TV -adotada pelo Brasil- ainda não está madura em seu próprio país e o governo não conseguiu convencer os fabricantes do contrário.
Mesmo assim, 13 deles tiveram projetos para a produção do conversor aprovados pela Zona Franca de Manaus. Só 7 deles investiram pesado na produção para tentar lançar aparelhos na faixa dos R$ 100, meta definida pelo ministro Hélio Costa (Comunicações) há dois anos para que o produto massificasse o acesso ao sinal da TV digital.
"O problema é que o produto não atende às expectativas criadas pelo ministro", diz Wilson Périco, presidente do Sinaees (Sindicato da Indústria de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares) de Manaus (AM). "O conversor oferece altíssima qualidade de imagem e de som, mas a interatividade está longe de ser alcançada."
Resultado: menos de 1 milhão de conversores foi vendido em menos de dois anos. Périco afirma que o Ministério das Comunicações estimava que as vendas chegariam a 9 milhões.

Artimanha
Não foi apenas a "imaturidade" do sistema japonês que levou os grandes fabricantes a desistirem da venda do conversor separadamente. "O preço dos televisores LCD está caindo há muitos anos, e embutir o conversor foi a forma encontrada para manter o preço em patamares razoáveis", diz Loureiro, presidente da Cieam.
Há dois anos, o modelo de 54 polegadas da sul-coreana Samsung custava R$ 9.000 Já está sendo vendido por R$ 3.000 com o conversor digital embutido. Atualmente, cerca de 60% da produção de televisores no país já é LCD, segundo a Cieam.
Esses aparelhos nunca estiveram tão em alta. Entre janeiro e setembro, os fabricantes faturaram US$ 1,7 bilhão com a venda de 2,3 milhões de unidades, quase 28% de aumento em relação ao mesmo período do ano passado. Foi o maior crescimento registrado na Zona Franca de Manaus. Os receptores de sinal de televisão, que incluem os conversores digitais, tiveram queda de 5%.
"Para a Copa [do Mundo de 2010], todos os nossos televisores terão o conversor embutido", diz Ichiu Shinohara, vice-presidente da Panasonic.
Ele acredita que seja mais fácil vender uma LCD com o conversor do que o decodificador separadamente. "O preço está razoável e, em prestações, os consumidores não vão sentir no bolso."
Périco discorda. "O consumidor não terá mais a opção de escolher um produto mais barato sem o conversor nem terá muitas ofertas para a compra do conversor separadamente."
Procurado, o ministro Hélio Costa não quis comentar o assunto. A Folha também tentou falar com o Secretário de Comunicação do ministério, Roberto Pinto Martins, mas não obteve retorno.


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