São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

Texto Anterior | Índice

COMÉRCIO INTERNACIONAL
Disputa, que já chegou à OMC, faz europeu pedir intervenção de Clinton para evitar confronto maior
Bananas levam EUA e
Europa a "guerra"

JOSÉLIA AGUIAR
da Redação

EUA e União Européia estão brigando por causa de bananas. O embate, travado no campo comercial há cerca de duas semanas, envolve acusações mútuas e ameaças de sanções. Nos próximos dias, a OMC (Organização Mundial do Comércio) deve anunciar um veredicto, o que não significará o fim da contenda.
A gravidade da disputa já levou o presidente da Comissão Européia, Jacques Santer, a escrever ao presidente dos EUA, Bill Clinton, pedindo sua intervenção "urgente e pessoal" para evitar um confronto maior.
Não é a primeira vez que EUA e União Européia brigam por bananas. Mas a celeuma se agravou depois que a União Européia firmou um novo acordo com países da África e do Caribe para garantir a importação privilegiada de colheitas saídas de suas ex-colônias nas duas regiões.
Os EUA, que não cultivam bananas, mas possuem companhias que detêm o controle de plantações na América Latina e Central, julgam o acordo discriminatório.
Em represália, ameaçam colocar tarifas alfandegárias extras de 100% nos produtos europeus que desembarcarem em seu território a partir de fevereiro do próximo ano. Perfumes, vinhos e queijos são alguns dos produtos que podem dobrar de preço nas gôndolas e prateleiras do país.
Os europeus crêem que a decisão norte-americana é unilateral e dizem que só negociam uma solução para o confronto se for retirada a ameaça. Na última quarta-feira, a disputa comercial chegou mais uma vez às portas da OMC.
Os representantes da Comissão Européia apresentaram um pedido oficial ao organismo para impugnar a lei norte-americana que permite ao país estabelecer sanções como as que planeja adotar no episódio das bananas.
A representante de comércio dos EUA, Charlene Barshefsky, diz que o país deseja chegar a uma solução "mutuamente aceitável" para o conflito.
"Não se pode entrar em um tribunal apontando a arma para a outra parte", reclama o representante europeu de Comércio, Leon Brittan. Ele diz que a aplicação das sanções "prejudicará inevitavelmente as relações econômicas e políticas entre a Europa e os EUA".
A razão para duvidar que a arbitragem da OMC conseguirá pacificar os contendores é que, no ano passado, o mesmo organismo havia condenado a então política de importação de banana adotada pela Europa -apesar disso, o acordo praticamente não foi alterado em sua nova versão.
Os bananicultores supostamente privilegiados pelo acordo reclamam que os EUA já ocupam mais de 60% do mercado europeu. E argumentam que o desenvolvimento de suas economias depende em grande parte das vendas do produto. Para o governo norte-americano, no entanto, trata-se de uma questão de princípios.



Texto Anterior | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.