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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Preparando 2007
São necessárias políticas
públicas que permitam uma
participação mais equânime
nos frutos do crescimento
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ENCERRA-SE com a coluna de
hoje mais um ano desta minha presença semanal na Folha. Iniciei este trabalho como cronista das coisas das finanças e da
economia em 1979, substituindo
José Serra quando ele foi eleito deputado federal. O convite foi feito
pessoalmente pelo dr. Octavio
Frias na sede da Folha no centro
de São Paulo. Vivíamos então o início do processo de distensão da ditadura militar, com a Lei da Anistia
e a volta de muitos exilados. Iniciava-se também um período longo de
crise econômica e que levaria, junto com a volta da democracia, ao
colapso do modelo criado pelos militares. Delfim Netto substituía o
então ministro da Fazenda Mario
Henrique Simonsen, que procurava, com um atraso de cinco anos,
ajustar a economia brasileira ao
choque de petróleo de 1973 e sua
reedição naquele mesmo ano de
1979. Ele caiu por insistir nesse
ajuste macroeconômico no início
do governo Figueiredo.
Mas tudo isso é história e quero
hoje tratar do futuro. Ao longo deste ano que termina tenho mostrado ao leitor que, finalmente, deixamos para trás as terríveis conseqüências do desequilíbrio financeiro externo que marcou nossas vidas neste quase um quarto de século. Em razão de um vigor extraordinário nas nossas exportações,
pela primeira vez em muitas décadas podemos como sociedade aspirar dias melhores. É possível romper com um passado de crescimento econômico pobre e permitir que os brasileiros possam, por seu esforço pessoal, melhorar suas vidas.
Mas para isso será necessário que
compreendamos a natureza desse
desafio. Esse será o centro da tarefa que me proponho como analista
da Folha.
Esse espaço só terá sentido se
conseguir, ao longo de 2007, de alguma forma, contribuir para construirmos uma saída para essa mediocridade em que estamos mergulhados. O país não cresce e não permite que as novas gerações de brasileiros possam aspirar, por mérito
próprio, a uma vida melhor do que
a de seus pais. E, o que é pior, o
Brasil corre o risco de voltar ao
passado no qual os que vivem sob a
guarda do governo têm mais chances de progredir do que os que lutam dentro do ambiente competitivo do mercado de trabalho.
Por isso encerro minha presença
neste ano propondo alguns pensamentos para nossos encontros em
2007. Para realizar essa tarefa, tomo emprestado de André Lara Resende, meu amigo e um dos maiores economistas brasileiros dos últimos tempos, as palavras ditas por ele na cerimônia em que recebeu,
recentemente, o prêmio de economista do ano. Elas não apareceram
na mídia nesses tempos em que o
populismo e a falta de caráter tomam conta do dia-a-dia do noticiário sobre nossos homens públicos.
Mas André, como sempre, alinhou
de maneira brilhante os grandes
desafios que temos hoje no Brasil.
Gostaria de dividir algumas de suas
conclusões com meu leitor.
1) O moderno capitalismo de
massa revelou-se imbatível como
sistema de produção de riqueza.
Sua superioridade foi de tal forma
esmagadora que não parece haver,
hoje, alternativa para a organização da economia.
2) Acontece que esse mesmo capitalismo moderno é incapaz de
resolver de forma automática a
questão das desigualdades e da exclusão social. Pelo menos transitoriamente as agrava. A redução da
desigualdade depende essencialmente da vida pública, da política e
da cidadania.
3) Ora, se não existe alternativa à
altura do capitalismo para a criação de riqueza, se esse capitalismo
é incapaz de sanar a questão de desigualdade, que depende essencialmente da valorização da vida pública, e a desvalorização da política
tem suas raízes justamente no desenvolvimento da mentalidade capitalista moderna, estamos diante
de um desafio monumental.
Essas palavras resumem para
mim a natureza do problema que
devemos enfrentar. De um lado, é
necessário criar as condições essenciais para que o capitalismo
brasileiro desenvolva-se com eficiência e racionalidade. E isso só
será obtido com agenda de reformas ousadas. De outro, é preciso
um conjunto de políticas públicas
que permita, sem agredir a dinâmica de geração de renda inerente a
uma economia moderna, uma participação mais equânime nos frutos do crescimento econômico. E
como André coloca com precisão
em suas palavras, esse desafio
transcende as discussões sobre superávit primário, redução de juros
e pacotes oportunistas e vazios que
dominam a agenda econômica.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 64, engenheiro e
economista, é economista-chefe da Quest Investimentos.
Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações
(governo FHC).
lcmb2@terra.com.br
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