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Sem CPMF, Receita cria "vigilância" de contas
Para substituir fiscalização após o fim do tributo, fisco decide obrigar bancos a repassar dados sobre transações financeiras
Pessoas físicas que tenham movimentação superior a R$ 5.000 por semestre terão informações comparadas com a declaração do IR
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal elaborou
um novo mecanismo para flagrar sonegadores e substituir o
efeito fiscalizador da CPMF,
que vai deixar de ser cobrada a
partir de 2008. A partir de 1º de
janeiro, os bancos serão obrigados a repassar à Receita Federal os dados de todas as pessoas
físicas que movimentam mais
de R$ 5.000 por semestre em
conta corrente ou poupança.
Serão listados os contribuintes
com movimentação média de
R$ 833 por mês. As empresas
que movimentarem mais de R$
10 mil a cada seis meses, ou R$
1.666 em média por mês, também serão alvo da fiscalização.
Nos próximos meses, a Receita Federal deverá pedir informações também sobre operações no mercado financeiro,
aplicações em fundos de investimento e compra de moeda estrangeira. As administradoras
de cartões de crédito já são
obrigadas a informar gastos superiores a R$ 5.000 por mês.
Com o decreto, o valor passou a
ser de R$ 5.000 a cada seis meses, ou seja, caiu para R$ 833
por mês em média.
O coordenador-geral de Fiscalização da Receita Federal,
Marcelo Fisch, explicou que a
Receita escolheu um valor baixo de movimentação mensal
para evitar que sonegadores
usem contas bancárias em diversas instituições financeiras
para driblar a fiscalização.
A nova estratégia de fiscalização, adotada ontem com a edição de um decreto, mostrou
que o fim da CPMF não deve facilitar a sonegação do Imposto
de Renda, como havia ameaçado o ministro Guido Mantega
(Fazenda) durante as negociações para tentar prorrogar o
imposto do cheque até 2011.
Mas juristas alertam que o mecanismo de fiscalização poderá
ser considerado quebra de sigilo bancário e, portanto, questionado na Justiça.
Fisch negou que a informação sobre movimentações financeiras seja quebra de sigilo
bancário dos contribuintes. Ele
argumentou que a Receita pedirá aos bancos o volume total
movimentado no período de
seis meses, e não o extrato detalhado das operações bancárias.
O contribuinte só será intimado a fornecer o extrato detalhado quando houver divergência entre a movimentação em
conta e a declaração do IR. Nesse caso, é aberto processo de
fiscalização. É o mesmo processo usado hoje com o cruzamento de dados da CPMF.
Fisch afirmou que o novo
método é tão eficiente quanto a
CPMF, mas evitou comentar as
ameaças da equipe econômica
de que o governo perderia dinheiro ao deixar de fiscalizar os
contribuintes. Ele lembrou
que, com cruzamento de informações entre a CPMF e a declaração do IR, o fisco conseguiu autuar 20 mil contribuintes (pessoas físicas e jurídicas),
que tinham sonegado IR nos
últimos seis anos. Neste período, foram recuperados para os
cofres públicos R$ 43 bilhões.
O decreto da Receita determina que os bancos passem as
informações sobre movimentação em conta corrente e poupança a cada seis meses. Todas
as operações de depósito, saques, pagamentos e transferências serão consideradas, inclusive o uso de cheques, cartões
de débito e DOCs. A Receita espera receber, no mínimo, informações sobre 25 milhões de
pessoas físicas -esse é número
de contribuintes que declarou
IR neste ano.
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