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REVIRAVOLTA
Em ata, diretoria do BC diz que situação atual recomenda cautela
Temor de volta da inflação levou BC a manter os juros
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A preocupação com o aumento
da inflação foi o motivo apresentado ontem pelo Banco Central
para a manutenção da taxa de juros em 16,5% ao ano. Ainda que
admita não ser possível dizer se a
alta dos preços é ou não temporária, o BC diz que a atual situação
recomenda maior "cautela" na
condução da política monetária.
A explicação consta na ata da última reunião do Copom (Comitê
de Política Monetária do BC),
que, na semana passada, manteve
inalterados os juros básicos da
economia. A decisão foi criticada
por empresários e políticos.
Em dezembro, o IPCA (Índice
de Preços ao Consumidor Amplo) registrou alta de 0,52%, contra 0,34% registrado em novembro. O chamado núcleo de inflação -que desconsidera tarifas
públicas e preços de alimentos-
também subiu, de 0,40% para
0,63%. O documento diz que a alta "pode significar apenas um
evento isolado, provocado por
motivos sazonais ou extraordinários, ou prenunciar uma aceleração persistente da inflação".
O BC justifica sua cautela dizendo que as projeções para a inflação neste primeiro trimestre subiram, de 1,51% para 1,61%. Com isso, a margem de manobra para o
cumprimento da meta deste ano
se reduziria. A pesquisa feita pela
FGV (Fundação Getúlio Vargas)
que apontava a intenção dos empresários em reajustar seus preços também é citada com um sinal de pressão inflacionária.
O documento diz que, se os juros permanecerem em 16,5% ao
ano e se a cotação do dólar se estabilizar ao redor de R$ 2,84, a inflação de 2004 ficará abaixo dos
5,5% fixados pela meta (que prevê
tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo).
Ainda assim, o BC afirma que
"existe uma possibilidade concreta de que a inflação volte a se desviar da trajetória de metas". A
projeção de inflação do BC para o
ano não é citada. Uma das fontes
de pressão seria a alta do preço
dos combustíveis no mercado externo, que fez com que a estimativa de reajuste para o gás de cozinha subisse de 3,5% para 10%.
A manutenção dos juros em níveis elevados encarece o crédito,
desestimulando o consumo e os
investimentos. Nesse cenário, a
economia tende a desacelerar, favorecendo o controle dos preços.
O economista Fernando Cardim, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de janeiro), defende
que, quando identificada a possibilidade de aumento da inflação,
o governo lance mão de outros
instrumentos, além dos juros, para conter a alta dos preços.
Uma possibilidade, segundo ele,
seria negociar com sindicatos e
associações empresariais para
que pressões inflacionárias não se
transformem em reajustes excessivos de preços e salários. "Não há
respostas simples ou seguras, mas
a opção do governo tem sido pelo
"status quo", e isso não oferece
perspectivas muito brilhantes",
diz Cardim.
A ata da reunião do Copom, porém, diz que a decisão de manter
os juros não impedirá a retomada
do crescimento prometida pelo
governo para este ano. "Entendeu-se que a maior cautela na
condução da política monetária
neste momento não acarretaria
riscos significativos para o processo de recuperação da atividade", diz o documento.
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