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BENJAMIN STEINBRUCH
Demolidor de expectativas
O PAC, apesar de todas as ressalvas, é um criador
de boas expectativas.
O BC, um demolidor
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HAVIA DECIDIDO não escrever
sobre o PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento), porque, embora sua linha mestra siga o caminho correto, do estímulo ao investimento, seria necessário alinhar críticas específicas ao pacote. Imaginei, então, ser melhor
não comentar o assunto, uma vez
que as críticas podem aborrecer pessoas bem-intencionadas, envolvidas
nas últimas semanas na elaboração
de medidas para levar o país ao crescimento econômico mais rápido.
Mas um fato ocorrido na quarta-feira não pode passar em brancas nuvens.
O que é o PAC? Em primeiro lugar, é um esforço para juntar em um
único cesto projetos de investimento espalhados pelo país e apoiá-los
no âmbito do governo, nas estatais e
na iniciativa privada. Saiu dessa junção o número mágico de meio trilhão de reais, a soma dos investimentos previstos até 2010.
Em segundo lugar, o PAC prevê
reduções pontuais de impostos em
setores como construção, infra-estrutura, semicondutores, microcomputadores, TV digital e perfis de aço.
Em terceiro, estabelece regras para o reajuste dos salários dos servidores públicos e do salário mínimo
nos próximos quatro anos.
Olhando para as medidas práticas,
esses são os três pilares do programa. O primeiro foi criticado porque
muitos investimentos listados já
eram previstos. A crítica é válida.
Mas deve-se considerar que o fato
de estar previsto não garante a realização de nenhum investimento.
Quem já comandou grandes empreendimentos sabe quão variados
são os entraves legais, burocráticos e
ambientais que normalmente emperram as obras. Por isso, têm muita
importância a intenção de realizar
esses investimentos e o empenho
gerencial para executá-los.
As críticas mais consistentes ao
PAC referem-se à segunda linha
mestra do plano, na área fiscal. As
reduções de impostos previstas são
incapazes de provocar efeitos na
economia como um todo. Em 2007,
a renúncia fiscal somará apenas R$
1,4 bilhão. Como o governo incluiu
na lista desonerações tributárias
anunciadas anteriormente, o valor
sobe para R$ 6,6 bilhões.
Além disso, o PAC deixou de lado
o principal problema fiscal do país, o
déficit da Previdência, que será discutido em um fórum. O déficit anual
da Previdência, que era de R$ 9,6 bilhões em 1999, início do segundo governo FHC, subiu para R$ 17,1 bilhões em 2002. No primeiro ano de
Lula (2003), saltou para R$ 26,4 bilhões, e, no ano passado, para R$ 46
bilhões.
Concordo com o argumento de
que o pacote não apresenta estratégia clara de combate à expansão dos
gastos correntes. Um projeto de lei
que aparentemente limita o aumento de despesas com os salários do
funcionalismo ainda terá de ser discutido no Congresso para eventualmente vigorar em 2008.
Apesar de todas essas críticas, o
PAC merece apoio. Mesmo com falhas, o programa explicita pela primeira vez em muitos anos uma intenção do governo de colocar a economia em crescimento, em linha com outros emergentes. O que não
se pode aceitar é o que ocorreu na
quarta-feira, dois dias depois do lançamento do PAC, quando o Banco
Central fez uma nítida provocação
ao reduzir a taxa básica de juros em
apenas 0,25 ponto percentual.
A decisão foi tomada, segundo nota do BC, "diante das incertezas associadas ao mecanismo de transmissão da política monetária e considerando que os efeitos das reduções desde setembro de 2005 ainda
não se refletiram integralmente na
economia". Em outras palavras: como o BC não sabe direito o que vai
acontecer na economia, por via das
dúvidas, reduz o corte de juros.
Até os mais ortodoxos analistas
acham que havia e há amplas condições conjunturais para um corte de
0,50 ponto. Baixaram as expectativas do mercado sobre a inflação, caíram um pouco mais as cotações do
dólar e das commodities, inclusive o
petróleo, e persistem as previsões de
boa safra agrícola.
A decisão do BC, portanto, é tecnicamente duvidosa e politicamente
desastrosa. Reflete comportamento
conservador, medroso e, agora, também provocativo, porque conflita
frontalmente com a orientação política do pacote.
O PAC, apesar de todas as ressalvas, é um criador de boas expectativas. O BC, um demolidor.
BENJAMIN STEINBRUCH , 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do
conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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