São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 2007

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"Spread" não acompanha queda dos juros

Ano passado fecha com taxa média no menor nível da série do BC, em 39,8%, contra 45,9% em dezembro de 2005

Mas diferença cobrada pelo banco entre captação dos recursos e empréstimo a clientes cai menos e impede um recuo maior dos juros

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros cobrados pelos bancos encerraram 2006 em queda, no nível mais baixo desde que começou o levantamento do Banco Central, em 2000.
Mas eles ainda estão longe de atingir um nível que possa ser considerado baixo por pessoas e empresas que precisam de um empréstimo. Segundo pesquisa feita pelo BC, a taxa média cobrada pelos bancos caiu de 41% ao ano para 39,8% entre novembro e dezembro últimos. Em dezembro de 2005 estava em 45,9%.
Apesar da queda, os juros ainda são altos para os tomadores: uma pessoa que toma um empréstimo de R$ 1.000 a uma taxa de 39,8% ao ano pelo prazo de três anos terá pago, no período, só de juros R$ 1.732 -quase duas vezes o valor do crédito inicial.
Os financiamentos são mais caros para pessoas físicas, segmento em que o risco de calote é maior. Nesses caso, a taxa média cobrada pelos bancos chegou a 52,1% ao ano no mês passado -também o nível mais baixo já registrado pela série estatística. Para empresas, os juros ficaram em 26,2% ao ano.
"Houve uma redução pronunciada em relação a anos anteriores, mas ainda são taxas bastante elevadas", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
O economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Edgard Pereira, afirmou que o alto custo do crédito no Brasil já não é um grande problema para as empresas, pois hoje isso é amenizado por opções como os empréstimos do BNDES e os lançamentos de ações.
Para Pereira, o problema dos juros altos é que eles desestimulam o consumo, o que acaba freando também os investimentos. "É preciso uma redução maior da taxa Selic. Os juros altos comprimem o nível de atividade, o que reduz o retorno esperado dos projetos de investimentos", disse Pereira.
A taxa Selic é fixada periodicamente pelo BC e serve de parâmetro para as operações feitas pelos bancos. Entre setembro de 2005 e dezembro de 2006, ela caiu de 19,75% ao ano para 13,25% -na semana passada, foi reduzida para 13%.
No mesmo período, os juros bancários caíram de 48,1% ao ano para 39,8%. A queda não foi maior porque a redução da Selic não foi acompanhada por uma queda semelhante no chamado "spread" bancário.
"Spread" é o nome dado à diferença entre os juros que os bancos pagam para captar dinheiro no mercado e a taxa efetivamente cobrada nos empréstimos aos clientes. Entre setembro de 2005 e dezembro de 2006, esse "spread" caiu de 29,3 pontos percentuais para 27,2 pontos.
Isso significa que, pelos dados de dezembro, 27,2 pontos percentuais dos juros de 39,8% ao ano cobrado pelos bancos se referiam ao "spread". O "spread" é usado pelos bancos para cobrir seus custos -despesas administrativas, pagamento de impostos e perdas com inadimplência- e para reforçar seus lucros.
Para o BC, a explicação para a relativa estabilidade no "spread" pode estar no aumento da inadimplência. "Talvez por força da inadimplência, o "spread" não tenha caído tanto", afirmou Lopes. Em dezembro de 2005, 4,2% dos empréstimos concedidos pelos bancos apresentavam atraso de pelo menos 90 dias nos seus pagamentos.


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