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"Spread" não acompanha queda dos juros
Ano passado fecha com taxa média no menor nível da série do BC, em 39,8%, contra 45,9% em dezembro de 2005
Mas diferença cobrada pelo banco entre captação dos recursos e empréstimo a clientes cai menos e impede um recuo maior dos juros
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os juros cobrados pelos bancos encerraram 2006 em queda, no nível mais baixo desde que começou o levantamento
do Banco Central, em 2000.
Mas eles ainda estão longe de
atingir um nível que possa ser
considerado baixo por pessoas
e empresas que precisam de
um empréstimo. Segundo pesquisa feita pelo BC, a taxa média cobrada pelos bancos caiu de 41% ao ano para 39,8% entre
novembro e dezembro últimos.
Em dezembro de 2005 estava
em 45,9%.
Apesar da queda, os juros
ainda são altos para os tomadores: uma pessoa que toma um
empréstimo de R$ 1.000 a uma
taxa de 39,8% ao ano pelo prazo
de três anos terá pago, no período, só de juros R$ 1.732 -quase
duas vezes o valor do crédito
inicial.
Os financiamentos são mais
caros para pessoas físicas, segmento em que o risco de calote
é maior. Nesses caso, a taxa média cobrada pelos bancos chegou a 52,1% ao ano no mês passado -também o nível mais
baixo já registrado pela série
estatística. Para empresas, os
juros ficaram em 26,2% ao ano.
"Houve uma redução pronunciada em relação a anos anteriores, mas ainda são taxas
bastante elevadas", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
O economista-chefe do Iedi
(Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial),
Edgard Pereira, afirmou que o
alto custo do crédito no Brasil
já não é um grande problema
para as empresas, pois hoje isso
é amenizado por opções como
os empréstimos do BNDES e os
lançamentos de ações.
Para Pereira, o problema dos
juros altos é que eles desestimulam o consumo, o que acaba
freando também os investimentos. "É preciso uma redução maior da taxa Selic. Os juros altos comprimem o nível de
atividade, o que reduz o retorno
esperado dos projetos de investimentos", disse Pereira.
A taxa Selic é fixada periodicamente pelo BC e serve de parâmetro para as operações feitas pelos bancos. Entre setembro de 2005 e dezembro de
2006, ela caiu de 19,75% ao ano
para 13,25% -na semana passada, foi reduzida para 13%.
No mesmo período, os juros
bancários caíram de 48,1% ao
ano para 39,8%. A queda não foi
maior porque a redução da Selic não foi acompanhada por
uma queda semelhante no chamado "spread" bancário.
"Spread" é o nome dado à diferença entre os juros que os
bancos pagam para captar dinheiro no mercado e a taxa efetivamente cobrada nos empréstimos aos clientes. Entre
setembro de 2005 e dezembro
de 2006, esse "spread" caiu de
29,3 pontos percentuais para
27,2 pontos.
Isso significa que, pelos dados de dezembro, 27,2 pontos
percentuais dos juros de 39,8%
ao ano cobrado pelos bancos se
referiam ao "spread". O
"spread" é usado pelos bancos
para cobrir seus custos -despesas administrativas, pagamento de impostos e perdas
com inadimplência- e para reforçar seus lucros.
Para o BC, a explicação para a
relativa estabilidade no
"spread" pode estar no aumento da inadimplência. "Talvez
por força da inadimplência, o
"spread" não tenha caído tanto",
afirmou Lopes. Em dezembro
de 2005, 4,2% dos empréstimos concedidos pelos bancos
apresentavam atraso de pelo
menos 90 dias nos seus pagamentos.
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