São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 2007

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ANÁLISE

Crédito ainda é inferior ao de emergentes

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os indicadores de crédito em 2006 foram bons. Caíram as taxas de juros e empresas e consumidores tiveram acesso a mais crédito do que em 2005. A relação entre o total de crédito e o PIB chegou a 34%, maior cifra desde 1996.
Nenhuma economia cresce sem crédito. A anemia desses indicadores no Brasil foi sempre apontada como um dos grandes nós que impediam o crescimento. Mas, se é verdade que os indicadores de 2006 são positivos e que eles sinalizam que a economia brasileira vai em direção à normalidade, eles também mostram que ainda estamos longe de atingi-la.
Não é só o juro muito alto -o Brasil tem uma das maiores taxas reais do planeta- que torna o Brasil anormal no campo do crédito. Empréstimos e financiamentos precisam crescer muito ainda para que o volume de crédito se aproxime dos níveis internacionais.
Enquanto por aqui a relação entre crédito e PIB ronda os 34%, ela é de mais de 60% no Chile, de quase 100% na Coréia do Sul, mais de 120%, em média, nos países de G7 e superior a 120% nos EUA.
Com a queda dos juros por aqui, os bancos tendem a trocar o investimento em títulos públicos por crédito e investimento em papéis privados. Mas a estratégia das instituições financeiras é também de cautela. Crescimento rápido do crédito pode não ser seguro e, agora, todo o terreno de crescimento passa a ser inédito. Na prática, ninguém sabe como se comportará a inadimplência à medida que o volume de crédito alcance níveis recordes.
Por um lado, uma das barreiras ao crescimento do crédito, as altas taxas básicas de juros, tem sido diluída, ainda que devagar. Mas bancos e analistas apontam outros problemas que impedem crescimento mais vigoroso do crédito, por um lado, e queda das taxas de juros na ponta, por outro.

Impostos
Os impostos que incidem sobre as operações financeiras, a chamada cunha fiscal, são um dos obstáculos à queda do juro final. A inadimplência, outro.
Os bancos também apontam para o que os economistas chamam de "insegurança jurisdicional", jargão para dizer que é difícil recuperar crédito no Brasil. O crédito com desconto em folha, dizem, é mais barato justamente por eliminar parte do risco de inadimplência e, em grau menor, o risco jurídico. Resolver o problema, como no caso de quase todos os nós que "travam" a economia brasileira, passa pelas sempre mencionadas reformas.
Mas, apesar de todos os problemas, a tendência, salvo uma crise que ninguém, por enquanto, vê no horizonte, é que o crédito, tanto para pessoas físicas quanto para empresas, continue crescendo em 2007. Mas atingir os níveis já alcançados pela maioria dos emergentes não será fácil.


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