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São Paulo, domingo, 30 de março de 2003

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ATAQUE DO IMPÉRIO

MERCADO NA TRINCHEIRA

Turismo e aéreas são os mais atingidos pela guerra; American Airlines pode pedir concordata

Petróleo valorizado empurra as ações de empresas de energia

ALESSANDRA MILANEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O setor de energia dos Estados Unidos é o que mais está ganhando com a guerra. Essa é a avaliação de Michael Sheldon, estrategista-chefe da consultoria americana Spencer Clarke.
Do dia 21 de março até a sexta-feira passada, das dez empresas que tiveram maior valorização no índice Standard & Poor's 500, que reúne as 500 principais empresas americanas, quatro -El Paso, Calpine, Dynegy e Allegheny Energy- são do setor.
Fernando Ferreira, sócio-diretor da consultoria Global Invest, adverte, no entanto, que o setor de energia está muito vulnerável, porque falta investimento. "Acho que é um investimento interessante no momento, mas não é isso que vai fazer a economia andar."
Para Sheldon, enquanto o preço do barril de petróleo não cair para algo entre US$ 20 e US$ 25, o setor de energia vai continuar atraindo investidores.
"A percepção do mercado era que, quando a guerra no Iraque estourasse, os preços do petróleo cairiam significativamente", afirma o analista. "No entanto, os fatos são bem diferentes. O barril chegou a ser cotado abaixo de US$ 30, mas agora voltou a ficar num patamar superior, o que faz os investidores voltarem seus olhos para o setor novamente."
Os papéis que mais se valorizaram no período, no entanto, foram de uma empresa do setor de seguros de saúde: a Unum Providence Corp (38,4%).
Sheldon diz que essa é outra área que não deve ser muito abalada pelo conflito no Iraque. "Os ganhos das companhias de seguros são menos dependentes do crescimento da economia, e a tendência de gastos com seguros de saúde tem sido muito positiva nos últimos anos", diz Sheldon.

Quem perde
Entre os setores que mais viram seus papéis se desvalorizarem no índice S&P, dois se destacam: companhias aéreas, que tiveram desvalorização de 8,52%, e o setor de turismo, cujos papéis perderam 8,13% de seu valor.
De acordo com Sheldon, as perspectivas para as companhias aéreas, que já não eram boas, se agravaram ainda mais.
"É possível que a maior companhia aérea dos Estados Unidos [a American Airlines" peça concordata na próxima semana", afirma o analista. "Essa seria a quarta companhia aérea a pedir concordata nos últimos anos. O setor já vinha com dificuldades, que só foram agravadas agora."
Ferreira ressalta que, nos Estados Unidos, a variação no mercado de ações é muito mais determinada pelos resultados que a empresa divulga do que pelas ações do governo em relação à política monetária. "Se a empresa divulga que o lucro para os próximos meses vai ser 20% menor, o investidor derruba o preço da ação em 20% no dia seguinte. O investidor quer manter a relação preço-lucro."

Indústria bélica
No dia seguinte ao discurso do presidente americano, George W. Bush, no dia 18 deste mês, em que deu ao ditador iraquiano Saddam Hussein 48 horas para deixar o país, as ações do setor de defesa e aeroespacial tiveram leve alta (0,8%). Nas duas últimas semanas, os papéis do setor se valorizaram em 3,1%.
Sheldon diz, no entanto, que as ações da indústria de armamentos tiveram seu pico de alta em julho de 2002. "Elas tiveram uma alta nas últimas semanas, mas, em relação há um ano, apresentaram queda."
Para Ferreira, o pós-guerra só deve trazer crescimento para a economia mundial se o preço do petróleo cair.
"Sou absolutamente reticente em aceitar essas teorias de crescimento com gastos na indústria de armamentos. Essa é uma tese antiga", afirmou o economista. "Em épocas de grandes guerras, em que está todo mundo investindo em armamentos, é óbvio que tem efeitos, mas não numa guerra pontual como essa."

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