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OPINIÃO ECONÔMICA
Seis por meia dúzia?
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Seis por meia dúzia? Não
creio. Parece boa a escolha de
Guido Mantega para a Fazenda.
Trata-se de um técnico com vivência política e experiência de
governo. Como ministro do Planejamento e depois como presidente do BNDES, cercou-se de
uma equipe de economistas competentes. Por formação, Mantega
é de orientação desenvolvimentista e foi crítico da linha que prevaleceu no período Malan-Palocci.
Não haverá grandes mudanças
na gestão da economia brasileira,
é claro. Durante mais de três anos
de governo, o presidente Lula
manteve as linhas fundamentais
da política macroeconômica. Não
será agora, a poucos meses da
campanha e das eleições, que ele
se disporá a correr o risco de uma
guinada nessa área tão delicada.
O novo ministro da Fazenda não
tem projeto político próprio, é um
homem da confiança do presidente, trabalha diretamente com
ele há muitos anos e seguirá à risca as suas orientações. Nada fará
para tumultuar o ambiente e
atrapalhar o objetivo central do
presidente da República, que é
obter um segundo mandato.
Sintomática (e previsível) foi a
preocupação em garantir a continuação do presidente e, provavelmente, do resto da diretoria do
Banco Central. O famigerado Copom (Comitê de Política Monetária do BC) deve sobreviver basicamente intacto. Depois da traumática saída do ministro Palocci, o presidente Lula não tem interesse
em promover modificações importantes no BC. Com isso, grande parte (a pior, infelizmente) da
política macroeconômica continuará como está. Não se deve esperar alterações significativas nas
políticas de juros e câmbio ou no
regime de metas para a inflação.
Haverá, entretanto, renovação
no Ministério da Fazenda. Esse
ministério precisa mesmo ser arejado. A equipe do ex-ministro Palocci era dominada por um conservadorismo tacanho e por uma
visão demasiado estreita das
questões econômicas. Com a saída do vice-ministro, Murilo Portugal, do secretário do Tesouro,
Joaquim Levy (prevista antes da
queda de Palocci), e de outros assessores, o novo ministro dará,
imagino, nova configuração ao
Ministério da Fazenda. Não acredito que venha a ter dificuldade
de encontrar nomes adequados.
O ministro Palocci caiu, como se
sabe, por razões extra-econômicas. Mas não se deve perder de
vista que a sua política econômica estava perdendo apoio e prestígio, dentro e fora do governo. A
razão principal é o pífio crescimento da economia brasileira,
bem inferior ao do resto do mundo e, em especial, ao dos demais
países emergentes.
Na verdade, já vinham ocorrendo mudanças pontuais nos meses
finais da gestão Palocci, provavelmente por insistência do presidente da República, preocupado
em criar um ambiente mais favorável às suas pretensões eleitorais
em termos de atividade produtiva
e geração de emprego e renda. Assim, tivemos, por exemplo, um
aumento mais significativo do salário mínimo em termos reais,
uma redução da Taxa de Juros de
Longo Prazo (TJLP) e concessões
fiscais e creditícias para alguns setores. Aparentemente, já estava
estabelecido que, em 2006, o superávit fiscal primário ficará próximo à meta oficial (4,25% do PIB)
-e não muito acima dela como
nos anos recentes.
A flexibilização cautelosa deverá continuar. Mantega e sua
equipe seguirão essa linha com
mais satisfação e convicção. Propostas bisonhas ou mirabolantes,
como a redução unilateral de alíquotas de importação ou a adoção de ambiciosos planos fiscais
de longo prazo, serão arquivadas,
como já indicou o novo ministro
da Fazenda nas suas primeiras
declarações.
A diretoria do Banco Central
sobrará como último reduto da
ortodoxia de galinheiro.
Paulo Nogueira Batista Jr., 50, economista e professor da FGV-EAESP, escreve
às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).
E-mail - pnbjr@attglobal.net
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