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Sem rumo, Cesp se torna sombra da Cemig e da Copel
Criada em 1966, empresa que construiu parte do parque gerador brasileiro não instala uma nova turbina há 5 anos
Receita da Cesp equivale a 21% do que fatura a Cemig e a 40% das vendas da Copel; empresa responde por 10% da energia gerada no país
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Com vendas equivalentes a
21% do faturamento da Cemig e
a 40% da receita da Copel, a
Cesp (Companhia Energética
de São Paulo) é hoje apenas
uma sombra entre as principais
empresas estaduais de energia
do país. Dentre as três, foi a única a ser dividida em várias partes para ser privatizada. A empresa responde hoje por 10% da
geração de energia no país.
Cemig e Copel mantiveram o
modelo integrado, com geração, transmissão e distribuição
de energia e agora se preparam
para o chamado segundo tempo de aquisições no setor elétrico nacional.
Entre os alvos futuros, estão
a Brasiliana, controlada pela
BNDESPar, e os leilões para os
aproveitamentos hidrelétricos
na região amazônica, como Jirau, no rio Madeira, e Belo
Monte, no rio Xingu. A Cesp,
por ora, está fora dessa nova rodada de consolidação, seja como compradora seja como alvo.
A atual falta de perspectiva
da Cesp foi confirmada na última terça-feira, quando nenhum dos cinco grupos pré-identificados para a participação do leilão de privatização
dos ativos remanescentes da
estatal apresentou as garantias
financeiras exigidas no edital
de venda.
Criada em 1966 e responsável por parte importante dos
investimentos em expansão do
parque hidrelétrico nacional, a
Cesp como empresa entrou
num período de incertezas.
Depois da derrota, o governo
José Serra (PSDB) preferiu não
alimentar as discussões sobre o
futuro da estatal. A Folha procurou a Secretaria da Fazenda
(organizadora do processo de
privatização), a Secretaria de
Energia e a própria Cesp, ao
longo da semana, para saber
quais opções passam a ser avaliadas a partir de agora. A resposta foi a de que não há nenhum pronunciamento a ser
feito no momento. Ao que parece, nem o Estado sabe o que
fazer com a Cesp.
Com 1.300 funcionários responsáveis por operar e manter
as seis usinas, a Cesp parou no
tempo. A última turbina instalada pela companhia, na usina
Porto Primavera, começou a
gerar energia em 2003. De lá
para cá, nenhum outro projeto
de peso ocupou os 190 engenheiros da companhia -já foram mais de 500 nos anos 90.
A própria usina Porto Primavera, com 14 máquinas em operação, tem mais quatro espaços
abertos prontos para a instalação de novas turbinas. Não é a
única. A usina Três Irmãos, localizada no rio Tietê, pode ser
ampliada em mais três turbinas. "Enquanto Copel e Cemig
projetam expansões, a Cesp vai
perdendo a capacidade técnica
que construiu, vai definhando",
diz um engenheiro da empresa
ouvido pela Folha.
Às compras
Controlada pelo governo Aécio Neves (PSDB), a Cemig se
prepara para investir até R$ 4
bilhões neste ano. Isso inclui a
participação como minoritária
no consórcio que disputará a
usina Jirau e a Brasiliana.
Para Luiz Fernando Rolla, diretor de finanças, relações com
investidores e participações da
Cemig, o plano de expansão da
companhia decorreu de uma
escolha anos atrás.
"O desempenho da Cemig
decorre de um planejamento
estratégico que visualizava um
cenário do mercado brasileiro
de energia. Acho que o resultado hoje demonstra que acertamos naquela avaliação", diz.
Ao contrário do que acreditou o governo de São Paulo, o
cenário previa a necessidade e a
consolidação -e não a fragmentação- das companhias de
energia.
O plano previa também o desenvolvimento do mercado de
capitais, uma fonte de recursos
importante para novas aquisições. Os planos de governança
corporativa ajudaram a tirar o
estigma da má gestão de companhias estatais, e novos investidores aceitaram comprar papéis dessas empresas. A Cemig,
nos últimos anos, comprou a
Light, no Rio de Janeiro, e a usina Rosal, do grupo Rede.
"Investimos R$ 1 bilhão em
recursos próprios na primeira
fase de consolidação do setor.
Agora, acredito que os investimentos serão muito maiores",
explica Rolla.
A previsão da Cemig é que,
em cinco anos, seis ou sete
grandes grupos dominarão o
setor elétrico brasileiro. A Cemig detém hoje 7% da geração
nacional e quer alcançar 15%
em cinco anos.
Em distribuição, detém 12%
do mercado nacional. Até na
transmissão de energia o plano
é crescer. Projetos arrematados na região Norte podem assegurar agora alguma vantagem na disputa nas concessões
de novas usinas na Amazônia.
Majoritária
A Cemig leva pequena vantagem em relação à Copel. A companhia tem mandado para fechar parcerias em que pode ser
minoritária.
A companhia paranaense
tem um limite nesse quesito.
Segundo Rubens Ghilardi, diretor-presidente da Copel, a empresa precisa de autorização
especial do Legislativo para ser
minoritária em um negócio.
Companhia de geração, distribuição e pequena participação em transmissão, a Copel
tem planos inclusive no setor
de telefonia. Testa, neste momento, um sistema que permitirá implantar uma rede de
transmissão de voz e dados via
infra-estrutura de fibra ótica e
na própria rede de distribuição.
No setor de energia, a Copel
negocia, neste momento, um
consórcio com a Tractebel para
disputar a usina de Jirau. A empresa tem projetos de investimento de R$ 2 bilhões para a
construção de uma hidrelétrica
na região de Londrina (PR) e a
montagem de um parque térmico baseado em biomassa.
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