São Paulo, domingo, 30 de março de 2008

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Ação do governo prejudica economia, diz Marcos Lisboa

Para ex-secretário de Política Econômica, alta de juros é melhor arma contra inflação

Medidas adotadas neste ano vão na contramão do crescimento, pois elevam o custo de captação para as empresas, afirma Lisboa

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

O economista Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica do governo e atualmente diretor-executivo do Unibanco, tem manifestado preocupação com as freqüentes intervenções da Fazenda na economia. Ele acha que medidas como a do aumento do IOF, em janeiro, vão na direção oposta à pretendida.
Responsável pelas principais reformas microeconômicas na primeira gestão Lula (2003/6), Lisboa acha arriscado o governo tentar medidas opcionais à política monetária para desacelerar a economia. Para ele, o melhor instrumento para combater a inflação sem comprometer o crescimento é aumentar os juros. "A vantagem da política monetária é que ela permite o ajuste de curto prazo sem comprometer a capacidade de crescimento no longo prazo." A seguir, os principais trechos da entrevista.

 

FOLHA - O governo tem adotado medidas corretas para enfrentar a crise e o risco da inflação?
MARCOS LISBOA
- No momento atual, em que o mundo enfrenta uma crise de liquidez, o governo tem tomado medidas que acabam tendo efeitos negativos sobre a economia. Um exemplo foram as medidas de aumento do IOF nos últimos meses.
Tanto a medida com intenção de apenas repor o fim da CPMF como a mais recente, que procurava aumentar o custo da entrada de recursos de curto prazo, acabaram tendo o efeito colateral de encarecer o custo de captação das empresas. São medidas que vão na contramão não só do crescimento mas também da atitude mais prudencial em um momento em que há uma séria crise de liquidez no mercado externo, com o conseqüente aumento do custo de captação e a redução dos prazos dos recursos disponíveis. É verdade que não houve nenhuma medida com impacto muito sério até agora, mas preocupa o fato de que as adotadas venham na direção contrária do momento internacional. Preocupa que haja tamanha dissonância cognitiva nas medidas: o discurso numa direção e as conseqüências práticas, em vários casos, em outra.

FOLHA - A Fazenda está equivocada nas medidas adotadas?
LISBOA
- Acho que o momento atual desperta alguma ansiedade, mas é preciso haver cuidado para não tomar medidas que vão na direção oposta à pretendida. Às vezes, fica a impressão de que uma parte do governo estaria tentando medidas opcionais à política monetária para desacelerar a economia, e isso não é bom. É preocupante quando o governo começa a fragilizar a capacidade de crescimento da economia por um eventual problema de curto prazo. A maior parte dos países utiliza a taxa básica de juros para lidar com inflação por uma razão simples: é o melhor instrumento para combater a inflação sem afetar a capacidade de crescimento no longo prazo.


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