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Ação do governo prejudica economia, diz Marcos Lisboa
Para ex-secretário de Política Econômica, alta de juros é melhor arma contra inflação
Medidas adotadas neste ano vão na contramão do crescimento, pois elevam o custo de captação para as empresas, afirma Lisboa
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O economista Marcos Lisboa, ex-secretário de Política
Econômica do governo e atualmente diretor-executivo do
Unibanco, tem manifestado
preocupação com as freqüentes
intervenções da Fazenda na
economia. Ele acha que medidas como a do aumento do IOF,
em janeiro, vão na direção
oposta à pretendida.
Responsável pelas principais
reformas microeconômicas na
primeira gestão Lula (2003/6),
Lisboa acha arriscado o governo tentar medidas opcionais à
política monetária para desacelerar a economia.
Para ele, o melhor instrumento para combater a inflação sem comprometer o crescimento é aumentar os juros. "A
vantagem da política monetária é que ela permite o ajuste de
curto prazo sem comprometer
a capacidade de crescimento no
longo prazo." A seguir, os principais trechos da entrevista.
FOLHA - O governo tem adotado
medidas corretas para enfrentar a
crise e o risco da inflação?
MARCOS LISBOA - No momento
atual, em que o mundo enfrenta uma crise de liquidez, o governo tem tomado medidas que
acabam tendo efeitos negativos
sobre a economia. Um exemplo
foram as medidas de aumento
do IOF nos últimos meses.
Tanto a medida com intenção
de apenas repor o fim da CPMF
como a mais recente, que procurava aumentar o custo da entrada de recursos de curto prazo, acabaram tendo o efeito colateral de encarecer o custo de
captação das empresas. São
medidas que vão na contramão
não só do crescimento mas
também da atitude mais prudencial em um momento em
que há uma séria crise de liquidez no mercado externo, com o
conseqüente aumento do custo
de captação e a redução dos
prazos dos recursos disponíveis. É verdade que não houve
nenhuma medida com impacto
muito sério até agora, mas
preocupa o fato de que as adotadas venham na direção contrária do momento internacional. Preocupa que haja tamanha dissonância cognitiva nas
medidas: o discurso numa direção e as conseqüências práticas, em vários casos, em outra.
FOLHA - A Fazenda está equivocada nas medidas adotadas?
LISBOA - Acho que o momento
atual desperta alguma ansiedade, mas é preciso haver cuidado
para não tomar medidas que
vão na direção oposta à pretendida. Às vezes, fica a impressão
de que uma parte do governo
estaria tentando medidas opcionais à política monetária para desacelerar a economia, e isso não é bom. É preocupante
quando o governo começa a
fragilizar a capacidade de crescimento da economia por um
eventual problema de curto
prazo. A maior parte dos países
utiliza a taxa básica de juros para lidar com inflação por uma
razão simples: é o melhor instrumento para combater a inflação sem afetar a capacidade
de crescimento no longo prazo.
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