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CRISE NO AR
Presidente da FRB-par diz não aceitar participação de só 5% na nova empresa e que tem proposta de investidor brasileiro
Controlador da Varig critica modelo de fusão
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A fusão da Varig com a TAM
não será votada hoje pelos 220
membros do colégio deliberante
da Fundação Ruben Berta, dona
da Varig. Quem diz é o presidente
da FRB-par (holding da Varig),
Gilberto Rigoni, 67. A declaração
é um balde de água fria em muita
gente que acreditava no fim da
polêmica, como o banco Fator.
Rigoni afirma que o Fator quer
limitar a participação da fundação na nova companhia em 5%, o
que considera injusto. Já o percentual da TAM não está definido, garante.
O executivo, que iniciou a carreira na Varig há 52 anos como
auxiliar de escritório, diz que a
reunião no Rio deve dar apenas
continuidade às negociações sobre a fusão. Ele diz não ser contra
a fusão, mas acredita também na
proposta de investimento de um
grupo brasileiro, com sede em
Santana do Parnaíba (SP).
A proposta foi fechada no dia 24
de abril, em Lisboa. O grupo assumiria a dívida da Varig com investimentos de 1,5 bilhão, provenientes de uma empresa sediada em Luxemburgo, um paraíso
fiscal. Ele afirma que o negócio é
limpo e não tem relação nenhuma
com lavagem de dinheiro.
Em entrevista concedida ontem
à Folha, Rigoni afirmou que a Varig pode deixar de ser uma empresa que pode ser "tomada" pela
TAM e virar as regras do jogo. Declarou não temer o endurecimento do governo para que a fusão
saia de fato.
Folha - O acordo de fusão da Varig com a TAM será assinado na assembléia do colégio deliberante da
Fundação Ruben Berta?
Gilberto Rigoni - Não. Até agora
não se tem números concretos sobre alguns percentuais para a fusão. Ficou estabelecido [via banco
Fator] que a Fundação Ruben
Berta teria 5% da nova empresa.
Entendemos que essa participação não pode ser definida como
5%, mas a partir de 5%. Tem de
ser de 5% para cima. Sabemos
muito pouco da TAM. Não foi,
por exemplo, definido quanto ela
teria da nova empresa. A TAM
não forneceu todos os elementos
que permitam saber o que efetivamente existe lá dentro. Então, o
que faremos na assembléia do colégio deliberante é dar o encaminhamento da modelagem da fusão. A discussão sobre o contrato
de fusão terá de ser objeto de profunda análise. Ela deve demorar
pelo menos uns 20 a 30 dias.
Folha - Não se votará, portanto, o
contrato de fusão com a TAM na assembléia?
Rigoni - Em hipótese nenhuma.
Será votado o encaminhamento
da modelagem. Não sei se o Fator
apresentará os percentuais de
participação de cada empresa na
nova companhia. Ainda não temos as informações necessárias
para formular o contrato. As informações que temos sobre a
TAM são insuficientes, para ser
bem genérico.
Folha - O Fator apresentou o percentual que a TAM teria na nova
empresa?
Rigoni - Não, ninguém definiu
ainda. Eles querem 5% para a
Fundação Ruben Berta, mas não
definiram quanto a TAM teria.
Eles [o Fator" afirmam que dependem dos dados sobre a participação dos credores etc.
Folha - Quer dizer que foi definido o percentual de 5% para a fundação, mas não a participação da
TAM?
Rigoni - Exato. Agora, entendemos que só depois que soubermos a participação dos credores
da Varig na nova empresa, como
o Banco do Brasil e a BR Distribuidora, além da participação do
BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], poderemos definir se a fundação deve ter 5%, 15% ou 30%.
Folha - O sr. é contra a fusão?
Rigoni - Nós da FRB-par não somos absolutamente contra nada.
Queremos que todas as propostas
sejam cautelosamente examinadas, a fim de ver o que melhor
convém para Varig e para a aviação civil brasileira. Não sou contra a fusão. Não sou contra nada.
O que defendo é que todas as propostas sejam examinadas.
Folha - O sr. tem uma proposta de
um grupo brasileiro que aceitaria
securitizar a dívida da Varig em
1,5 bilhão. Isso é melhor do que a
fusão?
Rigoni - Veja o que pode acontecer. Temos hoje uma proposta para que a fundação tenha 5% da
empresa que nasceria com a fusão
com a TAM. Você não acha que é
muito pouco? Suponha que a securitização ocorra. A Varig deixaria de ser uma empresa com saldo
devedor bastante grande para ser
uma empresa saneada. A Varig
passaria a voar em céu de brigadeiro. Com isso, o quadro atual
viraria. Deixaríamos de ser uma
empresa que segundo algumas
pessoas vale 5% da companhia
que resultaria da fusão com a
TAM para ser uma empresa sem
dívidas. Consequentemente, o valor das ações da Varig iria lá para
cima. Ficaríamos em uma situação mais privilegiada que a do
concorrente [TAM]. Poderíamos
então fazer uma coisa combinada.
Depois da securitização, se quiserem fazer a fusão com a gente, tudo bem. Só que aí nós vamos estar
em uma situação privilegiada. A
sensação é que, em vez de sermos
tomados [pela TAM], passaríamos a estar na situação inversa.
Folha - Como é essa proposta de
securitização? Por que alguém investiria 1,5 bilhão na Varig, se ela
deve US$ 800 milhões?
Rigoni - Porque vê na Varig uma
empresa viável, competente, com
nome internacional e de alta credibilidade. Que vive uma situação
temporariamente difícil, mas que
será superada. O grupo que pretende assumir a dívida da Varig
renegociaria os débitos dela com
os credores com descontos. Pediria deságio. Esse deságio representaria o lucro do grupo que faria a securitização. Claro que haveria uma dívida a ser paga pela
Varig ao grupo [que teria como
garantia 45% do capital da Varig].
Mas ela seria paga ao longo de
anos.
Folha - Esse grupo interessado na
securitização da Varig não trabalha
com lavagem de dinheiro?
Rigoni - Não. Tudo seria feito legalmente, via Banco Central. Não
há nada de irregular. Essas são as
informações que tenho. Agora,
não posso falar em nome desse
grupo. Mas as informações são
que operaria via Banco Central,
sem nada irregular.
Folha - Se a Varig vai ficar plenamente saneada com a securitização, por que então a hipótese de fazer também a fusão?
Rigoni - Acontece que existe
uma ação do governo para reorganizar a aviação civil. Não adianta pegarmos recursos da securitização para a Varig, mas daqui a
alguns anos termos novos problemas devido às dificuldades do setor de aviação. É preciso enxugar
o setor. Agora, a Varig pode fazer
a securitização e não precisar da
TAM.
Folha - O sr. não acredita que o
ministro da Defesa, José Viegas,
não ficaria profundamente irritado
com a Varig se essa fusão com a
TAM não ocorrer?
Rigoni - Não sei o que ele acharia. Mas, para o país, a securitização da Varig seria até uma forma
de ajudar o governo a resolver o
problema de aviação sem que tenha de colocar dinheiro na empresa. Isso devia ser motivo de regozijo. Um problema a menos para resolver.
Folha - O governo não pode endurecer de fato contra a Varig, se a fusão não for aprovada? Como determinar o corte no fornecimento do
querosene de aviação da BR Distribuidora?
Rigoni - Acredito piamente que
isso não vai acontecer, pois o presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, tem dito pela imprensa que a preocupação dele é
ajudar a Varig e a aviação.
Folha - O sr. apresentará na assembléia a proposta de securitização da dívida?
Rigoni - Não posso garantir isso,
pois a assembléia foi convocada
para estudar a fusão da Varig com
a TAM. Pode ser que o presidente
da Fundação Ruben Berta [Yutaka Imagawa] diga na assembléia
que existem outras opções para a
Varig que estão sendo objeto de
estudos, mas que não podem ser
apresentadas nessa assembléia. O
que não acontecerá será a votação
sobre o contrato de fusão.
Folha - Mas é isso que muita gente espera, como o banco Fator...
Rigoni - Pois é, mas não será isso
o que acontecerá.
Folha - A Varig está adiando o
acordo de fusão com a TAM?
Rigoni - O que a FRB-par quer é
que tudo esteja devidamente esclarecido. Como é que podemos
fechar um acordo sem ter elementos concretos, como a participação da TAM?
Folha - Caso a fusão ocorra, o governo passaria a ser o principal
acionista da nova empresa?
Rigoni - Depende da participação dos credores na nova empresa. A BR Distribuidora, a GE [General Electric] e outros credores
serão convidados para dizer se
têm interesse em participar da
nova empresa. Normalmente empresas como a GE e a Boeing querem receber seus créditos. Não é
de interesse delas participar de
companhias aéreas. Seu negócio é
alugar aviões, turbinas etc. É um
assunto a ser discutido.
Folha - Temos informações de
que o presidente da fundação, Yutaka Imagawa, começa a mudar de
idéia e apoiar a fusão. Confere?
Rigoni - Não estou autorizado a
falar em nome do Imagawa. Mas
conheço-o há muitos anos. Estamos atrás do que seja melhor para
a Varig.
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