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São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2003

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CRISE NO AR

Presidente da FRB-par diz não aceitar participação de só 5% na nova empresa e que tem proposta de investidor brasileiro

Controlador da Varig critica modelo de fusão

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A fusão da Varig com a TAM não será votada hoje pelos 220 membros do colégio deliberante da Fundação Ruben Berta, dona da Varig. Quem diz é o presidente da FRB-par (holding da Varig), Gilberto Rigoni, 67. A declaração é um balde de água fria em muita gente que acreditava no fim da polêmica, como o banco Fator.
Rigoni afirma que o Fator quer limitar a participação da fundação na nova companhia em 5%, o que considera injusto. Já o percentual da TAM não está definido, garante.
O executivo, que iniciou a carreira na Varig há 52 anos como auxiliar de escritório, diz que a reunião no Rio deve dar apenas continuidade às negociações sobre a fusão. Ele diz não ser contra a fusão, mas acredita também na proposta de investimento de um grupo brasileiro, com sede em Santana do Parnaíba (SP).
A proposta foi fechada no dia 24 de abril, em Lisboa. O grupo assumiria a dívida da Varig com investimentos de 1,5 bilhão, provenientes de uma empresa sediada em Luxemburgo, um paraíso fiscal. Ele afirma que o negócio é limpo e não tem relação nenhuma com lavagem de dinheiro.
Em entrevista concedida ontem à Folha, Rigoni afirmou que a Varig pode deixar de ser uma empresa que pode ser "tomada" pela TAM e virar as regras do jogo. Declarou não temer o endurecimento do governo para que a fusão saia de fato.

Folha - O acordo de fusão da Varig com a TAM será assinado na assembléia do colégio deliberante da Fundação Ruben Berta?
Gilberto Rigoni -
Não. Até agora não se tem números concretos sobre alguns percentuais para a fusão. Ficou estabelecido [via banco Fator] que a Fundação Ruben Berta teria 5% da nova empresa. Entendemos que essa participação não pode ser definida como 5%, mas a partir de 5%. Tem de ser de 5% para cima. Sabemos muito pouco da TAM. Não foi, por exemplo, definido quanto ela teria da nova empresa. A TAM não forneceu todos os elementos que permitam saber o que efetivamente existe lá dentro. Então, o que faremos na assembléia do colégio deliberante é dar o encaminhamento da modelagem da fusão. A discussão sobre o contrato de fusão terá de ser objeto de profunda análise. Ela deve demorar pelo menos uns 20 a 30 dias.

Folha - Não se votará, portanto, o contrato de fusão com a TAM na assembléia?
Rigoni -
Em hipótese nenhuma. Será votado o encaminhamento da modelagem. Não sei se o Fator apresentará os percentuais de participação de cada empresa na nova companhia. Ainda não temos as informações necessárias para formular o contrato. As informações que temos sobre a TAM são insuficientes, para ser bem genérico.

Folha - O Fator apresentou o percentual que a TAM teria na nova empresa?
Rigoni -
Não, ninguém definiu ainda. Eles querem 5% para a Fundação Ruben Berta, mas não definiram quanto a TAM teria. Eles [o Fator" afirmam que dependem dos dados sobre a participação dos credores etc.

Folha - Quer dizer que foi definido o percentual de 5% para a fundação, mas não a participação da TAM?
Rigoni -
Exato. Agora, entendemos que só depois que soubermos a participação dos credores da Varig na nova empresa, como o Banco do Brasil e a BR Distribuidora, além da participação do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], poderemos definir se a fundação deve ter 5%, 15% ou 30%.

Folha - O sr. é contra a fusão?
Rigoni -
Nós da FRB-par não somos absolutamente contra nada. Queremos que todas as propostas sejam cautelosamente examinadas, a fim de ver o que melhor convém para Varig e para a aviação civil brasileira. Não sou contra a fusão. Não sou contra nada. O que defendo é que todas as propostas sejam examinadas.

Folha - O sr. tem uma proposta de um grupo brasileiro que aceitaria securitizar a dívida da Varig em 1,5 bilhão. Isso é melhor do que a fusão?
Rigoni - Veja o que pode acontecer. Temos hoje uma proposta para que a fundação tenha 5% da empresa que nasceria com a fusão com a TAM. Você não acha que é muito pouco? Suponha que a securitização ocorra. A Varig deixaria de ser uma empresa com saldo devedor bastante grande para ser uma empresa saneada. A Varig passaria a voar em céu de brigadeiro. Com isso, o quadro atual viraria. Deixaríamos de ser uma empresa que segundo algumas pessoas vale 5% da companhia que resultaria da fusão com a TAM para ser uma empresa sem dívidas. Consequentemente, o valor das ações da Varig iria lá para cima. Ficaríamos em uma situação mais privilegiada que a do concorrente [TAM]. Poderíamos então fazer uma coisa combinada. Depois da securitização, se quiserem fazer a fusão com a gente, tudo bem. Só que aí nós vamos estar em uma situação privilegiada. A sensação é que, em vez de sermos tomados [pela TAM], passaríamos a estar na situação inversa.

Folha - Como é essa proposta de securitização? Por que alguém investiria 1,5 bilhão na Varig, se ela deve US$ 800 milhões?
Rigoni - Porque vê na Varig uma empresa viável, competente, com nome internacional e de alta credibilidade. Que vive uma situação temporariamente difícil, mas que será superada. O grupo que pretende assumir a dívida da Varig renegociaria os débitos dela com os credores com descontos. Pediria deságio. Esse deságio representaria o lucro do grupo que faria a securitização. Claro que haveria uma dívida a ser paga pela Varig ao grupo [que teria como garantia 45% do capital da Varig]. Mas ela seria paga ao longo de anos.

Folha - Esse grupo interessado na securitização da Varig não trabalha com lavagem de dinheiro?
Rigoni -
Não. Tudo seria feito legalmente, via Banco Central. Não há nada de irregular. Essas são as informações que tenho. Agora, não posso falar em nome desse grupo. Mas as informações são que operaria via Banco Central, sem nada irregular.

Folha - Se a Varig vai ficar plenamente saneada com a securitização, por que então a hipótese de fazer também a fusão?
Rigoni -
Acontece que existe uma ação do governo para reorganizar a aviação civil. Não adianta pegarmos recursos da securitização para a Varig, mas daqui a alguns anos termos novos problemas devido às dificuldades do setor de aviação. É preciso enxugar o setor. Agora, a Varig pode fazer a securitização e não precisar da TAM.

Folha - O sr. não acredita que o ministro da Defesa, José Viegas, não ficaria profundamente irritado com a Varig se essa fusão com a TAM não ocorrer?
Rigoni -
Não sei o que ele acharia. Mas, para o país, a securitização da Varig seria até uma forma de ajudar o governo a resolver o problema de aviação sem que tenha de colocar dinheiro na empresa. Isso devia ser motivo de regozijo. Um problema a menos para resolver.

Folha - O governo não pode endurecer de fato contra a Varig, se a fusão não for aprovada? Como determinar o corte no fornecimento do querosene de aviação da BR Distribuidora?
Rigoni -
Acredito piamente que isso não vai acontecer, pois o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, tem dito pela imprensa que a preocupação dele é ajudar a Varig e a aviação.

Folha - O sr. apresentará na assembléia a proposta de securitização da dívida?
Rigoni -
Não posso garantir isso, pois a assembléia foi convocada para estudar a fusão da Varig com a TAM. Pode ser que o presidente da Fundação Ruben Berta [Yutaka Imagawa] diga na assembléia que existem outras opções para a Varig que estão sendo objeto de estudos, mas que não podem ser apresentadas nessa assembléia. O que não acontecerá será a votação sobre o contrato de fusão.

Folha - Mas é isso que muita gente espera, como o banco Fator...
Rigoni -
Pois é, mas não será isso o que acontecerá.

Folha - A Varig está adiando o acordo de fusão com a TAM?
Rigoni -
O que a FRB-par quer é que tudo esteja devidamente esclarecido. Como é que podemos fechar um acordo sem ter elementos concretos, como a participação da TAM?

Folha - Caso a fusão ocorra, o governo passaria a ser o principal acionista da nova empresa?
Rigoni -
Depende da participação dos credores na nova empresa. A BR Distribuidora, a GE [General Electric] e outros credores serão convidados para dizer se têm interesse em participar da nova empresa. Normalmente empresas como a GE e a Boeing querem receber seus créditos. Não é de interesse delas participar de companhias aéreas. Seu negócio é alugar aviões, turbinas etc. É um assunto a ser discutido.

Folha - Temos informações de que o presidente da fundação, Yutaka Imagawa, começa a mudar de idéia e apoiar a fusão. Confere?
Rigoni -
Não estou autorizado a falar em nome do Imagawa. Mas conheço-o há muitos anos. Estamos atrás do que seja melhor para a Varig.


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