UOL


São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CURTO-CIRCUITO

Objetivo do banco é recuperar US$ 604 milhões de empréstimo à AES Transgás; solução negociada não avança

BNDES decide leiloar ações da Eletropaulo

Mauricio Lima - 30.mai.01/France Presse
Técnicos da EPTE realizam manutenção em subestação de energia elétrica em São Paulo


CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) autorizou ontem a CBLC (Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia), subsidiária da Bovespa, a colocar em leilão as 15,82 bilhões de ações preferenciais da Eletropaulo que vendeu em janeiro de 2000 à AES Transgás, subsidiária da norte-americana AES Corp.
O leilão tem o objetivo de ressarcir o banco estatal de créditos equivalentes a US$ 604 milhões remanescentes do empréstimo de aproximadamente US$ 1 bilhão feito à Transgás para a compra das ações.
A Eletropaulo deverá publicar até sexta-feira um fato relevante sobre o leilão, que ocorrerá no prazo de 30 a 40 dias. Os papéis correspondem a 39% do capital total e a 64% das ações preferenciais da Eletropaulo.
A decisão de autorizar o leilão das preferenciais significa que o BNDES considera praticamente impossível chegar a um acordo sobre a dívida de aproximadamente US$ 600 milhões da AES Elpa, outra empresa do grupo, com ele.
O débito é remanescente de um empréstimo de US$ 888,6 milhões feito em abril de 1998 para a compra do bloco de controle das ações ordinárias da Eletropaulo em leilão de privatização. A partir de amanhã, o banco poderá cobrar essa dívida na Justiça.
A AES Elpa ficou inadimplente com o BNDES em 31 de janeiro deste ano, ao deixar de pagar uma parcela de US$ 85 milhões da sua dívida, cuja principal garantia é o próprio controle da Eletropaulo. No dia 28 de fevereiro, foi a vez de a AES Transgás ficar inadimplente em relação a uma parcela de US$ 330 milhões do seu débito com o banco.

Negociação
A execução das garantias da Transgás (as próprias ações) poderia ter sido iniciada a qualquer momento após 28 de fevereiro -bastaria uma autorização do BNDES à CBLC para que o leilão começasse a ser organizado.
A direção do banco estatal decidiu, no entanto, buscar uma solução negociada global e esperar até que vencesse o prazo legal de 90 dias para que pudesse cobrar na Justiça a dívida da AES Elpa, cuja principal garantia é o controle do capital da Eletropaulo.
"Até agora eles não acenaram com nenhum pagamento", disse ontem à Folha o diretor da Área Industrial do BNDES, Maurício Lemos. Segundo Lemos, os advogados do banco consideram ainda que o melhor caminho para solucionar a dívida da AES Elpa é o acordo, mas isso não está sendo possível porque, segundo ele, nenhuma das propostas da empresa norte-americana foi viável. "Temos documentadas todas as propostas que a AES fez ao banco."
Os advogados do BNDES avaliam que a cobrança judicial será muito demorada e desgastante. Mesmo assim, segundo a Folha apurou, o banco considerava ontem que não restava outra alternativa a não ser iniciar o processo de cobrança nos próximos dias.

Prejuízo
Já a parte da dívida referente às ações preferenciais é mais simples -resolve-se com o leilão dos papéis que estão sob custódia da CBLC, já que a venda foi feita a termo.
A Transgás só se tornaria titular dos papéis após pagar toda a dívida contraída para fazer a compra do próprio BNDES.
O problema é que, pelo valor de mercado de ontem das ações (cerca de R$ 28,85 por lote de mil), o preço mínimo do leilão não chegará a US$ 156,5 milhões, menos da quarta parte do que o banco tem a receber.
Uma das alternativas em estudo pelos dirigentes do banco para reduzir o prejuízo, ou até para obter um lucro futuro, é o próprio BNDES comprar as ações no leilão e guardá-las na expectativa de um valorização futura.
Procurada pela Folha, a AES disse que não iria se pronunciar sobre a negociação com o BNDES.


Texto Anterior: O vaivém das commodities
Próximo Texto: União quer tirar da Aneel leilões de concessão
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.