São Paulo, sexta-feira, 30 de abril de 2004

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O VÔO DA ÁGUIA

Avanço fica abaixo do previsto, mas indica crescimento sustentável; reajuste nos preços pressiona taxa de juros

PIB cresce 4,2% e inflação sobe nos EUA

DA REDAÇÃO

A economia norte-americana registrou um sólido avanço no primeiro trimestre do ano, ainda que o ritmo tenha ficado um pouco abaixo das expectativas.
Já a inflação subiu no período bem mais do que o previsto, ampliando a perspectiva de aumento na taxa de juros.
De acordo com números divulgados ontem pelo Departamento de Comércio dos EUA, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu a uma taxa anualizada de 4,2% nos três primeiros meses deste ano.
A expectativa dos analistas econômicos de Wall Street era de um avanço de 5%. Nos últimos três meses do ano passado, a taxa havia ficado em 4,1%.
Apesar de o indicador ter ficado abaixo das estimativas, os economistas disseram que isso ocorreu porque a formação de estoques ficou um pouco abaixo do previsto. Para os analistas, isso não chega a ser negativo, porque as prateleiras terão que ser repostas mais cedo ou mais tarde, e isso acaba impulsionando a atividade.
"A economia se estabilizou em um passo sustentável, que se auto-alimenta", afirmou Sung Won Sohn, economista-chefe do banco americano Wells Fargo.
A taxa anualizada de 4,2% significa que a economia cresceu 1,02% na comparação com o trimestre anterior. Os EUA tradicionalmente divulgam os dados do PIB em termos anualizados.
Os gastos das famílias, que representam aproximadamente dois terços do total do PIB, tiveram um avanço de 3,8% no período, em termos anualizados, ante 3,2% no período anterior. Já as vendas de bens duráveis, como carros, caíram 4,7%, o primeiro recuo em quase quatro anos.
A ação militar no Iraque segue impulsionando as despesas públicas. Os gastos em defesa saltaram 15,1%, ante uma taxa anualizada de 3% no período anterior.
Os números do PIB ainda vão passar por pelo menos duas revisões, a primeira delas no mês que vem. No atual trimestre, o país deverá crescer entre 4,5% e 5%, de acordo com a maior parte das projeções.
"A base de nossa economia é sólida, e a tendência é de fortalecimento", disse o secretário do Tesouro, John Snow. De acordo com o secretário, o crescimento deverá se traduzir em mais empregos nos próximos meses.
O governo George W. Bush torce para que a recuperação econômica consiga realmente diminuir o desemprego. Essa questão, junto com o Iraque, promete ser o principal tema da campanha de John Kerry, democrata que tentará impedir a reeleição de Bush.
Apesar dos bons números de ontem, Kerry criticou a política econômica do governo e lembrou que o país perdeu mais de 2 milhões de empregos desde que Bush assumiu a Casa Branca, em 2001. As eleições dos EUA ocorrem em novembro.

Inflação assusta
O índice do deflator, que serve para atualizar os valores utilizados no cálculo do PIB, apresentou uma taxa anualizada de 2,5% no primeiro trimestre. Isso significa que houve uma aceleração no reajuste de preços.
Nos últimos dois anos, a inflação havia permanecido sob controle, em níveis historicamente baixos. Em 2003, o deflator ficou em 1,7% e, em 2002, em 1,5%.
A inflação medida pelo núcleo dos gastos de consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês) praticamente dobrou no período. Esse é o principal índice de inflação observado por Alan Greenspan, o presidente do Federal Reserve (banco central dos EUA).
O núcleo (em que não entram os preços de alimentos e energia) ficou em 2% no trimestre, em termos anualizados. No quarto trimestre do ano passado, tinha sido de 1,2% e, no trimestre anterior, de apenas 1%.
Todos os índices de inflação ficaram acima das expectativas, e o mercado reagiu pressionando as taxas futuras de juros. Os títulos de dez anos do Tesouro, os mais negociados, pagavam ontem 4,54% de juros ao ano. Há um mês, o rendimento estava abaixo de 4%. As Bolsas fecharam em queda. "O aumento no núcleo é particularmente problemático, porque, para alguns, 2% seria o teto informal do Fed", afirmou Chris Low, economista-chefe da FTN Financial. O BC dos EUA não adota uma meta explícita.

Olho no Fed
A próxima reunião do comitê de política monetária do Federal Reserve ocorrerá na próxima terça-feira. O consenso do mercado é que o Fed manterá a taxa básica de juros no atual patamar, de 1% ao ano, mas, para os analistas, a instituição deverá sinalizar que está prestes a aumentar os juros.
As taxas projetadas nos mercados futuros apontam que o Fed deverá aumentar os juros em agosto. Alguns analistas apostam que o aumento possa vir antes, na reunião de junho.
Em um outro bom indicador divulgado ontem, o número de pedidos de seguro-desemprego voltou a cair. Segundo os analistas, a economia deverá voltar a criar empregos de maneira mais acelerada nos próximos meses, em decorrência da diminuição da capacidade ociosa.


Com agências internacionais


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