|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BC reduz ritmo da queda da taxa de juros
Corte de 1 ponto leva a Selic a 10,25%, menor patamar desde a criação do Copom, em 96; em março, queda foi de 1,5 ponto
Meirelles diz a Lula que já há sinais de reação na economia e que é necessário cautela
nos cortes para que não seja preciso subir a taxa em 2010
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central anunciou
ontem um corte de um ponto
percentual na taxa básica de juros, a Selic, que a partir de hoje
será fixada em 10,25% ao ano.
Trata-se da taxa mais baixa já
registrada desde a criação do
Copom (Comitê de Política
Monetária do BC), em 1996.
Horas antes da decisão, no final da manhã, o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, teve uma reunião com o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva na qual informou que não
seria possível manter o ritmo
de queda da reunião anterior,
quando a taxa caiu 1,5 ponto.
Segundo a Folha apurou,
Meirelles disse que a economia
já dá sinais de recuperação e
que é preciso cuidado na redução dos juros para tentar evitar
a necessidade de ter que subir a
taxa no próximo ano.
A decisão de ontem representou uma mudança nos rumos traçados nos outros dois
encontros do Copom realizados neste ano, quando, diante
de um quadro surpreendentemente recessivo no Brasil, a redução nos juros se acelerou.
Em janeiro, quando o mercado financeiro apostava num
corte de 0,75 ponto, o BC surpreendeu e baixou a Selic em 1
ponto. Em março, a queda foi
ampliada para 1,5 ponto.
Agora, a percepção de que a
pior fase da crise pode ter ficado para trás influenciou o Copom, que optou por abandonar
os cortes mais agressivos.
Em nota divulgada após a
reunião de ontem, o BC não
apresentou maiores justificativas para a decisão. "Avaliando
o cenário macroeconômico e
visando ampliar o processo de
distensão monetária, o Copom
decidiu reduzir a taxa Selic para 10,25% ao ano, sem viés, por
unanimidade", diz o texto.
"Viés" é o nome dado ao instrumento que permitiria ao BC
reduzir os juros antes mesmo
da próxima reunião do Copom,
marcada para junho.
Com a queda anunciada ontem, o processo de redução da
Selic se aproxima do fim. No
mercado financeiro, a expectativa é que os juros não caiam
para menos de 9,25% ao ano,
sendo que a dúvida está no cronograma dessa redução: o Copom poderia optar por um corte de 0,75 ponto percentual no
próximo encontro e outro de
0,25 ponto na reunião seguinte, em julho, ou promover uma
redução única de um ponto
percentual em junho.
Desde o início da fase mais
aguda da crise, em setembro do
ano passado, o BC reduziu os
juros em 3,5 pontos percentuais. Mas a queda só teve início em janeiro, quando já se
acumulavam muitos sinais de
que a economia brasileira estava sofrendo uma forte retração,
puxada principalmente pela
queda na produção industrial.
Agora, a avaliação é outra.
Para o BC, há sinais de que a
economia já conseguiu sair do
fundo do poço em que se encontrava entre o final de 2008
e o início de 2009. Embora reconheçam que a recuperação
ainda é tímida, diretores da
instituição têm dito que as projeções do setor privado para o
PIB (Produto Interno Bruto)
deste ano estão excessivamente pessimistas e o resultado deve ser melhor do que se espera.
Esse raciocínio é reforçado
pelo argumento de que os cortes na Selic ocorridos nos últimos meses ainda não fizeram
todo o efeito que se espera sobre o nível de atividade -economistas estimam que uma
mudança nos juros pode levar
mais de um ano para ter impacto por completo sobre a economia. Por isso, cortes mais
agressivos não seriam tão urgentes quanto eram até pouco
tempo atrás.
Poupança
Além disso, desde o mês passado o BC tem dito que a continuidade do processo de queda
dos juros também depende de
mudanças no cálculo do rendimento da poupança. Isso porque, com a queda da Selic, os
fundos de renda fixa passam a
ter uma rentabilidade menor
-dependendo do caso, abaixo
até da caderneta, cuja remuneração de 0,5% ao mês é fixa.
Como os fundos ainda estão
sujeitos a taxas de administração e à cobrança de Imposto de
Renda, eles acabam perdendo
espaço para a poupança em cenários como o atual. O BC defende que a remuneração fixa
da caderneta seja revista, pois
isso facilitaria a queda da Selic
para níveis mais baixos.
Mas, embora o próprio presidente Lula já tenha dito que o
governo estuda mudanças no
rendimento da poupança, nenhuma decisão foi tomada até
agora, o que pode atrapalhar a
queda dos juros.
Colaborou KENNEDY ALENCAR ,
da Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Paulo Nogueira Batista Jr.: Brasil, credor do FMI Índice
|