São Paulo, sexta-feira, 30 de abril de 2010

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entrevista

Alta dos juros ameaça crédito, diz especialista

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Para Fernando Sarti, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o aumento do crédito no país se apresenta, neste momento, como um fenômeno saudável. Porém, o aumento da taxa básica de juros promovido pelo Banco Central pode ameaçá-lo no médio prazo.

 

FOLHA - O volume do crédito concedido no país continua subindo fortemente, mas a inadimplência, até agora, parece estar sob controle. Existe perigo de os calotes aumentarem com a elevação dos juros que é esperada para o ano?
FERNANDO SARTI -
O fato de a inadimplência estar baixa mostra justamente que o Banco Central não deveria ter mexido na taxa Selic ontem [anteontem]. Apertar a política monetária não vai reduzir os preços.

FOLHA - Não? Essa é sempre a consequência esperada, de acordo com a teoria econômica...
SARTI -
Gostaria que o BC explicasse de que forma aumentar juros tem efeito sobre setores altamente oligopolizados e concentrados, como o de veículos e o grande varejo. Seria possível empregar outras ferramentas, cirúrgicas, a fim de combater o problema. Não é necessário usar um tiro de cartucheira nesse caso porque corre-se o risco de matar toda a retomada da atividade -da qual, aliás, o comportamento do mercado de crédito é um componente.

FOLHA - Os especialistas sempre disseram que uma das condições para o crescimento sustentado do país no longo prazo é o aumento do crédito. É saudável o processo que está sendo observado no Brasil agora?
SARTI -
Claro. O montante de financiamentos concedidos no país ainda é relativamente baixo para os padrões internacionais. É natural que, em um ciclo de crescimento da economia, tanto consumidores quanto empresas ampliem o seu endividamento, pois assim conseguem consumir e investir. Assim se dá início a um ciclo virtuoso. Perigoso seria se tal fenômeno se desse em um momento de estagnação econômica, quando o desemprego está em alta e a renda está encolhendo.

FOLHA - Então há um risco se a atividade se desacelerar.
SARTI -
Sim, se a bicicleta [da economia] parar. Aí começa o ciclo vicioso.


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