São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002

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COPOM

Mas "arrefecimento" da economia segura repasse do câmbio para preços, diz BC

Dólar e risco Brasil em alta detiveram corte de juros

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os diretores do Banco Central chegaram à conclusão, na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) da semana passada, de que os juros básicos da economia devem ser reduzidos. Mas discordaram sobre o momento em que isso deveria ser feito. Por isso decidiram manter os juros em 18,5% ao ano, conforme informou a ata da reunião do Copom divulgada ontem.
A ata mostra que o BC aumentou sua projeção de inflação para o ano. Passou de 4,5% a 5%, previsão da ata de abril, para "um pouco acima de 5%", devido "quase que exclusivamente" ao impacto que a recente alta do dólar terá sobre os preços. Estimou ainda um reajuste maior na tarifa de energia neste ano.
Mas o cenário econômico traçado na ata e o placar da decisão (5 a 3) reforçam a percepção do mercado de que a retomada da redução dos juros deve vir em junho.
A maioria considerou que "o balanço dos riscos" -piora do risco-país, depreciação do real e proximidade das projeções de inflação ao teto da meta para o ano- impedia um corte dos juros neste mês.
No documento, o BC dirimiu o impacto negativo dos três fatores que compuseram o "balanço de riscos".
Primeiro, afirmou que o "arrefecimento" da recuperação da atividade econômica deve dificultar o repasse da alta do dólar para os preços, fazendo com que o impacto sobre a inflação seja "menor do que o usualmente previsto". Além disso, "os agentes econômicos" teriam percebido a recente depreciação do real como algo temporário, o que inibiria o aumento de preços.
O PIB caiu pelo segundo trimestre seguido. Nos primeiros três meses do ano, o PIB caiu 0,73% sobre igual período de 2001.
Em segundo lugar, os diretores da instituição calculam que, mesmo que o repasse do dólar para os preços seja maior do que esperam, a inflação ficará abaixo do teto superior da meta para o ano, de 5,5% medidos pelo IPCA.
Na ata, eles destacaram que as expectativas de inflação do mercado financeiro coletadas pelo BC continuam a apontar uma taxa abaixo do limite superior da meta. No boletim Focus da sexta passada, a média das projeções de mercado era de 5,46%.
Os membros do Copom consideraram que "a trajetória projetada de queda da inflação para 2002 e 2003 estimada pelo BC, e reforçada pelas expectativas de mercado, recomendaria uma retomada do processo de flexibilização da política monetária".
Quanto ao risco-país (taxa de juros que os certificados de dívida do governo pagam acima do rendimento dos títulos do Tesouro americano), o BC entende que a atual taxa não reflete "os bons fundamentos do setor externo".
A instituição citou como exemplo o fato de o déficit em conta corrente (diferença entre transações comerciais e financeiras do Brasil com o mundo) no acumulado de 12 meses encerrado em abril, de US$ 19,4 bilhões, ter sido totalmente financiado pelo ingresso líquido de investimentos diretos estrangeiros na economia no período, de US$ 22,4 bilhões.
Por isso, o BC avalia que o risco-país tende a cair.



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