|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
Juros indecentes
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O Banco Central
perdeu, na semana passada,
uma oportunidade de reduzir as
taxas de juro. A inflação está razoavelmente bem-comportada.
Não parece ser motivo para grandes preocupações. Já o nível de
atividade da economia tem dado
sinais sucessivos de fraqueza, provocada em boa medida pelos juros extremamente elevados e pela
escassez de crédito.
Os últimos dados divulgados
pelo IBGE indicam que o PIB real
cresceu apenas 0,3% nos 12 meses
até março. Os rendimentos médios estão acusando queda em
termos reais e as taxas de desemprego e subemprego permanecem
muito altas.
Na região metropolitana de São
Paulo, a taxa de desemprego total
(no conceito mais amplo adotado
na pesquisa Seade-Dieese) chegou a 20,4% em abril, valor mais
alto registrado desde o início da
série, em 1985. Em Belo Horizonte, a taxa de desemprego total alcançou 18,9% (dado de março).
Em Recife, 19,9% (fevereiro). Em
Salvador, 27,3% (fevereiro). Em
Porto Alegre, 15,8% (março). No
Distrito Federal, 19% (dezembro).
Na região do ABC, 20% (abril).
A redução da taxa de juro, além
de estimular a reativação da economia, contribuiria para diminuir o custo da dívida pública interna, a maior parte da qual é de
prazo curto ou referenciada à taxa de juro de curto prazo. A própria recuperação dos níveis de
produção e emprego favoreceria
as contas públicas, pois ampliaria
a arrecadação tributária e diminuiria certos tipos de gastos, como
a assistência aos desempregados.
O Banco Central teme aparentemente o efeito de uma queda
dos juros sobre a taxa de câmbio.
É verdade que uma depreciação
adicional do real dificultaria em
alguma medida o controle da inflação e aumentaria os custos da
dívida pública externa e da dívida interna indexada ao câmbio.
Mas a restrição fundamental
continua sendo a vulnerabilidade
externa. Recorde-se que o modesto superávit na balança comercial
só está sendo alcançado porque a
economia continua muito desaquecida. Se a economia brasileira
crescesse em ritmo satisfatório, a
balança comercial voltaria a registrar déficits. Desse ponto vista,
portanto, uma depreciação cambial seria, dentro de certos limites,
bem-vinda. Uma forma de provocá-la é reduzir a taxa de juro.
A taxa de juro brasileira ainda
é uma das mais altas do mundo.
Num conjunto de 23 economias
"emergentes", só a Venezuela
apresenta atualmente juros reais
de curto prazo superiores aos do
Brasil. A taxa de juro real de curto prazo, definida como a taxa
nominal descontada a inflação
dos últimos 12 meses, chega a
9,7% no Brasil. A média para as
outras 22 economias é de 2,9%.
Nos EUA, a taxa de curto prazo é
de apenas 0,2% em termos reais.
Na área do euro, 1,1%. No Japão,
1,2%.
Em suma, o Brasil pratica juros
indecentes. Não se deve perder de
vista que essa taxa de curto prazo,
mais ou menos equivalente ao
custo de captação dos bancos, corresponde a menos de um terço da
taxa média cobrada pelo sistema
financeiro. Nas operações com recursos livres, as empresas vêm pagando mais de 40% em termos
nominais para créditos de cerca
de 180 dias de prazo, em média.
As pessoas físicas, aproximadamente 70% para operações de 314
dias, em média.
Com taxas de juro como essas, que economia consegue funcionar?
Paulo Nogueira Batista Jr., 47, economista, pesquisador visitante do Instituto
de Estudos Avançados da USP e professor da FGV- SP, escreve às quintas-feiras
nesta coluna. É autor do livro "A Economia como Ela é ..." (Boitempo Editorial,
3ª edição, 2002).
E-mail - pnbjr@attglobal.net
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Montadoras: Fiat dará férias coletivas em junho Índice
|