São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002

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LUÍS NASSIF

As mudanças no futebol

Vice-presidente de futebol do Corinthians, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Antonio Roque Citadini tem uma boa visão crítica do projeto de lei -que poderá virar medida provisória- de profissionalização do futebol brasileiro. É um ângulo interessante, que poderá enriquecer o debate.
Primeiro, os pontos de convergência. Citadini defende a separação entre futebol e a parte social dos clubes. É a favor da ampla transparência dos números, inclusive com publicação de balanços auditados.
Os pontos de discordância são quanto às propostas da lei, de enquadrar os clubes na legislação comercial. O mero enquadramento não é garantia de boa e sã administração, diz Citadini. Além disso, a gestão de um clube é diferente da gestão de uma empresa. Por exemplo, como se contabiliza o valor de um jogador? A economia do futebol exige um conjunto de normas especiais, diferentes das empresas comerciais. O mero enquadramento na legislação comercial não resolve, mesmo porque a falta de transparência afeta também as empresas, diz Citadini.
Outra crítica é quanto à separação pura e simples do futebol em relação à parte social, impondo as normas de transparência apenas ao futebol profissional, com exigências para a manutenção de benefícios fiscais. Cria-se uma situação de privilégio para o clube que não dispõe de futebol. Na opinião de Citadini, as normas de transparência e regulação devem se aplicar a todos os clubes, independentemente de ter ou não futebol.
Além disso, deve haver tratamento diferenciado para os clubes que mantêm escolinhas para crianças e outros que se atêm ao futebol de adultos, diz.
Outra crítica ao projeto é a total ausência de uma agenda positiva para os clubes. Com todos os problemas de gestão, diz Citadini, foram os clubes que garantiram a vitalidade do futebol brasileiro. América do Sul e África revelam bons jogadores de futebol, diz. Na África, tudo fica nas mãos de empresários que pegam adolescentes e levam para a Europa, devido à ausência de clubes, que são as instituições que juntam torcedores, sócios e jogadores.
Ele toma como exemplo seu clube, o Corinthians. Necessita de US$ 50 milhões para construir um estádio de futebol, mas jamais os obteria no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). E, sem equipamento adequado, haveria dificuldade para atrair investidores.
Mas é óbvio que, com a profissionalização dos clubes, a oferta de financiamento será automática, ainda mais para uma atividade com receita previsível, como é a de um estádio de futebol. Outro ponto relevante é que, à medida que ocorram a profissionalização e a boa governança corporativa e que se consiga rentabilizar o negócio, abre-se espaço para a entrada de investidores.

"Offshore"
Está havendo enorme confusão das associações que representam emissoras de televisão em relação ao "offshore" -ou seja, a imposição de contrapartidas aos fabricantes de equipamentos, na definição do padrão de televisão digital no Brasil. Basta definir as condições para ambos os lados, ou seja, a necessidade de trazer a tecnologia e ajudar na criação de um pólo de exportação. Igualadas as condições, escolhe-se o padrão técnico mais adequado.

E-mail - lnassif@uol.com.br



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