São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Duhalde admite perigo de dissolução nacional

DE BUENOS AIRES

No mesmo dia em que a Argentina foi chacoalhada por manifestações em todo o país, o presidente Eduardo Duhalde admitiu existir o perigo de dissolução nacional devido à grave crise econômica e social.
Durante ato pela comemoração do 192º aniversário do Exército, realizado ontem, o chefe da corporação, general Ricardo Brinzoni, respondeu a Duhalde que, apesar da crise, a possibilidade de haver um golpe militar no país não existe. "O Exército é e seguirá sendo soldado do povo e da Constituição", disse.
Depois, Brinzoni foi ainda mais claro, ao dizer que as Forças Armadas "não são uma opção, são parte da Argentina".
Além disso, o general disse acreditar que o governo vai resgatar o país da crise e que o Exército se mantém "surdo às vozes agourentas e seguro de triunfar".

Agradecimento
Duhalde agradeceu o apoio das Forças Armadas. "Hoje, em meio à crise, encontramos o nosso Exército sem egoísmo e mesquinharia, colocando seu aparato à disposição da comunidade e contribuindo para a solução da crise mais profunda da história, em momentos em que vozes responsáveis nos alertam para o perigo de dissolução nacional."
A primeira "voz responsável" a levantar a hipótese de que as instituições democráticas argentinas podem não sobreviver à crise foi a do arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergloglio, no último sábado. Anteontem, em editorial, o jornal argentino "Clarín" repetiu a advertência.
Duhalde vive uma difícil situação política. Na última segunda-feira, o presidente foi pressionado por governadores de seu próprio partido, o peronista, para antecipar a eleição marcada para setembro de 2003.

Só após acordo
Depois da reunião, Duhalde admitiu que a data poderia ser alterada, desde que "a Argentina esteja em águas mais tranquilas". Ou seja, quando o país fechar o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e acabar com as restrições bancárias impostas pelo curralzinho (o bloqueio do dinheiro pelos bancos).
Para os governadores peronistas, a data ideal para um novo pleito seria entre dezembro deste ano e março de 2003.
Eles avaliam que, durante esse período, o país teria condições de se recuperar nos próximos meses e, com isso, não haveria o risco de a oposição tomar o poder com a eleição.
Ontem, no entanto, um grupo de 12 deputados ligados ao ex-presidente Carlos Menem voltou a defender a votação de um projeto que prevê a realização da eleição presidencial em, no máximo, 120 dias.
Ao lado do governador de Santa Cruz, Néstor Kirchner, e do ex-presidente Adolfo Rodríguez Saá, Menem encabeça a pressão por eleições dentro do peronismo. (JS)


Texto Anterior: Colapso na Argentina: Grevistas conseguem parar Buenos Aires
Próximo Texto: Lavagna é vítima de boatos de renúncia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.