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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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Taxa projeta baixo crescimento anual

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O que é mais importante para a economia: analisar os dados do PIB (Produto Interno Bruto), que identificaram recuo de 0,1% no primeiro trimestre deste ano em relação aos três últimos meses de 2002, ou o confronto com o primeiro trimestre do ano passado -com uma economia à época deprimida pelos efeitos do apagão e da crise argentina?
""Essa é uma questão escolástica [de conciliar fé e razão]. O que importa é que a economia está em recessão", sustenta o professor Luiz Carlos Bresser Pereira, da FGV-SP e ex-ministro da Fazenda (governo Sarney). ""Houve um crescimento de 2% [comparação anual] sobre uma base muito baixa. Interessa não o passado, mas a perspectiva para este ano. O que aconteceu nos últimos três meses mostra que será ruim", completa.
Concorda com esse argumento -de que o que interesse mesmo é a sinalização para o futuro- Ricardo Carneiro, diretor do Centro de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp. ""Você pode ter um crescimento médio de 2% e, na ponta [que no caso seriam os últimos três meses], um resultado negativo de 0,1%. A ponta mostra para onde você está indo", exemplifica. Ou, em suas palavras, a confrontação trimestre corrente com trimestre imediatamente anterior revela uma fotografia ""mais conjuntural, contemporânea" do comportamento da economia.
Paulo Levy, coordenador do grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), argumenta que não existe ""certo ou errado" na análise dos números do PIB. Ele afirma que, ao se comparar um índice com anos anteriores, por vezes, acabam não sendo considerados as forças que atuavam em dado momento na economia. Mesmo que se façam ajustes sazonais -deixando o índice livre de influências típicas de cada período do ano.
Usa como exemplo o Brasil e os EUA. No Brasil, lembra Levy, as séries históricas de acompanhamento do PIB, com ajustes sazonais, começaram a ser feitas apenas a partir dos anos 90. A isso acrescenta-se o fato de o país ter uma economia instável, com picos de inflação de 8.000% nos anos 80. Os EUA, por sua vez, lembra Levy, mantêm acompanhamento desses indicadores há pelo menos um século, e o histórico de turbulências na economia é muito menor que no do Brasil.

Perspectivas
Bresser Pereira sustenta que, mantidas as atuais premissas -juros altos e câmbio nominal apreciado-, o crescimento do PIB no governo Lula não superará a média anual de entre 1% e 2%.
""Para crescer mais é preciso baixar os juros, e o governo não baixa porque teme inflação. É preciso ter câmbio mais depreciado, e o governo não deixa. Como quem dirige é o BC, e o pensamento deles é o mesmo desde 1995, vamos ter crescimento nos níveis do período em que estava o [Gustavo] Franco e o [Armínio] Fraga", afirma o ex-ministro da Fazenda.
Ricardo Carneiro diz que a conduta da política econômica de Lula não teve influência no resultado do PIB no primeiro trimestre. Não sem ressalvas: ""A contribuição de Lula é o aprofundamento da política [do governo FHC]. O resultado ainda virá".
Segundo o economista, a combinação de taxas de juros mais altas que no final do governo FHC, superávit fiscal maior e apreciação cambial produzirá, na melhor das hipóteses, ""estagnação da economia neste ano". Parte do trabalho ""contra" a economia estaria sendo cumprindo pelo BC. ""Fixaram uma meta de inflação irreal. A inflação está caindo, mas o BC mantém esses juros porque quer acelerar a velocidade de queda, o que é inacreditável."
De sua parte, o ex-ministro da Fazenda diz que, para o PIB per capita crescer 1% (número que considera mínimo aceitável), o PIB nominal deveria avançar no ano 2,3%. Isso porque seu cálculo considera um crescimento vegetativo da população de 1,3%. ""O que vemos hoje é uma economia em recessão", diz ele.


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