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Taxa projeta baixo crescimento anual
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O que é mais importante para a
economia: analisar os dados do
PIB (Produto Interno Bruto), que
identificaram recuo de 0,1% no
primeiro trimestre deste ano em
relação aos três últimos meses de
2002, ou o confronto com o primeiro trimestre do ano passado
-com uma economia à época
deprimida pelos efeitos do apagão e da crise argentina?
""Essa é uma questão escolástica
[de conciliar fé e razão]. O que importa é que a economia está em
recessão", sustenta o professor
Luiz Carlos Bresser Pereira, da
FGV-SP e ex-ministro da Fazenda
(governo Sarney). ""Houve um
crescimento de 2% [comparação
anual] sobre uma base muito baixa. Interessa não o passado, mas a
perspectiva para este ano. O que
aconteceu nos últimos três meses
mostra que será ruim", completa.
Concorda com esse argumento
-de que o que interesse mesmo é
a sinalização para o futuro- Ricardo Carneiro, diretor do Centro
de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp. ""Você pode ter
um crescimento médio de 2% e,
na ponta [que no caso seriam os
últimos três meses], um resultado
negativo de 0,1%. A ponta mostra
para onde você está indo", exemplifica. Ou, em suas palavras, a
confrontação trimestre corrente
com trimestre imediatamente anterior revela uma fotografia ""mais
conjuntural, contemporânea" do
comportamento da economia.
Paulo Levy, coordenador do
grupo de Acompanhamento
Conjuntural do Ipea (Instituto de
Pesquisas Econômicas Aplicadas), argumenta que não existe
""certo ou errado" na análise dos
números do PIB. Ele afirma que,
ao se comparar um índice com
anos anteriores, por vezes, acabam não sendo considerados as
forças que atuavam em dado momento na economia. Mesmo que
se façam ajustes sazonais -deixando o índice livre de influências
típicas de cada período do ano.
Usa como exemplo o Brasil e os
EUA. No Brasil, lembra Levy, as
séries históricas de acompanhamento do PIB, com ajustes sazonais, começaram a ser feitas apenas a partir dos anos 90. A isso
acrescenta-se o fato de o país ter
uma economia instável, com picos de inflação de 8.000% nos
anos 80. Os EUA, por sua vez,
lembra Levy, mantêm acompanhamento desses indicadores há
pelo menos um século, e o histórico de turbulências na economia é
muito menor que no do Brasil.
Perspectivas
Bresser Pereira sustenta que,
mantidas as atuais premissas
-juros altos e câmbio nominal
apreciado-, o crescimento do
PIB no governo Lula não superará
a média anual de entre 1% e 2%.
""Para crescer mais é preciso baixar os juros, e o governo não baixa porque teme inflação. É preciso ter câmbio mais depreciado, e
o governo não deixa. Como quem
dirige é o BC, e o pensamento deles é o mesmo desde 1995, vamos
ter crescimento nos níveis do período em que estava o [Gustavo]
Franco e o [Armínio] Fraga", afirma o ex-ministro da Fazenda.
Ricardo Carneiro diz que a conduta da política econômica de Lula não teve influência no resultado
do PIB no primeiro trimestre.
Não sem ressalvas: ""A contribuição de Lula é o aprofundamento
da política [do governo FHC]. O
resultado ainda virá".
Segundo o economista, a combinação de taxas de juros mais altas que no final do governo FHC,
superávit fiscal maior e apreciação cambial produzirá, na melhor
das hipóteses, ""estagnação da
economia neste ano". Parte do
trabalho ""contra" a economia estaria sendo cumprindo pelo BC.
""Fixaram uma meta de inflação
irreal. A inflação está caindo, mas
o BC mantém esses juros porque
quer acelerar a velocidade de queda, o que é inacreditável."
De sua parte, o ex-ministro da
Fazenda diz que, para o PIB per
capita crescer 1% (número que
considera mínimo aceitável), o
PIB nominal deveria avançar no
ano 2,3%. Isso porque seu cálculo
considera um crescimento vegetativo da população de 1,3%. ""O
que vemos hoje é uma economia
em recessão", diz ele.
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