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REMÉDIO AMARGO
Indústria cai 2,2%, agricultura cresce 3,7%, e serviços, zero
PIB tem o pior desempenho dos últimos três trimestres
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A economia brasileira teve um
desempenho fraco nos primeiros
três meses de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A
taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), divulgada
ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ficou estagnada em relação ao trimestre anterior e desacelerou na
comparação com o mesmo período do ano passado.
Os números mostraram, respectivamente, queda de 0,1% e
crescimento de 2,0%. Acumulada
em quatro trimestres, a taxa de
crescimento do PIB no final de
março deste ano era de 2,2%.
Em relação ao primeiro trimestre de 2002, houve alta de 2%. Foi
o pior desempenho dos três últimos trimestres quando a comparação é feita em relação ao mesmo
trimestre do ano anterior. O PIB é
a soma valores dos bens e serviços
finais produzidos pelo país em
um determinado período.
A agropecuária e as exportações
foram os setores com maior destaque na composição do PIB.
Apesar disso, as exportações perderam fôlego no primeiro trimestre do ano. As vendas externas haviam tido uma alta expressiva no
final de 2002, o que elevou demais
a base de comparação. Na indústria, o destaque positivo foi a extrativa mineral.
Crescimento
O efeito estatístico provocado
por uma base de comparação baixa também ajudou o PIB a crescer
em relação ao primeiro trimestre
de 2002, último no qual vigorou o
racionamento de energia elétrica
no país. Naquele período, a economia havia apresentado queda
de 0,8%.
"Estou vendo a economia entre
a estagnação e um início de retração. A confirmação ou não desta
percepção vai depender do comportamento da política monetária
[juros] daqui para a frente", afirmou o economista Flávio Castelo
Branco, da Unidade de Política
Econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
O próprio IBGE, mesmo evitando fazer juízo sobre os números
divulgados, admite que os resultados não são bons. "A economia
está há bastante tempo com taxa
de crescimento muito pequenas",
disse Roberto Olinto, chefe do
Departamento de Contas Nacionais do órgão responsável pelo
cálculo do PIB.
Famílias
Segundo ele, o exame dos indicadores macroeconômicos mostra que o fraco desempenho do
PIB é, em grande parte, determinado pela falta de ações que mudem os patamares de consumo
das famílias.
Principal indicador de volume
de gastos da economia, o consumo das famílias vem caindo sucessivamente desde meados de
2001. As causas, segundo avaliação do próprio IBGE, são os juros
elevados e o crédito apertado.
"A renda em queda, os juros altos e a falta de crédito explicam a
queda no consumo da família",
disse Olinto.
A análise divulgada pelo órgão
para servir de pano de fundo à divulgação do PIB mostra que, de
janeiro a março, a taxa de juros
média cobrada nas operações de
crédito com recursos livres foi de
87,3% ao ano para a pessoa física e
de 37,9% para a pessoa jurídica,
Embora o crescimento de 2%
registrado na comparação com o
mesmo trimestre de 2002 tenha
surpreendido positivamente muitos analistas, o economista Fernando Pinto Ferreira, da consultoria Global Invest, cuja previsão
era de 1,1%, não vê motivos para
comemorar.
"Não faz o menor sentido comemorar um número melhor na
casa decimal de expectativas pessimistas. O número é efetivamente ruim e mostra que a economia
está desaquecida", afirmou.
Agropecuária e exportações
A produção agropecuária, cujo
peso na composição geral do PIB
é de apenas 8,23% (ponderação
atualizada com base nos dados de
2002, válida para 2003), foi mais
uma vez o setor produtivo com
melhor desempenho. Na comparação com o último trimestre do
ano passado, apenas ela apresentou resultado positivo, com crescimento de 3,7%.
Os serviços, que representam o
maior peso setorial (60,35%), tiveram crescimento zero e a indústria (peso de 37,82%) registrou
queda de 2,2%. A soma dos pesos
dos três setores ultrapassa 100%
por questões estatísticas.
Em relação ao mesmo período
do ano passado, a agropecuária
cresceu 8,6%, a indústria, 2,9% e
os serviços, 0,8%.
Dentro da indústria, a extrativa
mineral cresceu 4,8%, a indústria
de transformação, 3,7% e a construção civil caiu 1,7%. No acumulado em quatro trimestres, a indústria extrativa-mineral cresceu
9%, contra 3,2% da indústria como um todo.
Exportações em queda
As exportações cresceram de janeiro a março 20,2%, em comparação com o mesmo período de
2002. Foi o terceiro trimestre seguido com crescimento acima de
20% nesta forma de comparação.
Já as importações caíram 4,6%, a
sétima queda consecutiva. O consumo do governo caiu 0,2%
Em relação ao trimestre anterior, retirados os efeitos típicos de
cada período (sazonais), as exportações, apesar de ainda terem
efeito positivo no PIB, caíram
1,3%, enquanto as importações
cresceram 4,5%. O consumo do
governo, nos seus três níveis (federal, estadual e municipal), cresceu 0,5%.
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