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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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REMÉDIO AMARGO

Indústria cai 2,2%, agricultura cresce 3,7%, e serviços, zero

PIB tem o pior desempenho dos últimos três trimestres

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A economia brasileira teve um desempenho fraco nos primeiros três meses de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ficou estagnada em relação ao trimestre anterior e desacelerou na comparação com o mesmo período do ano passado.
Os números mostraram, respectivamente, queda de 0,1% e crescimento de 2,0%. Acumulada em quatro trimestres, a taxa de crescimento do PIB no final de março deste ano era de 2,2%.
Em relação ao primeiro trimestre de 2002, houve alta de 2%. Foi o pior desempenho dos três últimos trimestres quando a comparação é feita em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. O PIB é a soma valores dos bens e serviços finais produzidos pelo país em um determinado período.
A agropecuária e as exportações foram os setores com maior destaque na composição do PIB. Apesar disso, as exportações perderam fôlego no primeiro trimestre do ano. As vendas externas haviam tido uma alta expressiva no final de 2002, o que elevou demais a base de comparação. Na indústria, o destaque positivo foi a extrativa mineral.

Crescimento
O efeito estatístico provocado por uma base de comparação baixa também ajudou o PIB a crescer em relação ao primeiro trimestre de 2002, último no qual vigorou o racionamento de energia elétrica no país. Naquele período, a economia havia apresentado queda de 0,8%.
"Estou vendo a economia entre a estagnação e um início de retração. A confirmação ou não desta percepção vai depender do comportamento da política monetária [juros] daqui para a frente", afirmou o economista Flávio Castelo Branco, da Unidade de Política Econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
O próprio IBGE, mesmo evitando fazer juízo sobre os números divulgados, admite que os resultados não são bons. "A economia está há bastante tempo com taxa de crescimento muito pequenas", disse Roberto Olinto, chefe do Departamento de Contas Nacionais do órgão responsável pelo cálculo do PIB.

Famílias
Segundo ele, o exame dos indicadores macroeconômicos mostra que o fraco desempenho do PIB é, em grande parte, determinado pela falta de ações que mudem os patamares de consumo das famílias.
Principal indicador de volume de gastos da economia, o consumo das famílias vem caindo sucessivamente desde meados de 2001. As causas, segundo avaliação do próprio IBGE, são os juros elevados e o crédito apertado.
"A renda em queda, os juros altos e a falta de crédito explicam a queda no consumo da família", disse Olinto.
A análise divulgada pelo órgão para servir de pano de fundo à divulgação do PIB mostra que, de janeiro a março, a taxa de juros média cobrada nas operações de crédito com recursos livres foi de 87,3% ao ano para a pessoa física e de 37,9% para a pessoa jurídica,
Embora o crescimento de 2% registrado na comparação com o mesmo trimestre de 2002 tenha surpreendido positivamente muitos analistas, o economista Fernando Pinto Ferreira, da consultoria Global Invest, cuja previsão era de 1,1%, não vê motivos para comemorar.
"Não faz o menor sentido comemorar um número melhor na casa decimal de expectativas pessimistas. O número é efetivamente ruim e mostra que a economia está desaquecida", afirmou.

Agropecuária e exportações
A produção agropecuária, cujo peso na composição geral do PIB é de apenas 8,23% (ponderação atualizada com base nos dados de 2002, válida para 2003), foi mais uma vez o setor produtivo com melhor desempenho. Na comparação com o último trimestre do ano passado, apenas ela apresentou resultado positivo, com crescimento de 3,7%.
Os serviços, que representam o maior peso setorial (60,35%), tiveram crescimento zero e a indústria (peso de 37,82%) registrou queda de 2,2%. A soma dos pesos dos três setores ultrapassa 100% por questões estatísticas.
Em relação ao mesmo período do ano passado, a agropecuária cresceu 8,6%, a indústria, 2,9% e os serviços, 0,8%.
Dentro da indústria, a extrativa mineral cresceu 4,8%, a indústria de transformação, 3,7% e a construção civil caiu 1,7%. No acumulado em quatro trimestres, a indústria extrativa-mineral cresceu 9%, contra 3,2% da indústria como um todo.

Exportações em queda
As exportações cresceram de janeiro a março 20,2%, em comparação com o mesmo período de 2002. Foi o terceiro trimestre seguido com crescimento acima de 20% nesta forma de comparação. Já as importações caíram 4,6%, a sétima queda consecutiva. O consumo do governo caiu 0,2%
Em relação ao trimestre anterior, retirados os efeitos típicos de cada período (sazonais), as exportações, apesar de ainda terem efeito positivo no PIB, caíram 1,3%, enquanto as importações cresceram 4,5%. O consumo do governo, nos seus três níveis (federal, estadual e municipal), cresceu 0,5%.


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