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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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Com freada da economia, consumidores cortam itens no supermercado, restaurante e escola do filhos

Consumo das famílias tem 7ª queda seguida

João Wainer/Folha Imagem
Luana Mara Mancini da Silva e o marido, Jorge Luiz da Silva, que dizem fazer mágica para chegar com dinheiro ao fim do mês


MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Luana Mara Mancini da Silva, 38, secretária, costumava ir ao supermercado duas vezes por mês. Em cada uma delas, enchia dois carrinhos. Costumava, mas agora ela e a família, o marido e duas filhas, tiveram que se adaptar: reduziram o supermercado, deixaram de ir a restaurantes, desistiram do clube e da escola privada de uma das filhas.
Segundo o IBGE, esta é a situação média das famílias brasileiras. No primeiro trimestre deste ano, o consumo das famílias caiu 2,3%.
Segundo as estatísticas da instituição, o indicador apresentou o sétimo resultado negativo consecutivo na comparação do trimestre com o mesmo período do ano anterior. Foi o pior resultado desde a queda de 2,59% registrada no último trimestre de 2001.
Desde 2001, diz Luana, a família "faz mágica para chegar ao final do mês com dinheiro". Ela trabalha na empresa do marido, um pequeno escritório de contabilidade cuja sede é na própria casa da família. "Nosso salário não caiu. Mas todos os dias você ia ao supermercado e o arroz estava um pouco mais caro. Depois era o leite. Depois a luz. Eu tive que ir cortando, pois uma hora o dinheiro não ia ser suficiente."

Menos crédito
Uma das razões para a queda do consumo das famílias é a restrição ao crédito provocada, principalmente, pela alta das taxas de juros. Segundo Flávio Castelo Branco, da CNI, o aperto sobre os juros tem impacto direto sobre a produção de bens destinados ao mercado doméstico, justamente porque ele restringe o poder de compra das famílias.
O volume de crédito para pessoas físicas caiu 3,15% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Aliado à queda no poder aquisitivo dos salários e à alta do desemprego, a falta de crédito fez as famílias consumirem menos.
O consumo corresponde à maior parte do PIB brasileiro -como ocorre na maioria dos países. Nos EUA, foi a persistência dos consumidores, que não deixaram de gastar e se endividar, que, segundo economistas, evitou que o país entrasse em recessão depois da crise das Bolsas e dos ataques de 11 de setembro.
No Brasil, a sequência de desempenhos negativos provocou no ano passado a perda de peso relativo do consumo das famílias na composição do PIB. No fechamento de 2002, ele representava 59,3% do valor do PIB como um todo, contra 60,6% no final de 2001. Como a economia não encolheu nos últimos anos, apesar de ter crescido pouco, os produtos e bens antes consumidos aqui foram destinados ao mercado externo. Ou seja, os bons resultados da balança comercial brasileira dos últimos meses tiveram um preço: as famílias sofreram uma perda de conforto -no jargão dos economistas, uma perda de bem-estar.

Para fora
Na outra ponta, as exportações, favorecidas pela desvalorização do real em relação ao dólar norte-americano, tiveram seu peso relativo em relação ao PIB aumentado de 13,2% para 15,8% de um ano para o outro. Os dados de consumo e exportação fazem parte do chamado PIB pela ótica da demanda, que, na prática, é a soma do consumo das famílias com as exportações, o consumo do governo, os investimentos e os estoques, menos as importações.

Colaborou a Sucursal do Rio

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