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OPINIÃO ECONÔMICA
Dois pesos e duas medidas
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Continua a batalha de opinião pública sobre o comportamento do Banco Central na
gestão da política monetária do
governo do Partido dos Trabalhadores. Sentindo-se fortalecido pelo respaldo que recebeu do presidente Lula, o sr. Meirelles nesta
semana deitou a falação. Isso é
muito ruim para ele e bom para
os que procuram mostrar os erros
do Banco Central. Vejamos as
maiores inconsistências de suas
últimas palavras.
Há algumas semanas o sr. Meirelles disse que o Banco Central,
diante do choque cambial do ano
passado criado pela crise de credibilidade com a eleição de Lula,
iria olhar para a meta de inflação
de 2003 além do calendário civil.
Uma declaração de puro bom
senso, para quem tem a responsabilidade de manter a moeda estável sem provocar perdas exageradas para a sociedade. Infelizmente, naquela ocasião, ele não foi
claro nesse compromisso, o que
está permitindo, agora, que ele
use novamente a meta de 8,5%
para 2003, como justificativa para a manutenção da taxa Selic.
Apenas quem está acompanhando, no detalhe, as movimentações do sr. Meirelles na opinião
pública percebe esse seu vaivém
verbal. Nesta semana ele anunciou a decisão de não rolar na sua
totalidade as operações de
"swap" cambial depois de negar,
como Pedro, por três vezes, qualquer intervenção no mercado de
câmbio!
Outra pérola que podemos pescar nas águas de suas últimas intervenções públicas é a visão que
tem sobre o futuro e o passado na
economia. Em audiência no Congresso, o presidente do Banco
Central cobrou vigorosamente
dos empresários uma mudança
de seu comportamento em relação à fixação dos preços em seus
negócios. Em vez de olhar para a
inflação passada, deveriam usar
a expectativa de inflação futura.
Exatamente o comportamento
oposto que defende nas reuniões
mensais do Copom para a manutenção dos juros atuais!
Em relação aos reajustes de salários nos dissídios coletivos também está presente a mesma inconsistência teórica. Nas famosas
atas das reuniões do Copom, podemos encontrar críticas veladas
aos reajustes salariais pelo IPC
dos 12 meses anteriores. Mais
uma vez empresário e trabalhador são responsabilizados por esse
comportamento antipatriótico
como os maiores culpados pelos
juros elevados de hoje.
Certamente nossos luminares
da PUC-RJ e do mercado financeiro que trabalham no BC esperavam que os empresários, que
estão pagando juros com base na
inflação passada, reajustassem
seus preços olhando para a frente.
Esquecem que é responsabilidade
dos dirigentes de empresas, em
uma economia de mercado, a
busca de resultados positivos em
suas operações. Da mesma forma,
os sindicatos têm como responsabilidade social a manutenção do
poder aquisitivo dos trabalhadores.
Volto, mais uma vez, ao ponto
central de minhas críticas da política atual de taxas de juros: o Copom está deixando de fazer uma
análise qualitativa e quantitativa
da inflação que estamos vivendo
hoje. Os números do acompanhamento cuidadoso dos preços que
estão sendo praticados hoje nos
mercados mostram uma inflação
da ordem de 6% a 7% ao ano.
Com exceção óbvia dos preços de
tarifas públicas, ainda influenciados pelos reajustes em razão da
inflação passada e da criação de
novos impostos e taxas.
Desculpe-me o leitor da Folha
por voltar a esta observação, mas
venho de uma terra onde se dá
um boi para não começar uma
briga; mas, uma vez iniciada, somente uma boiada pode interrompê-la. O custo social que essa
postura tecnocrática burra do
Banco Central, seguindo a escola
alemã do BCE, está impondo à
sociedade é inaceitável!
Não estou pedindo leniência
com a inflação ou os riscos de um
jogo de dados, como fui acusado.
Quero apenas responsabilidade
no entendimento deste fenômeno
conhecido que é a inflação no
Brasil. A economia está derretendo, e o mercado de trabalho, de
joelhos. O real voltou a valorizar-se, mesmo depois da medida
anunciada sobre os "swaps" cambiais, sob o peso dos juros estratosféricos de hoje. Especuladores
cambiais continuam a internar
dólares para aplicá-los em títulos
prefixados. Os juros futuros já
caíram e estão sendo mantidos
ainda elevados apenas pelas
ameaças feitas pela diretoria de
nossa autoridade às instituições
financeiras.
Alardeando ser defensor radical
dos mecanismos de mercado e da
não-intervenção nos negócios privados, o Banco Central apela hoje
para métodos autoritários para
manter elevada a estrutura a termo das taxas de juros no Brasil.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 60, engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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