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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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ANO DO DRAGÃO

Copom diz que aumento de remuneração baseado em índices passados alimenta inércia inflacionária

BC culpa reajuste de salário por manter juro

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O reajuste salarial dado aos trabalhadores no começo do ano, como reposição de perda do poder de compra do dinheiro provocada pela alta inflação no período, foi apontado pelo Banco Central como um dos principais fatores que levaram o Copom (Comitê de Política Monetária) a manter inalterada a taxa básica de juros da economia (Selic) neste mês, em 26,5% ao ano.
A justificativa consta na ata da reunião do Copom da semana passada, divulgada ontem. "Essa persistência da inflação tem sua origem nos reajustes de preços e salários ocorridos desde o início deste ano, que se basearam na elevada taxa de inflação acumulada nos últimos 12 meses, e não na sua projeção futura", escreveram os diretores do BC, que formam o Copom.
O medo do BC é que o reajuste dos salários baseados na inflação passada reacenda a indexação da economia, o que traria de volta a espiral inflacionária. "O Copom entende que a política monetária não deve sancionar reajustes de preços e salários baseados na inflação passada, dado o risco de se perpetuar a inflação em patamares elevados", informa a ata.
Em entrevista no Ministério da Fazenda, o diretor de Política Monetária do BC, Luiz Augusto Candiota, reforçou que a instituição não vai tolerar a chamada inércia inflacionária.
O modo de não sancionar esses reajustes é manter os juros elevados para reduzir o nível da atividade econômica e, assim, impedir a continuidade da alta de preços.
Segundo a ata, houve também um esforço do comércio e da indústria para recompor as margens de lucro, mesmo "num cenário de arrefecimento da demanda" [queda do consumo], o que contribuiu para a persistência do recuo da inflação.
Pela leitura da ata é difícil prever os próximos passos do Copom. Em um trecho, o BC afirmou que, de acordo com seu cenário básico, que inclui a taxa de juros inalterada em 26,5% ao ano e a cotação do dólar no mesmo nível da véspera da reunião do Copom, suas projeções indicavam inflação acima da meta prevista para o ano, de 8,5%.
A taxa de câmbio hoje está exatamente no mesmo nível em que se encontrava nos dias que antecederam a reunião do comitê, em torno de R$ 3. Se o dólar permanecer nesse valor, teoricamente o BC teria de aumentar -ou manter- a taxa de juros para cumprir a meta. Do contrário, teria desistir de cumprir ou aumentar a meta para poder reduzir os juros.
O BC diz ainda que, "na medida em que os índices de inflação ocorridos permanecem altos, ainda é prematuro concluir que a persistência inflacionária esteja definitivamente em queda e que o efeito da apreciação [do real] sobre os preços seja significativo". Isto é, hoje seria precipitado cortar os juros.
No entanto, o BC disse que "há sinais de que a política monetária começa a obter resultados no combate à inflação".

Gasolina sobe menos
O BC reduziu suas estimativas de aumento de preços para gasolina e energia elétrica neste ano.
Para a gasolina, a projeção de reajuste caiu de 8,4% para algo em "torno de 6%". A redução da estimativa para energia elétrica foi menor, de um aumento de 24,5% para 23,7%. No entanto, para o botijão de gás de cozinha, o BC reviu para cima a projeção de aumento, de 1,6% para 4,5%.


Colaborou Sílvia Mugnatto, da Sucursal de Brasília
A ata do Copom está disponível no site www.bcb.gov.br


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