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ANO DO DRAGÃO
Copom diz que aumento de remuneração baseado em índices passados alimenta inércia inflacionária
BC culpa reajuste de salário por manter juro
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O reajuste salarial dado aos trabalhadores no começo do ano,
como reposição de perda do poder de compra do dinheiro provocada pela alta inflação no período, foi apontado pelo Banco Central como um dos principais fatores que levaram o Copom (Comitê de Política Monetária) a manter
inalterada a taxa básica de juros
da economia (Selic) neste mês,
em 26,5% ao ano.
A justificativa consta na ata da
reunião do Copom da semana
passada, divulgada ontem. "Essa
persistência da inflação tem sua
origem nos reajustes de preços e
salários ocorridos desde o início
deste ano, que se basearam na elevada taxa de inflação acumulada
nos últimos 12 meses, e não na sua
projeção futura", escreveram os
diretores do BC, que formam o
Copom.
O medo do BC é que o reajuste
dos salários baseados na inflação
passada reacenda a indexação da
economia, o que traria de volta a
espiral inflacionária. "O Copom
entende que a política monetária
não deve sancionar reajustes de
preços e salários baseados na inflação passada, dado o risco de se
perpetuar a inflação em patamares elevados", informa a ata.
Em entrevista no Ministério da
Fazenda, o diretor de Política Monetária do BC, Luiz Augusto Candiota, reforçou que a instituição
não vai tolerar a chamada inércia
inflacionária.
O modo de não sancionar esses
reajustes é manter os juros elevados para reduzir o nível da atividade econômica e, assim, impedir
a continuidade da alta de preços.
Segundo a ata, houve também
um esforço do comércio e da indústria para recompor as margens de lucro, mesmo "num cenário de arrefecimento da demanda" [queda do consumo], o que
contribuiu para a persistência do
recuo da inflação.
Pela leitura da ata é difícil prever
os próximos passos do Copom.
Em um trecho, o BC afirmou que,
de acordo com seu cenário básico,
que inclui a taxa de juros inalterada em 26,5% ao ano e a cotação do
dólar no mesmo nível da véspera
da reunião do Copom, suas projeções indicavam inflação acima da
meta prevista para o ano, de 8,5%.
A taxa de câmbio hoje está exatamente no mesmo nível em que
se encontrava nos dias que antecederam a reunião do comitê, em
torno de R$ 3. Se o dólar permanecer nesse valor, teoricamente o
BC teria de aumentar -ou manter- a taxa de juros para cumprir
a meta. Do contrário, teria desistir
de cumprir ou aumentar a meta
para poder reduzir os juros.
O BC diz ainda que, "na medida
em que os índices de inflação
ocorridos permanecem altos, ainda é prematuro concluir que a
persistência inflacionária esteja
definitivamente em queda e que o
efeito da apreciação [do real] sobre os preços seja significativo".
Isto é, hoje seria precipitado cortar os juros.
No entanto, o BC disse que "há
sinais de que a política monetária
começa a obter resultados no
combate à inflação".
Gasolina sobe menos
O BC reduziu suas estimativas
de aumento de preços para gasolina e energia elétrica neste ano.
Para a gasolina, a projeção de
reajuste caiu de 8,4% para algo em
"torno de 6%". A redução da estimativa para energia elétrica foi
menor, de um aumento de 24,5%
para 23,7%. No entanto, para o
botijão de gás de cozinha, o BC reviu para cima a projeção de aumento, de 1,6% para 4,5%.
Colaborou Sílvia Mugnatto,
da Sucursal de Brasília
A ata do Copom está disponível
no site www.bcb.gov.br
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