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Apesar de nota maior, Bolsa cai 1,85%
Bovespa chegou a subir após anúncio da Fitch, mas recuo de commodities afetou ações de peso no índice
Para analistas, investidores
já haviam "antecipado"
decisão; dólar recua 1,09%
e termina dia a R$ 1,638,
menor cotação desde 1999
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar da reação inicial positiva à notícia de que a agência
Fitch Ratings elevou o país à categoria de grau de investimento, a Bolsa de Valores de São
Paulo acabou por perder fôlego
e terminou o pregão de ontem
com baixa de 1,85%.
Logo depois de a decisão da
Fitch Ratings ser conhecida, na
tarde de ontem, a Bovespa reagiu com certo entusiasmo: saiu
de uma queda que beirava os
1,60% para uma valorização
que chegou a 1,05%. Mas o movimento não se sustentou por
muito tempo.
As ações das empresas de
maior peso na composição do
índice Ibovespa terminaram
em baixa, atentas à depreciação
das commodities no exterior.
Entre as maiores quedas do
pregão de ontem, ficaram Vale
ON (-4,74%), Vale PNA
(-4,30%), Petrobras ON
(-4,09%), Gerdau PN (-3,97%)
e Petrobras PN (-3,23%). Com a
queda desses papéis, a Bolsa de
Valores de São Paulo não teve
como fechar em alta, mesmo
com ações de companhias de
menor porte registrando ganhos expressivos.
"Vimos uma correção nos
preços de importantes ações
devido ao desempenho das
commodities lá fora. O cenário
internacional para a Bovespa
não é muito benigno", afirma o
economista Alexandre Lintz,
do BNP Paribas.
O petróleo, que tem testado
patamares recordes nos últimos dias, encerrou ontem em
queda de 3,37%, cotado a US$
126,62 em Nova York.
O giro financeiro no pregão
foi expressivo, alcançando os
R$ 8,37 bilhões e superando em
muito a média diária do ano
(R$ 6,15 bilhões).
O Ibovespa, que agrupa as 66
ações mais negociadas, encerrou a 71.797 pontos. A valorização do índice acumulada neste
mês ainda é elevada, de 5,79%.
Apesar do resultado negativo
para a Bolsa, muitas ações subiram mais de 3% ontem, o que
demonstra que não faltou interesse por papéis brasileiros. As
maiores valorizações do Ibovespa ficaram com Nossa Caixa
ON (5,61%), Gol PN (4,94%),
JBS ON (4,30%), TAM PN
(3,90%) e Natura ON (3,33%).
Para o desempenho das
ações de Gol e TAM, foi relevante a análise favorável do Citigroup para o setor aéreo brasileiro, feita ontem.
"Nos últimos dias, o evento
[elevação do Brasil] já vinha
sendo antecipado pelos investidores", diz Luiz Henrique Carneiro, gerente de renda variável
da Paraty Investimentos. Em
outras palavras, o mercado financeiro já trabalhava tendo
como certo o anúncio da Fitch a
qualquer momento.
"O evento em si é bem positivo, e as perspectivas de médio e
longo prazo para a Bolsa são favoráveis", afirma Carneiro.
A Standard & Poor's já havia
promovido o Brasil a "investment grade" (grau de investimento) em 30 de abril. Após a
decisão da Fitch Ratings, falta
apenas, entre as mais respeitadas agências de risco do mundo, a Moody's tomar decisão semelhante.
O risco-país teve uma queda
expressiva ontem. No fim das
operações, o indicador de risco,
medido pelo banco americano
JPMorgan, marcava 192 pontos -baixa de 7,25%.
Dólar barato
O segmento de câmbio foi o
que respondeu de forma mais
significativa ao anúncio de ontem. O dólar recuou para R$
1,638, seu menor valor nominal
desde 20 de janeiro de 1999
-período em que o país atravessava crise cambial, que levou o governo a adotar a livre
flutuação das cotações.
A queda de 1,09% registrada
ontem pela moeda norte-americana fez com que o dólar passasse a acumular depreciação
de 7,82% no ano.
Com o dólar em níveis tão
baixos, analistas e investidores
questionam se o governo não
irá tomar alguma atitude para
tentar conter a contínua apreciação do real, que acaba por
afetar segmentos do setor exportador, além de estimular a
importação de produtos.
Estímulo extra
Com a concessão de "investment grade" ao Brasil por duas
agências de classificação de risco internacionais, espera-se
que um fluxo extra de recursos,
proveniente especialmente de
fundos de pensão americanos,
europeus e asiáticos, desembarque no mercado brasileiro.
Mas alguns analistas alertam
de que não se deve contar com
nenhuma enxurrada de capital
externo no curto prazo.
O economista Luis Fernando
Lopes, do Pátria Investimentos, diz que eram apenas alguns
fundos estrangeiros que tinham restrições para investir
em alguns países que não haviam conquistado o "investment grade". "E isso ocorria
principalmente com o segmento de renda fixa."
"O Brasil já estava recebendo
muito dinheiro de fora. Não
penso que vá haver uma explosão de entrada de recursos agora, devido ao "investment grade'", afirma Lopes.
Em abril, a Bovespa registrou
a maior entrada líquida de capital externo em seu pregão, que
ficou em R$ 6 bilhões. Neste
mês, o saldo das operações feitas pelos estrangeiros segue positivo, mas sofreu desaceleração -a entrada líquida no dia
26 estava em R$ 1,24 bilhão.
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