São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2008

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Apesar de nota maior, Bolsa cai 1,85%

Bovespa chegou a subir após anúncio da Fitch, mas recuo de commodities afetou ações de peso no índice

Para analistas, investidores já haviam "antecipado" decisão; dólar recua 1,09% e termina dia a R$ 1,638, menor cotação desde 1999


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar da reação inicial positiva à notícia de que a agência Fitch Ratings elevou o país à categoria de grau de investimento, a Bolsa de Valores de São Paulo acabou por perder fôlego e terminou o pregão de ontem com baixa de 1,85%.
Logo depois de a decisão da Fitch Ratings ser conhecida, na tarde de ontem, a Bovespa reagiu com certo entusiasmo: saiu de uma queda que beirava os 1,60% para uma valorização que chegou a 1,05%. Mas o movimento não se sustentou por muito tempo.
As ações das empresas de maior peso na composição do índice Ibovespa terminaram em baixa, atentas à depreciação das commodities no exterior.
Entre as maiores quedas do pregão de ontem, ficaram Vale ON (-4,74%), Vale PNA (-4,30%), Petrobras ON (-4,09%), Gerdau PN (-3,97%) e Petrobras PN (-3,23%). Com a queda desses papéis, a Bolsa de Valores de São Paulo não teve como fechar em alta, mesmo com ações de companhias de menor porte registrando ganhos expressivos.
"Vimos uma correção nos preços de importantes ações devido ao desempenho das commodities lá fora. O cenário internacional para a Bovespa não é muito benigno", afirma o economista Alexandre Lintz, do BNP Paribas.
O petróleo, que tem testado patamares recordes nos últimos dias, encerrou ontem em queda de 3,37%, cotado a US$ 126,62 em Nova York.
O giro financeiro no pregão foi expressivo, alcançando os R$ 8,37 bilhões e superando em muito a média diária do ano (R$ 6,15 bilhões).
O Ibovespa, que agrupa as 66 ações mais negociadas, encerrou a 71.797 pontos. A valorização do índice acumulada neste mês ainda é elevada, de 5,79%.
Apesar do resultado negativo para a Bolsa, muitas ações subiram mais de 3% ontem, o que demonstra que não faltou interesse por papéis brasileiros. As maiores valorizações do Ibovespa ficaram com Nossa Caixa ON (5,61%), Gol PN (4,94%), JBS ON (4,30%), TAM PN (3,90%) e Natura ON (3,33%).
Para o desempenho das ações de Gol e TAM, foi relevante a análise favorável do Citigroup para o setor aéreo brasileiro, feita ontem.
"Nos últimos dias, o evento [elevação do Brasil] já vinha sendo antecipado pelos investidores", diz Luiz Henrique Carneiro, gerente de renda variável da Paraty Investimentos. Em outras palavras, o mercado financeiro já trabalhava tendo como certo o anúncio da Fitch a qualquer momento.
"O evento em si é bem positivo, e as perspectivas de médio e longo prazo para a Bolsa são favoráveis", afirma Carneiro.
A Standard & Poor's já havia promovido o Brasil a "investment grade" (grau de investimento) em 30 de abril. Após a decisão da Fitch Ratings, falta apenas, entre as mais respeitadas agências de risco do mundo, a Moody's tomar decisão semelhante.
O risco-país teve uma queda expressiva ontem. No fim das operações, o indicador de risco, medido pelo banco americano JPMorgan, marcava 192 pontos -baixa de 7,25%.

Dólar barato
O segmento de câmbio foi o que respondeu de forma mais significativa ao anúncio de ontem. O dólar recuou para R$ 1,638, seu menor valor nominal desde 20 de janeiro de 1999 -período em que o país atravessava crise cambial, que levou o governo a adotar a livre flutuação das cotações.
A queda de 1,09% registrada ontem pela moeda norte-americana fez com que o dólar passasse a acumular depreciação de 7,82% no ano.
Com o dólar em níveis tão baixos, analistas e investidores questionam se o governo não irá tomar alguma atitude para tentar conter a contínua apreciação do real, que acaba por afetar segmentos do setor exportador, além de estimular a importação de produtos.

Estímulo extra
Com a concessão de "investment grade" ao Brasil por duas agências de classificação de risco internacionais, espera-se que um fluxo extra de recursos, proveniente especialmente de fundos de pensão americanos, europeus e asiáticos, desembarque no mercado brasileiro. Mas alguns analistas alertam de que não se deve contar com nenhuma enxurrada de capital externo no curto prazo.
O economista Luis Fernando Lopes, do Pátria Investimentos, diz que eram apenas alguns fundos estrangeiros que tinham restrições para investir em alguns países que não haviam conquistado o "investment grade". "E isso ocorria principalmente com o segmento de renda fixa."
"O Brasil já estava recebendo muito dinheiro de fora. Não penso que vá haver uma explosão de entrada de recursos agora, devido ao "investment grade'", afirma Lopes.
Em abril, a Bovespa registrou a maior entrada líquida de capital externo em seu pregão, que ficou em R$ 6 bilhões. Neste mês, o saldo das operações feitas pelos estrangeiros segue positivo, mas sofreu desaceleração -a entrada líquida no dia 26 estava em R$ 1,24 bilhão.


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