São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2008

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análise

Momento de bonança impõe nova agenda

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

À falta de crises aparentes, Luiz Inácio Lula da Silva se elegeu para um segundo mandato sem agenda -nada de reformas a serem promovidas ou metas a serem atingidas, apenas aproveitar os bons ventos da economia e propagandear as obras do PAC. Mas é a própria onda de prosperidade e confiança dos investidores que está obrigando o presidente e sua equipe a fazerem planos novamente.
O antigo superávit nas transações de bens e serviços com o resto do mundo se transformou em um déficit crescente; a inflação se acelerou; o crédito bancário bate recordes. São todos sinais de que o país, compreensivelmente, aproveita a bonança para consumir como poucas vezes se consumiu desde a redemocratização do país. E, em meio à fartura de dólares e de reais, o governo se vê obrigado a avaliar se não chegou a hora de segurar o gasto privado -e o seu próprio.
Como ensina a história econômica da América Latina, os períodos de crescimento econômico mais acelerado despertam as pressões políticas por mais obras públicas e programas sociais. Foi nos primeiros meses do Plano Real, por exemplo, que o salário mínimo subiu de R$ 70 para R$ 100, até hoje o maior reajuste já concedido. Agora, com expectativas mais elevadas, as demandas se multiplicam, da bancada da saúde no Congresso aos grandes produtores rurais, dos servidores públicos à clientela da política industrial.
Graças ao aumento da arrecadação acima de todas as projeções, o governo dispõe de uma sobra de caixa suficiente para reduzir a dívida pública sem sacrificar os gastos que garantem a popularidade do presidente e as relações com seus aliados na Câmara e no Senado. Basta que as despesas não sejam elevadas ainda mais.
Não por acaso, o aumento do superávit primário voltou à pauta oficial de discussões, pela primeira vez sem estar vinculado a alguma emergência financeira. Ao menos na lógica ortodoxa, é o complemento natural ao aumento de juros já promovido pelo Banco Central e às medidas em estudo para conter o crédito.
Todo crescimento econômico produz desequilíbrios que, mais à frente, ameaçam sua continuidade, seja inflação, inadimplência, déficit comercial ou orçamentário. Gerir a prosperidade é mais difícil do que parece -ainda mais quando não se tem prática.


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