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análise
Momento de bonança impõe nova agenda
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
À falta de crises aparentes, Luiz Inácio Lula da
Silva se elegeu para um segundo mandato sem agenda -nada de reformas a
serem promovidas ou metas a serem atingidas, apenas aproveitar os bons
ventos da economia e propagandear as obras do
PAC. Mas é a própria onda
de prosperidade e confiança dos investidores que está obrigando o presidente
e sua equipe a fazerem planos novamente.
O antigo superávit nas
transações de bens e serviços com o resto do mundo
se transformou em um déficit crescente; a inflação
se acelerou; o crédito bancário bate recordes. São
todos sinais de que o país,
compreensivelmente,
aproveita a bonança para
consumir como poucas vezes se consumiu desde a
redemocratização do país.
E, em meio à fartura de dólares e de reais, o governo
se vê obrigado a avaliar se
não chegou a hora de segurar o gasto privado -e o
seu próprio.
Como ensina a história
econômica da América Latina, os períodos de crescimento econômico mais
acelerado despertam as
pressões políticas por
mais obras públicas e programas sociais. Foi nos
primeiros meses do Plano
Real, por exemplo, que o
salário mínimo subiu de
R$ 70 para R$ 100, até hoje
o maior reajuste já concedido. Agora, com expectativas mais elevadas, as demandas se multiplicam, da
bancada da saúde no Congresso aos grandes produtores rurais, dos servidores públicos à clientela da
política industrial.
Graças ao aumento da
arrecadação acima de todas as projeções, o governo dispõe de uma sobra de
caixa suficiente para reduzir a dívida pública sem sacrificar os gastos que garantem a popularidade do
presidente e as relações
com seus aliados na Câmara e no Senado. Basta que
as despesas não sejam elevadas ainda mais.
Não por acaso, o aumento do superávit primário
voltou à pauta oficial de
discussões, pela primeira
vez sem estar vinculado a
alguma emergência financeira. Ao menos na lógica
ortodoxa, é o complemento natural ao aumento de
juros já promovido pelo
Banco Central e às medidas em estudo para conter
o crédito.
Todo crescimento econômico produz desequilíbrios que, mais à frente,
ameaçam sua continuidade, seja inflação, inadimplência, déficit comercial
ou orçamentário. Gerir a
prosperidade é mais difícil
do que parece -ainda
mais quando não se tem
prática.
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