São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004

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CRISE NO AR

Presidente do BNDES diz que competição no setor é "suicídio coletivo"

Lessa defende parceria Varig/TAM

HUMBERTO MEDINA
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do BNDES, Carlos Lessa, defendeu ontem a manutenção do compartilhamento de vôos entre as empresas Varig e TAM. O Ministério da Fazenda já havia emitido um parecer contrário à prática, que resultou em diminuição da competição e aumento de tarifas.
Lessa, no entanto, acredita que a competição entre as empresas não vá ser positiva. "Muitas vezes a concorrência é um ato de haraquiri [suicídio] coletivo", disse. "O Estado nunca deixa que haja o suicídio coletivo, porque [a aviação comercial] é um serviço público fundamental para o país", afirmou.
Questionado sobre se a manutenção do compartilhamento de vôos (conhecido no jargão técnico como "code-share") não causaria distorções no mercado, ele respondeu: "Não há pior distorção de mercado do que as empresas quebrarem. Essa é a pior de todas, é o mercado cometendo haraquiri, é o mercado se autodestruindo".
Lessa afirmou também que todas as companhias vão perder, caso o compartilhamento de vôos acabe. "A aviação brasileira, sem o "code-share", entra em um processo competitivo em que todas as companhias vão ser perdedoras", disse.
Ele deu como praticamente descartada a idéia de fusão entre a TAM e a Varig, como era o projeto inicial das empresas, com o apoio do governo. "Apostamos muito na proposta da fusão. Aparentemente, a idéia da fusão não avançou. A aviação brasileira não pode desaparecer", disse.

Ajuda
O ministro da Defesa, José Viegas, afirmou que há possibilidade de interesse privado na Varig, caso a empresa seja saneada com a ajuda do governo federal.
"Nesse contexto nós teríamos de ver a questão do aporte, do eventual aporte, de recursos. Mas não há uma decisão tomada nesse sentido. É preciso criar condições favoráveis para que isso possa ocorrer. E nós continuamos empenhados nesse propósito", afirmou o ministro.
Segundo Viegas, o BNDES poderia ajudar no saneamento da empresa. "O BNDES tem a disposição de fazê-lo, desde que se criem as condições institucionais positivas e necessárias para isso", disse Viegas. Ele e Lessa falaram sobre o setor de aviação civil após uma cerimônia realizada no Ministério da Defesa.

Parecer contrário
Em maio, a Seae (Secretaria de Acompanhamento Econômico) -subordinada ao ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda)- concluiu parecer em que apontava indícios de cartel entre as duas companhias aéreas e pedia o fim do compartilhamento. O documento foi encaminhado ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a quem caberá julgar o caso.
O parecer da secretaria afirma que as empresas reduziram a oferta de vôos ao consumidor, elevaram tarifas e aumentaram a margem de lucro.


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