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DEZ ANOS DE REAL
Ex-presidente afirma que Real não foi antecipado para eleger FHC e reclama de falta de reconhecimento por parte da mídia
Eleições não apressaram plano, diz Itamar
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Itamar Franco (PMDB), 74, presidente da República de outubro
de 1992 a 1994, período em que foi
adotado o Real, disse à Agência
Folha que a implantação do plano
não foi apressada por causa do
pleito que elegeu presidente Fernando Henrique Cardoso, seu ex-ministro da Fazenda. "O plano estava pronto e podia ser implantado", afirmou Itamar, hoje embaixador do Brasil na Itália.
Mas ele disse que a adoção do
real, a moeda, em 1º de julho de
1994, trouxe consigo "duas grandes preocupações". Uma delas era
justamente o fato de que, naquele
momento, o país estava em pleno
processo eleitoral, e o resultado
das medidas econômicas aplicadas seria decisivo. A outra era a
questão cambial.
"Em parte, temia pela candidatura [de FHC]. Mas eu achava que
podia implantar. E disse ao Fernando Henrique que não se preocupasse com a eleição. E é um fato
incontestável que a sua eleição foi
por causa do Real, incontestável.
Mas não foi só isso, ele teve também seus méritos", disse Itamar,
que acrescentou: "Quando aconteceu a eleição, a economia já havia sido estabilizada".
Em 1º de julho, FHC já não era
mais o ministro -deixou o governo em abril para concorrer à
Presidência. Seu sucessor na Fazenda foi o embaixador Rubens
Ricupero, em quem Itamar afirmava confiar plenamente.
Com a âncora cambial, o real
passou a valer mais do que o dólar. A preocupação existiu porque
era algo novo e porque Ricupero
tinha dúvidas. Mas Itamar apoiou
o argumento técnico de que era
preciso uma moeda forte naquele
instante, afirmou.
"Bem mais tarde é que o país sofreu [com o câmbio]", disse o ex-presidente, para quem o Plano
Real deveria ter passado por "pequenos ajustes". Mas a essência
foi correta, avalia.
"Um plano que consegue sobreviver por dez anos, com o país
permanecendo em um Estado democrático, um plano que não foi
plantado e [foi feito com] a democracia em plena vigência. Esses foram os méritos", disse.
"Tínhamos dois objetivos: o primeiro era assegurar a ordem democrática e o Estado de Direito; o
segundo era buscar, desde o início, uma estabilidade econômica.
O Congresso teve um papel importante, e a sociedade entendeu
que não era um plano igual aos
outros", completou.
Itamar destaca o fato de não ter
havido congelamento de preços,
como nas medidas econômicas
anteriores, nem quebra de contratos, obtendo credibilidade.
Ele elogiou todos os que estiveram na gestação e na implantação
do plano, em todas as suas fases,
que começou com o Fundo Social
de Emergência, depois com a
URV (Unidade Real de Valor) e,
por fim, com a substituição do
cruzeiro real pelo real.
O ex-presidente citou como importantes cinco ministros, mesmo os que estiveram no governo
antes da gestação do Real (Paulo
Haddad, Eliseu Resende, FHC,
Ricupero e Ciro Gomes).
Itamar só reclama do fato de
parte da mídia não dar o devido
reconhecimento a ele, que era o
presidente na época. "Passados
dez anos, se não existisse o presidente Itamar, não haveria os ministros, como bem disse o ministro Ricupero [na Folha, no último
domingo]. Mas são coisas passadas", afirmou ele.
Paralelos
Ao assumir o governo de Minas,
em 1999, Itamar foi o maior opositor de FHC, que começava seu
segundo mandato. Ele sempre faz
questão de ressaltar que o crescimento da economia na sua gestão
presidencial chegou a "5,9% do
PIB [Produto Interno Bruto] e
não mais se repetiu", que não havia "desemprego exagerado" e
que o endividamento do país era
bem menor.
É com esses paralelos que ele
critica as medidas econômicas
pós-Real, ao enxergar riscos de falência de Estados e municípios. E
inclui nas suas críticas o governo
Lula, que ele ajudou a eleger e
apóia, mas cobrando sempre a
correção da "bússola".
"O enfraquecimento de Estados
e municípios existe. O Estado federado é só no papel. E o governador Aécio Neves [PSDB-MG] defende com muito vigor um novo
modelo", disse, ao se referir ao fato de o tucano, seu aliado, estar
sempre criticando a concentração
dos recursos na União.
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