São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004

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DEZ ANOS DE REAL

Ex-presidente afirma que Real não foi antecipado para eleger FHC e reclama de falta de reconhecimento por parte da mídia

Eleições não apressaram plano, diz Itamar

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Itamar Franco (PMDB), 74, presidente da República de outubro de 1992 a 1994, período em que foi adotado o Real, disse à Agência Folha que a implantação do plano não foi apressada por causa do pleito que elegeu presidente Fernando Henrique Cardoso, seu ex-ministro da Fazenda. "O plano estava pronto e podia ser implantado", afirmou Itamar, hoje embaixador do Brasil na Itália.
Mas ele disse que a adoção do real, a moeda, em 1º de julho de 1994, trouxe consigo "duas grandes preocupações". Uma delas era justamente o fato de que, naquele momento, o país estava em pleno processo eleitoral, e o resultado das medidas econômicas aplicadas seria decisivo. A outra era a questão cambial.
"Em parte, temia pela candidatura [de FHC]. Mas eu achava que podia implantar. E disse ao Fernando Henrique que não se preocupasse com a eleição. E é um fato incontestável que a sua eleição foi por causa do Real, incontestável. Mas não foi só isso, ele teve também seus méritos", disse Itamar, que acrescentou: "Quando aconteceu a eleição, a economia já havia sido estabilizada".
Em 1º de julho, FHC já não era mais o ministro -deixou o governo em abril para concorrer à Presidência. Seu sucessor na Fazenda foi o embaixador Rubens Ricupero, em quem Itamar afirmava confiar plenamente.
Com a âncora cambial, o real passou a valer mais do que o dólar. A preocupação existiu porque era algo novo e porque Ricupero tinha dúvidas. Mas Itamar apoiou o argumento técnico de que era preciso uma moeda forte naquele instante, afirmou.
"Bem mais tarde é que o país sofreu [com o câmbio]", disse o ex-presidente, para quem o Plano Real deveria ter passado por "pequenos ajustes". Mas a essência foi correta, avalia.
"Um plano que consegue sobreviver por dez anos, com o país permanecendo em um Estado democrático, um plano que não foi plantado e [foi feito com] a democracia em plena vigência. Esses foram os méritos", disse.
"Tínhamos dois objetivos: o primeiro era assegurar a ordem democrática e o Estado de Direito; o segundo era buscar, desde o início, uma estabilidade econômica. O Congresso teve um papel importante, e a sociedade entendeu que não era um plano igual aos outros", completou.
Itamar destaca o fato de não ter havido congelamento de preços, como nas medidas econômicas anteriores, nem quebra de contratos, obtendo credibilidade.
Ele elogiou todos os que estiveram na gestação e na implantação do plano, em todas as suas fases, que começou com o Fundo Social de Emergência, depois com a URV (Unidade Real de Valor) e, por fim, com a substituição do cruzeiro real pelo real.
O ex-presidente citou como importantes cinco ministros, mesmo os que estiveram no governo antes da gestação do Real (Paulo Haddad, Eliseu Resende, FHC, Ricupero e Ciro Gomes).
Itamar só reclama do fato de parte da mídia não dar o devido reconhecimento a ele, que era o presidente na época. "Passados dez anos, se não existisse o presidente Itamar, não haveria os ministros, como bem disse o ministro Ricupero [na Folha, no último domingo]. Mas são coisas passadas", afirmou ele.

Paralelos
Ao assumir o governo de Minas, em 1999, Itamar foi o maior opositor de FHC, que começava seu segundo mandato. Ele sempre faz questão de ressaltar que o crescimento da economia na sua gestão presidencial chegou a "5,9% do PIB [Produto Interno Bruto] e não mais se repetiu", que não havia "desemprego exagerado" e que o endividamento do país era bem menor.
É com esses paralelos que ele critica as medidas econômicas pós-Real, ao enxergar riscos de falência de Estados e municípios. E inclui nas suas críticas o governo Lula, que ele ajudou a eleger e apóia, mas cobrando sempre a correção da "bússola".
"O enfraquecimento de Estados e municípios existe. O Estado federado é só no papel. E o governador Aécio Neves [PSDB-MG] defende com muito vigor um novo modelo", disse, ao se referir ao fato de o tucano, seu aliado, estar sempre criticando a concentração dos recursos na União.


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