São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004

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CONTAGEM REGRESSIVA

Pela 1ª vez desde 2002, captação conjunta de Brasil, México, Argentina, Chile e Peru foi negativa

À espera do Fed, investidor deixa fundo latino

Ron Edmonds - 24.fev.04/Reuters
O presidente do Fed (banco central dos EUA), Alan Greenspan


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Hoje o Federal Reserve (banco central dos EUA) anuncia o destino das taxa de juros do país. Apesar de ainda não ser conhecida, essa decisão já causou bastante turbulência no mercado financeiro nos últimos dois meses.
Os fundos de investimentos latino-americanos estiveram entre os que sofreram os efeitos negativos da expectativa em torno da decisão do Fed. Em maio, os cinco países que concentram quase todo o mercado de fundos latinos (Brasil, México, Chile, Argentina e Peru) tiveram captação negativa, fato inédito desde que a consultoria Thomson Financial começou a realizar uma pesquisa mensal nessa área, há dois anos.
Os juros básicos dos EUA estão em 1% ao ano -a menor taxa em mais de 40 anos. A expectativa predominante no mercado é a de que a taxa seja elevada em 0,25 ponto percentual. "A probabilidade de ser diferente disso é baixíssima. Mas, se acontecer, a resposta do mercado será muito ruim", diz Rodrigo Boulos, economista do banco Santos.
Se as taxas de juros nos Estados Unidos sobem, a tendência é os países emergentes sofrerem conseqüências diretas. Isso acontece porque os títulos do Tesouro norte-americano, considerados os mais seguros do mundo, passam a pagar taxas melhores, o que estimula investidores a trocar papéis de países emergentes, que carregam mais riscos, por eles.

Fuga
No mês passado, os saques nos fundos latino-americanos superaram as aplicações em US$ 3,5 bilhões. O destaque ficou com o Brasil, que teve resultado negativo de US$ 1,38 bilhão, seguido pelo mercado argentino, que perdeu US$ 849 milhões, e o chileno, cujas saídas de recursos ultrapassaram as entradas em US$ 757 milhões.
No caso do Brasil, o saldo negativo de maio representou a maior fuga de recursos dos fundos de investimentos em um mês desde setembro de 2002, véspera da eleição do presidente Lula.
"Em maio, vimos uma realocação de carteiras, antecipando a decisão do Fed sobre os juros", afirma Guillermo Mazzoni, chefe do departamento de análise da Thomson Financial.
Para Mazzoni, há cerca de dois meses "o mercado passou a apostar que os juros seriam elevados nos EUA, e a resposta dos investidores a isso foi privilegiar a cautela em vez do ganho". Ou seja, sair dos mercados de emergentes (como os latinos) e migrar para outros mais seguros, como o de títulos do Tesouro dos EUA.
Em abril, o mercado de fundos brasileiro já havia tido captação negativa de US$ 163,9 milhões.
Apesar das perdas recentes, o balanço da indústria latina de fundos no ano é positivo, em US$ 6,58 bilhões.
Neste mês, a Bolsa de Valores de São Paulo está sentindo os efeitos da saída de investidores estrangeiros. Até o último dia 24, as vendas de ações com capital estrangeiro superaram as compras em R$ 581,3 milhões.
Para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a provável elevação da taxa de juros norte-americana não deve gerar instabilidade no Brasil.
Já o BIS (sigla em inglês para Banco de Compensações Internacionais) diz acreditar -segundo o gerente-geral da instituição, Malcolm Knight- que a alta dos juros internacionais representa riscos para os países altamente endividados, como o Brasil.


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