São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004

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ARTIGO

Três motivos para ser otimista sobre a economia mundial

MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"

Quais são as perspectivas da economia mundial, não só para o mês ou o ano que vem mas para as décadas que virão? Até que ponto podemos manter o otimismo, nos limites da sensatez? A resposta, sugiro, é que podemos ser "muito" otimistas. Fica cada vez mais evidente que os três principais propulsores do crescimento -a elevação da produtividade no núcleo central da economia mundial, o esforço dos países pobres para tirar o atraso sobre os ricos e a integração econômica- operam em favor do crescimento econômico de longo prazo.

Primeiro elemento
Comecemos pela produtividade na mais avançada das grandes economias mundiais. A média móvel bienal do crescimento da produtividade por hora de trabalho nos setores não-agrícolas dos EUA vem subindo quase sem parar desde 1994 e atingiu um patamar de quase 5% ao ano. Em estudo recente, Robert Gordon, da Universidade Northwestern, aponta que a produção por hora trabalhada cresceu em ritmo anualizado de 4,5%, mesmo durante a desaceleração econômica de 2001 a 2003, ante apenas 2% durante a desaceleração da economia no período 1990-1992.
O que isso poderia implicar para o futuro? Stephen Oliner e Daniel Sichel, do Fed (o BC dos EUA), reportam que as estimativas de crescimento constante na produtividade da mão-de-obra norte-americana variam de um mínimo de 1,3% ao ano a um máximo de 3%. Esses números demonstram considerável incerteza. Mas uma visão razoável seria que a tendência melhorou por volta de um ponto percentual ao ano da metade dos anos 90 até agora. Se for esse o caso, a produtividade da mão-de-obra americana até 2015 será 20% mais alta do que teria sido caso a tendência anterior a 1995 se mantivesse. Além disso, outras economias se provaram capazes de reproduzir essa melhora, pelo menos parcialmente.

Segundo elemento
O segundo elemento da história é a convergência entre os padrões de vida dos países mais pobres e os dos mais ricos. Quanto a isso, a história mais importante de nossa era é a ascensão -ou melhor, a recuperação- da Ásia. De acordo com o historiador da economia Angus Maddison, no começo do século 19, a Ásia gerava cerca de 60% da produção mundial (medida em termos de paridade de poder aquisitivo). A China sozinha respondia por um terço, e a Índia, por um sexto da produção mundial. Depois, veio um século e meio de estagnação, com a exceção apenas do Japão. Por volta de 1950, a proporção asiática no PIB (Produto Interno Bruto) mundial caíra para menos de 20%.
Mas esse foi o ponto mais baixo. Primeiro o Japão, a seguir diversas das pequenas economias asiáticas e por fim a China e, em menor medida, a Índia subiram no ônibus da convergência. Entre 1950 e 1973, a fatia asiática no PIB mundial subiu para 24%, com base quase exclusivamente no dinamismo demonstrado pelo Japão. Por volta de 2001, ela chegara a 38%, com a fatia chinesa subindo de 5% em 1973 para 12% em 2001, e a Índia crescendo de 3% para 5% no mesmo período.
Por volta de 2001, a renda per capita real da China era de apenas 15% do nível norte-americano. Na Índia, a renda per capita era de apenas 7% do nível norte-americano em 2001. Esses imensos diferenciais de padrão de vida indicam até que ponto China e Índia podem, caso adotem as políticas e instituições corretas, elevar sua renda e produtividade per capita replicando a tecnologia norte-americana, educando seus povos de maneira muito mais rigorosa e elevando seus volumes de capital.

Terceiro elemento
Os países em desenvolvimento asiáticos abrigam três vezes mais habitantes do que o conjunto dos países de alta renda atuais. Isso ajuda a explicar o poder da terceira força que está em ação: a integração econômica, reforçada pelas mesmas tecnologias novas que estimularam o crescimento da produtividade dos EUA. Países com uma população de 3 bilhões de habitantes estão sendo empurrados, ou melhor, puxados para a economia mundial.
O comércio mundial vem crescendo de maneira mais rápida que a produção. Entre 1950 e 2002, o comércio mundial de bens industrializados aumentou 4.300%, enquanto a produção da indústria mundial cresceu pouco mais de 1.000%. De forma semelhante, entre 1990 e 2002 o volume do comércio mundial de industrializados cresceu 5,5% ao ano, enquanto a produção registrava crescimento de 2,1% anuais.
Recentemente, a alta no investimento estrangeiro direto vem-se mostrando mais dinâmica do que o crescimento do comércio. Tanto as vendas de filiais estrangeiras quanto o montante total de fluxos de investimento estrangeiro direto mais que dobraram entre 1990 e 2002, como proporção do PIB mundial. A elevação no investimento estrangeiro direto foi interrompida durante a desaceleração econômica: entre 2000 e 2002, os fluxos caíram à metade. Mas a tendência rumo a maior investimento estrangeiro direto provavelmente não se inverterá.

Áreas vulneráveis
Essas três forças inflexíveis que impulsionam o crescimento econômico de longo prazo são de fato poderosas. Mas não é difícil encontrar áreas vulneráveis: a dependência da economia mundial com relação a uma forte demanda norte-americana e as dívidas externa e interna cada vez mais elevadas da superpotência; o terrorismo e outras formas de instabilidade geopolítica; os tumultos políticos na região do golfo Pérsico, onde dois terços das reservas internacionais conhecidas de petróleo estão localizadas; respostas protecionistas à ascensão das novas potências econômicas asiáticas; e restrições ambientais e de recursos.
Mas permitam-me, por uma vez, enfatizar os pontos positivos. O rápido crescimento da produtividade no núcleo central da economia mundial, o forte crescimento das economias asiáticas com suas enormes populações e a globalização que aproxima cada vez mais as economias mundiais são, juntos, uma poderosa combinação. Temos muitos riscos a enfrentar, é certo. Mas também temos imensas oportunidades.


Tradução de Paulo Migliacci


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