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ARTIGO
Três motivos para ser otimista sobre a economia mundial
MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"
Quais são as perspectivas da
economia mundial, não só
para o mês ou o ano que vem mas
para as décadas que virão? Até
que ponto podemos manter o otimismo, nos limites da sensatez? A
resposta, sugiro, é que podemos
ser "muito" otimistas. Fica cada
vez mais evidente que os três
principais propulsores do crescimento -a elevação da produtividade no núcleo central da economia mundial, o esforço dos países
pobres para tirar o atraso sobre os
ricos e a integração econômica-
operam em favor do crescimento
econômico de longo prazo.
Primeiro elemento
Comecemos pela produtividade
na mais avançada das grandes
economias mundiais. A média
móvel bienal do crescimento da
produtividade por hora de trabalho nos setores não-agrícolas dos
EUA vem subindo quase sem parar desde 1994 e atingiu um patamar de quase 5% ao ano. Em estudo recente, Robert Gordon, da
Universidade Northwestern,
aponta que a produção por hora
trabalhada cresceu em ritmo
anualizado de 4,5%, mesmo durante a desaceleração econômica
de 2001 a 2003, ante apenas 2%
durante a desaceleração da economia no período 1990-1992.
O que isso poderia implicar para o futuro? Stephen Oliner e Daniel Sichel, do Fed (o BC dos
EUA), reportam que as estimativas de crescimento constante na
produtividade da mão-de-obra
norte-americana variam de um
mínimo de 1,3% ao ano a um máximo de 3%. Esses números demonstram considerável incerteza.
Mas uma visão razoável seria que
a tendência melhorou por volta
de um ponto percentual ao ano da
metade dos anos 90 até agora. Se
for esse o caso, a produtividade da
mão-de-obra americana até 2015
será 20% mais alta do que teria sido caso a tendência anterior a
1995 se mantivesse. Além disso,
outras economias se provaram
capazes de reproduzir essa melhora, pelo menos parcialmente.
Segundo elemento
O segundo elemento da história
é a convergência entre os padrões
de vida dos países mais pobres e
os dos mais ricos. Quanto a isso, a
história mais importante de nossa
era é a ascensão -ou melhor, a
recuperação- da Ásia. De acordo com o historiador da economia Angus Maddison, no começo
do século 19, a Ásia gerava cerca
de 60% da produção mundial
(medida em termos de paridade
de poder aquisitivo). A China sozinha respondia por um terço, e a
Índia, por um sexto da produção
mundial. Depois, veio um século e
meio de estagnação, com a exceção apenas do Japão. Por volta de
1950, a proporção asiática no PIB
(Produto Interno Bruto) mundial
caíra para menos de 20%.
Mas esse foi o ponto mais baixo.
Primeiro o Japão, a seguir diversas das pequenas economias asiáticas e por fim a China e, em menor medida, a Índia subiram no
ônibus da convergência. Entre
1950 e 1973, a fatia asiática no PIB
mundial subiu para 24%, com base quase exclusivamente no dinamismo demonstrado pelo Japão.
Por volta de 2001, ela chegara a
38%, com a fatia chinesa subindo
de 5% em 1973 para 12% em 2001,
e a Índia crescendo de 3% para
5% no mesmo período.
Por volta de 2001, a renda per
capita real da China era de apenas
15% do nível norte-americano.
Na Índia, a renda per capita era de
apenas 7% do nível norte-americano em 2001. Esses imensos diferenciais de padrão de vida indicam até que ponto China e Índia
podem, caso adotem as políticas e
instituições corretas, elevar sua
renda e produtividade per capita
replicando a tecnologia norte-americana, educando seus povos
de maneira muito mais rigorosa e
elevando seus volumes de capital.
Terceiro elemento
Os países em desenvolvimento
asiáticos abrigam três vezes mais
habitantes do que o conjunto dos
países de alta renda atuais. Isso
ajuda a explicar o poder da terceira força que está em ação: a integração econômica, reforçada pelas mesmas tecnologias novas que
estimularam o crescimento da
produtividade dos EUA. Países
com uma população de 3 bilhões
de habitantes estão sendo empurrados, ou melhor, puxados para a
economia mundial.
O comércio mundial vem crescendo de maneira mais rápida
que a produção. Entre 1950 e
2002, o comércio mundial de bens
industrializados aumentou
4.300%, enquanto a produção da
indústria mundial cresceu pouco
mais de 1.000%. De forma semelhante, entre 1990 e 2002 o volume
do comércio mundial de industrializados cresceu 5,5% ao ano,
enquanto a produção registrava
crescimento de 2,1% anuais.
Recentemente, a alta no investimento estrangeiro direto vem-se
mostrando mais dinâmica do que
o crescimento do comércio. Tanto as vendas de filiais estrangeiras
quanto o montante total de fluxos
de investimento estrangeiro direto mais que dobraram entre 1990
e 2002, como proporção do PIB
mundial. A elevação no investimento estrangeiro direto foi interrompida durante a desaceleração econômica: entre 2000 e 2002,
os fluxos caíram à metade. Mas a
tendência rumo a maior investimento estrangeiro direto provavelmente não se inverterá.
Áreas vulneráveis
Essas três forças inflexíveis que
impulsionam o crescimento econômico de longo prazo são de fato
poderosas. Mas não é difícil encontrar áreas vulneráveis: a dependência da economia mundial
com relação a uma forte demanda
norte-americana e as dívidas externa e interna cada vez mais elevadas da superpotência; o terrorismo e outras formas de instabilidade geopolítica; os tumultos
políticos na região do golfo Pérsico, onde dois terços das reservas
internacionais conhecidas de petróleo estão localizadas; respostas
protecionistas à ascensão das novas potências econômicas asiáticas; e restrições ambientais e de
recursos.
Mas permitam-me, por uma
vez, enfatizar os pontos positivos.
O rápido crescimento da produtividade no núcleo central da economia mundial, o forte crescimento das economias asiáticas
com suas enormes populações e a
globalização que aproxima cada
vez mais as economias mundiais
são, juntos, uma poderosa combinação. Temos muitos riscos a enfrentar, é certo. Mas também temos imensas oportunidades.
Tradução de Paulo Migliacci
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