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Não há prazo para sanear bancos, dizem banqueiros centrais
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BASILEIA
Os banqueiros centrais dos
55 principais países do mundo
encerraram ontem a assembleia geral do BIS (Banco de
Compensações Internacionais) com uma avaliação hipercautelosa sobre a saída da crise
global, a ponto de nem sequer
se animarem a prever quando o
sistema financeiro estará consertado, conserto que eles próprios admitem ser a precondição para dar sustentabilidade à
incipiente recuperação.
"Há um significativo trabalho à frente [para reparar o sistema financeiro], em ações do
setor privado com apoio do setor público, pelo que não me
animo a dar um prazo", diz Jaime Caruana, o espanhol que assumiu a direção geral do BIS.
A rigor, o trabalho ainda a ser
feito é o mesmo desde que a
quebra do Lehman Brothers,
em setembro passado, expôs as
rachaduras nos bancos e entidades financeiras: os bancos
ainda devem detalhar as perdas
que sofreram com investimentos em instrumentos arriscados e livrar-se de "ativos tóxicos", especificou Caruana.
Ainda há todo o processo de
"desalavancamento", ou seja,
de escapar da cascata de empréstimos feitos ou tomados
sem amparo em ativos sólidos.
Essa cautelosa análise ajuda
a entender por que o relatório
do BIS, divulgado ontem, não
faz previsões sobre a retomada
do crescimento no mundo.
Ajuda a explicar também por
que os BCs não trataram das
"estratégias de saída", ou seja,
do início da reversão dos portentosos pacotes de gasto público ou de alívio monetários
(redução dos juros). Em tese, o
instinto natural de banqueiros
centrais é conservador, tanto
em matéria fiscal (gasto público) como monetária.
Mas, diz o brasileiro Henrique Meirelles, banqueiros centrais "são acima de tudo realistas". Ante a constatação de que
o sistema financeiro ainda precisa de conserto -e é precondição para que o resto da economia funcione-, é natural que
os chefes dos BCs tenham considerado "prematuro entrar em
detalhes sobre estratégias de
saída", como diz Guillermo Ortiz, o presidente do BC mexicano e também presidente do
conselho do BIS.
Reforça Mario Draghi, presidente do BC da Itália e do Conselho de Estabilidade Financeira, agora reforçado pelos países
emergentes e com um papel
fortalecido por determinação
da cúpula do G20 de abril: "Estratégias de saída têm que ser
críveis. Para que sejam críveis,
é preciso que o sistema bancário esteja consertado, antes de
começar a apertar a política
monetária [aumentar juros], e
que haja sinais convincentes de
recuperação sustentada -e
eles não existem".
De todo modo, quando for a
hora de falar de estratégias de
saída, não haverá um modelo
combinado entre os diferentes
países, prevê Stephen Cecchetti, conselheiro econômico do
BIS: "Cada país terá que calibrar a sua própria estratégia de
saída, embora possa haver algum tipo de coordenação".
Se não tem nada de muito
concreto a dizer a respeito da
saída da atual crise, o BIS pelo
menos avançou algo nas linhas
gerais da reforma da regulação
e supervisão dos mercados.
O eixo das reformas propostas é a centralização das operações financeiras, por meio de
uma espécie de câmara de compensação. Hoje, funciona assim, simplificando: João vende
derivativos, um mecanismo de
aposta em diferentes ativos, para Maria, que vende para Pedro,
que vende para Paulo.
Não há órgão regulador/supervisor que consiga saber
quem corre que tipo de risco na
operação. A centralização significará que, monitorando
João, o supervisor tem, em tese, uma boa visão do risco que
todo o sistema corre.
Também estão avançados os
estudos no âmbito da Iosco
(Organização Internacional de
Comissões de Ações, de que faz
parte, por exemplo, a CVM, xerife da Bolsa brasileira). Visam
a regular não apenas o comércio de ações mas também o de
hedge funds e o dos chamados
CDS ("credit default swaps"),
dois dos instrumentos financeiros mais obscuros e que estão no centro da crise atual.
As propostas detalhadas serão analisadas em setembro, na
reunião dos ministros da Fazenda do G20, em Londres,
preparatória da terceira cúpula
do grupo, já marcada para setembro, em Pittsburgh (EUA).
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