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SOCIAIS & CIA.
Cresce rigor para sustentabilidade na Bolsa
Devido à crise financeira mundial, empresas terão de detalhar política de gestão de riscos e remuneração de executivos
Mudanças deverão integrar questionário a que empresas listadas no ISE responderão para formar a carteira do índice para o próximo ano
ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
As empresas que participam
do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da
BM&FBovespa terão de responder, a partir deste ano, a
questões específicas sobre sua
política de gestão de riscos financeiros e sobre os mecanismos de remuneração de seus
principais executivos, como o
pagamento de bônus com
ações. Essas são as principais
mudanças propostas para a revisão anual do ISE, cuja etapa
de consulta pública terminou
na sexta-feira.
As mudanças guardam relação direta com a crise financeira global. No Brasil, diversas
empresas registraram perdas
significativas ao apostar na tendência de enfraquecimento do
dólar diante do real no mercado de derivativos. Entre os casos mais célebres, estão os da
Sadia, da Aracruz Celulose e do
Grupo Votorantim, que amargaram perdas bilionárias quando o dólar, na esteira da crise,
inverteu o sinal e passou a se
valorizar diante do real.
A remuneração de bônus milionários a executivos de empresas que praticamente faliram em razão da crise, como a
seguradora AIG, nos Estados
Unidos, também foi alvo de intenso debate aqui e no exterior.
"Com os desdobramentos da
crise, as questões relacionadas
à política de riscos na área financeira e às regras de remuneração dos executivos assumiram maior relevância na análise sobre quão sustentáveis são
as empresas", disse à Folha a
coordenadora dos trabalhos de
revisão do ISE, Roberta Simonetti, do Centro de Estudos em
Sustentabilidade da FGV-SP.
As mudanças, que ainda terão de ser aprovadas pelo Conselho do ISE, passarão a fazer
parte do questionário que as
empresas listadas no índice
responderão a partir de agosto
-e que formará a carteira do
ISE para o ano de 2010.
Por sugestão das empresas,
que pela primeira vez participaram dos debates para a revisão do índice, temas como a
qualidade de vida dos funcionários e a política de terceirização de mão de obra também
deverão fazer parte do questionário enviado às companhias.
Idealizado para reunir as
empresas mais "sustentáveis"
listadas na Bolsa, a partir do
conceito de "triple bottom line" (no qual são considerados
de maneira integrada os aspectos ambientais, sociais e econômicos da gestão) e dos quesitos
governança corporativa, características gerais e natureza do
produto, o ISE ainda está longe
de atrair a atenção dos investidores no mercado local.
"Salvo para um ou outro fundo de ações, a sustentabilidade
das empresas ainda não é um
fator determinante na decisão
dos investidores domésticos ao
comprar um papel, sobretudo
para as pessoas físicas. O que
importa mesmo é o potencial
de geração de lucro, e não em
quem se está investindo ou como lida com as questões de
sustentabilidade", diz o economista-chefe da corretora Souza
Barros, Clodoir Oliveira.
Referência a mais
A rentabilidade do ISE é pior
quando comparada à do Ibovespa, o principal índice da Bolsa. Desde sua criação em dezembro de 2005 até o fechamento de maio, o índice de sustentabilidade acumulou alta de
49%. No mesmo período, o Ibovespa teve ganho de 59%.
"Não é correto afirmar que o
ISE não tem boa performance.
Há uma série de variáveis, relacionadas com as políticas de
sustentabilidade nas empresas,
que não se refletem no curto
prazo no valor de suas ações em
Bolsa. Além disso, o ISE mede
empresas que buscam otimizar
o seu lucro, e não simplesmente maximizá-lo, muitas vezes
em detrimento de variáveis
ambientais, sociais e econômicas de longo prazo", afirma Simonetti.
A rentabilidade também não
parece ser um problema para as
empresas listadas, que buscam
no ISE mais uma referência de
práticas e ações de sustentabilidade internacionalmente reconhecidas do que de retorno financeiro.
"O ISE, assim como o índice
de sustentabilidade da Bolsa de
Nova York, são instrumentos
para medirmos e avaliarmos
até que ponto nossas práticas
nessa área estão no caminho
certo. E, por ser comparável,
funciona como um importante
instrumento para definir os
benchmarks no setor", diz o
presidente do Grupo EDP no
Brasil, António Pita Abreu.
"Além disso, esse tipo de índice coloca de maneira concreta como as empresas estão lidando com suas questões de
riscos sociais, ambientais, trabalhistas etc. Itens que, cada
vez mais, serão essenciais para
qualquer companhia que queira sobreviver no longo prazo."
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