São Paulo, terça-feira, 30 de junho de 2009

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SOCIAIS & CIA.

Cresce rigor para sustentabilidade na Bolsa

Devido à crise financeira mundial, empresas terão de detalhar política de gestão de riscos e remuneração de executivos

Mudanças deverão integrar questionário a que empresas listadas no ISE responderão para formar a carteira do índice para o próximo ano

ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As empresas que participam do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da BM&FBovespa terão de responder, a partir deste ano, a questões específicas sobre sua política de gestão de riscos financeiros e sobre os mecanismos de remuneração de seus principais executivos, como o pagamento de bônus com ações. Essas são as principais mudanças propostas para a revisão anual do ISE, cuja etapa de consulta pública terminou na sexta-feira.
As mudanças guardam relação direta com a crise financeira global. No Brasil, diversas empresas registraram perdas significativas ao apostar na tendência de enfraquecimento do dólar diante do real no mercado de derivativos. Entre os casos mais célebres, estão os da Sadia, da Aracruz Celulose e do Grupo Votorantim, que amargaram perdas bilionárias quando o dólar, na esteira da crise, inverteu o sinal e passou a se valorizar diante do real.
A remuneração de bônus milionários a executivos de empresas que praticamente faliram em razão da crise, como a seguradora AIG, nos Estados Unidos, também foi alvo de intenso debate aqui e no exterior.
"Com os desdobramentos da crise, as questões relacionadas à política de riscos na área financeira e às regras de remuneração dos executivos assumiram maior relevância na análise sobre quão sustentáveis são as empresas", disse à Folha a coordenadora dos trabalhos de revisão do ISE, Roberta Simonetti, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-SP.
As mudanças, que ainda terão de ser aprovadas pelo Conselho do ISE, passarão a fazer parte do questionário que as empresas listadas no índice responderão a partir de agosto -e que formará a carteira do ISE para o ano de 2010.
Por sugestão das empresas, que pela primeira vez participaram dos debates para a revisão do índice, temas como a qualidade de vida dos funcionários e a política de terceirização de mão de obra também deverão fazer parte do questionário enviado às companhias.
Idealizado para reunir as empresas mais "sustentáveis" listadas na Bolsa, a partir do conceito de "triple bottom line" (no qual são considerados de maneira integrada os aspectos ambientais, sociais e econômicos da gestão) e dos quesitos governança corporativa, características gerais e natureza do produto, o ISE ainda está longe de atrair a atenção dos investidores no mercado local.
"Salvo para um ou outro fundo de ações, a sustentabilidade das empresas ainda não é um fator determinante na decisão dos investidores domésticos ao comprar um papel, sobretudo para as pessoas físicas. O que importa mesmo é o potencial de geração de lucro, e não em quem se está investindo ou como lida com as questões de sustentabilidade", diz o economista-chefe da corretora Souza Barros, Clodoir Oliveira.

Referência a mais
A rentabilidade do ISE é pior quando comparada à do Ibovespa, o principal índice da Bolsa. Desde sua criação em dezembro de 2005 até o fechamento de maio, o índice de sustentabilidade acumulou alta de 49%. No mesmo período, o Ibovespa teve ganho de 59%.
"Não é correto afirmar que o ISE não tem boa performance. Há uma série de variáveis, relacionadas com as políticas de sustentabilidade nas empresas, que não se refletem no curto prazo no valor de suas ações em Bolsa. Além disso, o ISE mede empresas que buscam otimizar o seu lucro, e não simplesmente maximizá-lo, muitas vezes em detrimento de variáveis ambientais, sociais e econômicas de longo prazo", afirma Simonetti.
A rentabilidade também não parece ser um problema para as empresas listadas, que buscam no ISE mais uma referência de práticas e ações de sustentabilidade internacionalmente reconhecidas do que de retorno financeiro.
"O ISE, assim como o índice de sustentabilidade da Bolsa de Nova York, são instrumentos para medirmos e avaliarmos até que ponto nossas práticas nessa área estão no caminho certo. E, por ser comparável, funciona como um importante instrumento para definir os benchmarks no setor", diz o presidente do Grupo EDP no Brasil, António Pita Abreu.
"Além disso, esse tipo de índice coloca de maneira concreta como as empresas estão lidando com suas questões de riscos sociais, ambientais, trabalhistas etc. Itens que, cada vez mais, serão essenciais para qualquer companhia que queira sobreviver no longo prazo."


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