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LUÍS NASSIF
As fontes na economia
Nos últimos meses me
empenhei em uma cruzada contra os "cabeças de planilha". Dou a tarefa por provisoriamente encerrada.
A intenção não foi atacar este ou aquele economista nem
investir contra a categoria dos
economistas de mercado, mas
denunciar um tipo de cobertura jornalística extraordinariamente mediocrizante, que acabou privilegiando o palpite em
lugar da análise e aceitou como verdades slogans que não
resistiriam a nenhuma prova
de consistência.
É hora de começar a avaliar
melhor a qualidade do que é
entregue ao público, principalmente porque a proliferação de
palpites inconsequentes, quando ecoado por grandes meios
de comunicação, acabam tendo peso político relevante.
Um dos vícios da cobertura é
supor que todo economista está
apto a falar de todos os temas
econômicos e a fazer análise de
conjuntura. Não é assim. A
análise de conjuntura é um
exercício intrincado, em que o
analista precisa pesar muitos
fatores, nem todos quantificáveis. Assemelha-se muito ao
raciocínio desenvolvido no jogo do xadrez, no qual cada movimento de peça provoca um
novo equilíbrio (ou desequilíbrio) no tabuleiro, implicando
tantas variáveis que a intuição
passa a ser elemento relevante
de decisão.
É preciso entender as diversas classes de economistas. No
topo da pirâmide há os formuladores, os economistas de visão geral, que sabem mesclar
conhecimento de macroeconomia com mercado, agricultura,
indústria etc. São poucos os
que se enquadram nessa categoria -e não são os mais ouvidos.
Abaixo deles há os especialistas. O próprio mercado financeiro tem analistas com trabalhos relevantes sobre pontos específicos da economia e do
mercado. Alguns deles até têm
visão bastante crítica sobre o
cabeça de planilha -que continua apostando em tendências já superadas pelos centros
avançados de pensamento econômico.
Abaixo deles vêm os "arrumadinhos-detalhistas". São
economistas especializados em
levantar bancos de dados, indicadores, com especial apego
aos detalhes e pouco empenho
em teses inovadoras, sem nenhuma espécie de visão sistêmica.
Num quarto nível vêm os
economistas de slogan, aqueles
que cheiram a idéia que está
na moda e se limitam a despejar conceitos sem conseguir
amarrá-los a modelos de pensamento. São os economistas
padrão "Caras" -para eles, as
idéias econômicas se dividem
entre as "in" (que estão na moda) e as "out". Diria que são os
mais ouvidos pela mídia, inclusive por colegas seniores.
Alguns deles até conseguem
destaque em áreas específicas
da economia, mas se põem a
chutar sobre conjuntura porque o mercado demanda.
Seja qual for o nível do economista, ele não se pode furtar
a ser questionado sobre a lógica do que propõe. A virtude
maior da nossa profissão é a
capacidade e a obrigação do
jornalista de arrancar do especialista o raciocínio despido
dos conceitos fechados, definir
o objetivo a ser alcançado por
determinada proposta e detalhar todas as consequências de
cada passo, para conferir se há
lógica ou não.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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