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Torta de R$ 15 foi comprada em padaria
ALESSANDRA KORMANN
DA AGÊNCIA FOLHA
A torta de chocolate com chantilly que anteontem acabou no
rosto do co-presidente americano
da Alca, Peter Allgeier, foi fabricada em uma padaria do centro do
Rio e custou R$ 15.
"A gente está procurando uma
receita daquelas tortas clássicas
de pastelão, mas essa foi comprada na padaria e deu certo. O creme grudou na cara dele e ficou
bonito", avalia o ativista Rodrigo,
27, que participou da ação dos
Confeiteiros Sem Fronteiras. Ele
prefere não citar o sobrenome por
temer perseguição.
Rodrigo entrou no Palácio Itamaraty ao lado de Lucas Silveira,
que atirou a torta, e de Daniel Lima, que fotografou a tortada, para
dar cobertura. Foi ele quem acionou advogados quando Lucas foi
levado para o 1º DP. "Ele foi muito
bem tratado, alguns policiais deram o maior apoio." A embaixada
norte-americana pediu que ele
fosse liberado.
"Nossa interpretação é que os
EUA não queriam criar um fato
político. Imagine manter Lucas
preso e começar a chover manifestante na porta da delegacia."
O objetivo da ação foi gerar discussão sobre o processo de implementação da Alca. "É livre comércio, mas cadê a livre circulação de
pessoas pelas Américas, cadê a livre comida e os livres remédios? É
lucro e ponto. Se vai ter mais gente passando fome ou morrendo
de Aids, eles não estão nem aí."
A ação foi planejada dois dias
antes, quando o grupo (menos de
20 pessoas) soube que haveria a
reunião no Rio. "Nós damos tortadas quando surge uma oportunidade ou quando o momento
político pede. No ano passado,
milhões de pessoas votaram no
plebiscito contra a Alca, mas, depois, as campanhas não foram para as ruas."
Em janeiro, no Fórum Social
Mundial, em Porto Alegre, o presidente do PT, José Genoino, foi
atingido com uma torta em outra
ação dos Confeiteiros Sem Fronteiras. Na verdade, os Confeiteiros
não fazem parte de um grupo fechado, de uma organização única
com um comando central, e sim
de uma rede de vários grupos de
ativistas do movimento anticapitalista. Não foi o mesmo grupo
que alvejou Genoino e Allgeier.
Lucas não quis dar entrevista,
pois teme uma possível distorção
das suas palavras.
Os ativistas receiam que não
possam mais entrar nos EUA,
mas resolveram dar a tortada assim mesmo.
A assessoria do consulado dos
EUA afirmou que o país "não faz
represálias contra ninguém".
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