UOL


São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Torta de R$ 15 foi comprada em padaria

ALESSANDRA KORMANN
DA AGÊNCIA FOLHA

A torta de chocolate com chantilly que anteontem acabou no rosto do co-presidente americano da Alca, Peter Allgeier, foi fabricada em uma padaria do centro do Rio e custou R$ 15.
"A gente está procurando uma receita daquelas tortas clássicas de pastelão, mas essa foi comprada na padaria e deu certo. O creme grudou na cara dele e ficou bonito", avalia o ativista Rodrigo, 27, que participou da ação dos Confeiteiros Sem Fronteiras. Ele prefere não citar o sobrenome por temer perseguição.
Rodrigo entrou no Palácio Itamaraty ao lado de Lucas Silveira, que atirou a torta, e de Daniel Lima, que fotografou a tortada, para dar cobertura. Foi ele quem acionou advogados quando Lucas foi levado para o 1º DP. "Ele foi muito bem tratado, alguns policiais deram o maior apoio." A embaixada norte-americana pediu que ele fosse liberado.
"Nossa interpretação é que os EUA não queriam criar um fato político. Imagine manter Lucas preso e começar a chover manifestante na porta da delegacia."
O objetivo da ação foi gerar discussão sobre o processo de implementação da Alca. "É livre comércio, mas cadê a livre circulação de pessoas pelas Américas, cadê a livre comida e os livres remédios? É lucro e ponto. Se vai ter mais gente passando fome ou morrendo de Aids, eles não estão nem aí."
A ação foi planejada dois dias antes, quando o grupo (menos de 20 pessoas) soube que haveria a reunião no Rio. "Nós damos tortadas quando surge uma oportunidade ou quando o momento político pede. No ano passado, milhões de pessoas votaram no plebiscito contra a Alca, mas, depois, as campanhas não foram para as ruas."
Em janeiro, no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, o presidente do PT, José Genoino, foi atingido com uma torta em outra ação dos Confeiteiros Sem Fronteiras. Na verdade, os Confeiteiros não fazem parte de um grupo fechado, de uma organização única com um comando central, e sim de uma rede de vários grupos de ativistas do movimento anticapitalista. Não foi o mesmo grupo que alvejou Genoino e Allgeier.
Lucas não quis dar entrevista, pois teme uma possível distorção das suas palavras.
Os ativistas receiam que não possam mais entrar nos EUA, mas resolveram dar a tortada assim mesmo.
A assessoria do consulado dos EUA afirmou que o país "não faz represálias contra ninguém".


Texto Anterior: Integração: EUA dizem que Alca é vantagem para o Brasil concorrer com a China
Próximo Texto: Combustíveis: Álcool e gasolina sobem na segunda
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.