São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2008

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Bovespa gira seu menor volume em quase um ano

Giro médio movimentado por pregão recuou 32% do pico de maio para agosto

Saída de capital externo e retração de investidor local esfriam mercado de ações; volume mensal caiu para R$ 4,79 bilhões por pregão


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A queda persistente da Bolsa de Valores de São Paulo tem sido acompanhada por uma pesada redução no volume negociado em pregão. Tanto que o mês de agosto registrou a mais baixa movimentação diária desde setembro de 2007, ao computar uma média de R$ 4,79 bilhões girados por pregão.
A movimentação na Bovespa vinha se expandindo ano a ano, para alcançar seu pico em maio último, quando a média diária de ações transacionadas superou os R$ 7 bilhões. Não por acaso, maio foi também o mês em que a Bolsa atingiu sua máxima histórica de pontuação, ao registrar 73.516 pontos. E muito disso foi conseqüência da euforia -que perdeu fôlego em meio ao arisco cenário externo- causada pela obtenção pelo Brasil do "investment grade" (grau de investimento), selo de bom pagador das agências de avaliação internacionais.
Em comparação ao teto obtido em maio, houve uma retração de aproximadamente 32% no volume girado no mercado em agosto.
Dois pontos principais explicam a retração: a saída recorde de capital externo, que tem ocorrido desde junho, e as incertezas quanto ao futuro da Bolsa no curto prazo, que fizeram com que o investidor brasileiro se retraísse, à espera de dias melhores.
"A venda pesada dos estrangeiros derrubou fortemente muitos papéis e afetou o desempenho da Bolsa, o que assustou muita gente. Quem já aplica na Bolsa de Valores, está com receio [de investir mais]. E quem pensava em entrar no mercado acionário está esperando o cenário melhorar", afirma José Augusto Miranda, chefe da mesa de operações da HSBC Corretora.
Em relação ao número de operações realizadas por pregão, houve um recuo de quase 20% em agosto na comparação com o mês de maio.
Após cinco anos seguidos de ganhos na Bolsa, o mau desempenho de 2008 acabou surpreendendo muita gente. Desde 2002, quando teve perdas de 17%, a Bovespa não ficava no vermelho no acumulado do ano. A queda da Bolsa registrada neste ano está em 12,84%.
O pior ano da Bovespa desde o Plano Real (1994) foi 1998, quando seu principal índice registrou recuo de 33,4%.
"O investidor brasileiro não tem demonstrado disposição para entrar na Bolsa neste momento. Muito gente perdeu dinheiro em fundos de ações e não quer aplicar mais recursos por enquanto", diz Fábio de Araújo, estrategista de renda variável da Itaú Corretora.
Devido à sua expressiva participação no mercado brasileiro -respondem por 35% do total movimentado-, o retorno dos estrangeiros é apontado como fundamental para revitalizar a Bovespa. Nos últimos três meses, a categoria mais vendeu que comprou ações em um montante que ronda os R$ 17 bilhões. Ao vender pesados volumes de ações, os estrangeiros derrubaram os preços de muitos papéis, o que afetou a rentabilidade das aplicações dos investidores locais.
Como os problemas que têm abalado o cenário internacional -crise de crédito imobiliário, bancos com perdas elevadas, ameaça inflacionária global etc- não demonstram que irão ser solucionados tão cedo, uma volta expressiva do capital externo, com potencial para impulsionar a Bovespa, pode demorar mais que o desejado.
Para piorar esse cenário, os juros brasileiros estão em meio a um ciclo de elevações pelo BC. Dessa forma, os estrangeiros acabam preferindo aplicar em títulos brasileiros que rendem juros do que em ações.
O clima menos favorável tem se refletido também no lançamento de novas ações na Bolsa. Após o recorde de 64 IPOs (oferta inicial de ações) de 2007, neste ano só quatro companhias estrearam. As empresas têm preferido engavetar seus projetos a estrear na Bolsa, com medo de uma oferta mal sucedida por baixa demanda.


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