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LUÍS NASSIF
Dólar e futebol
De um colega, experiente
jornalista financeiro,
temporariamente afastado das
funções, recebo o seguinte e-mail, a respeito de coluna recente que fiz com críticas à cobertura financeira e às "explicações" técnicas sobre alta e
queda dos ativos:
"Não só consultorias, também bancos com fino espírito
de marketing passaram a utilizar intensamente seus economistas como garotos-propaganda. Principalmente os bancos estrangeiros, que são muito
mais "press minded" do que os
bancões brasileiros.
Mas o pior é que as chefias
dos jornais adotaram um estilo
de cobertura do mercado financeiro que beira a crônica
esportiva: dólar bate recorde!
Bolsa dispara! Tratar um ativo
financeiro como partida é a
própria desinformação, a pretexto de fazer um texto amigável. Ora, finanças não são relações públicas, não é assunto
amigável -é um assunto no
mais das vezes árido, técnico e
complexo. Também é opaco.
Não porque as instituições do
mercado se recusem a prestar
informações, mas simplesmente porque é impossível saber
qual a motivação de compra/
venda de ativos de cada agente. A atomização das decisões
complica encontrar um motivo
para alterações nos preços dos
ativos.
Dada essa impossibilidade, a
conversa do jornalista teria de
ser com quem concentra informações de compra/venda de
ativos: as tesourarias dos bancos. São os tesoureiros que detêm uma informação mais
agregada, o que não significa
que eles tenham toda a informação. Mas os bancos raramente liberam os tesoureiros
para falar, enquanto liberam
economistas que, apesar de
instalados ao lado da tesouraria, não têm por razão de ser a
negociação. Sua função é pesquisar. Ou, quando se trata de
falar para o público externo, é
explicar "por que eu fiz o que fiz
e não me dizer o que eu tenho
de fazer" -como disse a seu
economista o presidente do
Banco da Inglaterra, Montagu
Norman.
Entretanto uma conversa séria com tesoureiros teria de
versar sobre algo extremamente sem gosto, sem sal: as condições de liquidez do mercado.
Isso não dá manchete, é chato
para burro.
É bem verdade que os tesoureiros ficam mais distantes
-proibitivamente distantes-
da imprensa. Um dos motivos é
a política de comunicação dos
bancos, que preserva seus tesoureiros, enquanto entrega de
bandeja os economistas. Outra
é que os tesoureiros não encontram entre jornalistas interlocutores interessados em condições de liquidez, de mercado,
mas sim em frases de efeito.
Jornalistas muitas vezes preferem a frase de efeito do economista júnior de um fundo de
investimentos liliputiano à
constatação do tesoureiro de
um conglomerado de que o
preço da LTN subiu porque o
mercado estava líquido com o
recolhimento de IPI (Imposto
sobre Produtos Industrializados) naquele dia. Não é muito
mais charmoso dizer que a
LTN subiu porque o risco Brasil (seja lá o que isso for!) caiu
em decorrência do não-acordo
na OMC (Organização Mundial do Comércio)?
Parei de dar crédito a fundo
perdido a fontes que não me
respondem sobre se o volume
foi alto ou baixo. Quero saber
quantas ações trocaram de
mãos, como sempre dizia o velho Elpídio (veterano colega da
área)".
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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