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FISCALIZAÇÃO
Conselho de Defesa Econômica contraria parecer da AGU e diz que poderá até mandar desfazer transações
Cade quer poder para julgar fusões de bancos
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) decidiu, na quinta-feira da semana
passada, que vai notificar os bancos que compraram outras instituições financeiras ou passaram
por processo de fusão nos últimos
anos para que submetam as operações à apreciação do órgão.
Em tese, o Cade poderá mandar
desfazer transações que considerar lesivas à concorrência, mesmo
se a incorporação já tiver sido
consumada há anos.
"A rigor, tudo o que é apresentado ao Cade pode ser julgado
contrário. O Cade pode proibir
fusões [já concluídas]", disse à
Folha o presidente do órgão, João
Grandino.
Segundo parecer da AGU (Advocacia Geral da União) assinado
pelo ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, no entanto, os
processos de fusão e aquisição no
setor bancário não são objeto de
apreciação do sistema de defesa
da concorrência -além do Cade,
inclui a Seae (Secretaria Especial
de Acompanhamento Econômico) e a SDE (Secretaria de Direito
Econômico). Pelo parecer, essas
operações estão submetidas somente ao Banco Central.
Assim, o Cade não teria competência para julgar esse tipo de incorporação. Grandino confirma
que o parecer da AGU vale até hoje, porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não o teria modificado. Mesmo assim, ressaltou,
os quatro conselheiros do Cade
em exercício na semana passada
entenderam que o órgão tem
competência, sim, para julgar os
processos de fusão e aquisição.
Segundo a Folha apurou, entretanto, se a AGU ou o presidente
Lula não modificar o parecer, dificilmente o Cade terá poderes para
avaliar incorporações no setor
bancário.
Por causa do cargo que ocupa,
Grandino votou contra a posição
dos demais conselheiros do órgão. "Votei contra a questão, mas
por causa do parecer que o presidente assinou, não pelo mérito
[...] Se eu entrasse no mérito, a solução seria diferente, se não houvesse o parecer", disse.
Mas ele ressaltou que tem que
mandar cumprir a decisão da
maioria dos conselheiros. Disse
que o Cade já começou a fazer um
levantamento das últimas aquisições e fusões no sistema bancário,
sem dizer qual será o prazo abarcado. Segundo ele, dentro de 20
dias o trabalho de identificar as
operações deve estar concluído.
Logo depois começariam a ser expedidas as notificações.
Grandino afirma que os bancos
que se recusarem a submeter as
transações ao Cade poderão ser
punidos, tanto no lado administrativo quanto no penal. Ou seja,
podem receber desde multas até
enfrentar processos na Justiça.
"Eu sou o único hoje que vota
assim lá, todos os outros [conselheiros] consideram que os bancos que fizeram fusão e incorporação e que não se submeteram ao
Cade estão contra a lei", disse ele.
Neste ano foram concluídas três
grandes transações de aquisição
no setor bancário, todas de valor
superior a R$ 2 bilhões. O Itaú
comprou o banco de atacado BBA
por R$ 3,3 bilhões. Depois da desistência do Itaú, o ABN Amro arrematou o Sudameris por R$
2,293 bilhões. Recentemente o
Bradesco liquidou a aquisição do
BBV por R$ 2,63 bilhões.
Nos três casos, os bancos compradores já incorporaram as atividades das instituições adquiridas,
o que complicaria bastante a reversão de qualquer uma das três
operações.
Procurada pela Folha, a Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos) disse que
não iria se pronunciar sobre o assunto até que fosse formalmente
comunicada pela Cade.
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