UOL


São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Especialistas vêem confirmação de monopólio

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A liberação do plantio de soja transgênica no país, neste ano, abre espaço para a expansão da área plantada mundialmente com sementes geneticamente modificadas dessa cultura, consolidando o monopólio da Monsanto no setor, segundo especialistas.
Hoje as culturas transgênicas ocupam 58,7 milhões de hectares em todo o planeta e crescem a taxas superiores a 10% ao ano, segundo a International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications (ISAAA).
A área cultivada com soja geneticamente modificada corresponde a mais da metade das lavouras transgênicas -36,5 milhões de hectares. Como no Brasil a soja é cultivada em 18,4 milhões de hectares, a liberação do plantio significaria um salto considerável para os transgênicos a nível mundial.
"O risco maior é a consolidação do monopólio da Monsanto no setor, cuja semente, a Rondup Ready, já é utilizada em 90% das lavouras em todo o mundo," diz o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, doutor em engenharia de produção pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Segundo Melgarejo, outro risco é a soja transgênica varrer do mapa agrícola os pequenos produtores, aumentando o êxodo rural. "Na Argentina, a soja transgênica expandiu a área mínima viável para a produção, e os pequenos agricultores estão desaparecendo", afirma o pesquisador.
Os defensores da liberação dos transgênicos argumentam que não existe monopólio da Monsanto no setor. "Ela detém a patente do gene introduzido na planta, que a torna resistente ao glifosato [princípio ativo do herbicida Rondup Ready], mas não é a única produtora de sementes modificadas por esse gene, por isso não há monopólio", diz Ivo Carraro, diretor-executivo da Codetec (Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola), de Cascavel.
A Codetec desenvolve, desde 1998, algumas variedades próprias de sementes de soja, sob licença da Monsanto. A Embrapa também tem parceria semelhante com a empresa americana.
Segundo Carraro, além da Monsanto, outras indústrias desenvolvem pesquisas com sementes modificadas de soja, como a Bayer, a Sigenta, a Milênia e a Basf. Essas empresas ainda são minoria no mercado mundial.
A pressão pela liberação vem principalmente dos produtores do Rio Grande do Sul que já cultivam o produto transgênico, com sementes trazidas ilegalmente da Argentina. "Eles se animaram com a redução de custos imediata, mas a produtividade é menor e, com a liberação, terão de pagar royalties, o que reduzirá seus ganhos", diz Melgarejo. Nos EUA, a Monsanto cobra US$ 67,45 de royalties por hectare e, na Argentina, US$ 49,83


Texto Anterior: Lula indica que manterá restrições
Próximo Texto: MP era questão de emergência, diz ministro
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.