São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2006

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Varejo deve ter expansão menor que a prevista

Analistas revêem para baixo projeções após BC prever crescimento menor

Consultorias agora esperam uma expansão entre 3,5% e 4,2%, contra previsões de até 6% de alta feitas no início do ano


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Após a revisão do Banco Central para a expansão da economia em 2006, e de duas derrapadas do desempenho do comércio -nos meses de junho e julho-, analistas revisaram as previsões de crescimento do varejo brasileiro no ano. Espera-se expansão anual entre 3,5% e 4,2%, contra expectativas que superavam 6% no início do ano.
A RC Consultores, por exemplo, previa, em fevereiro, crescimento anual de 6,2%. Os números foram sendo revistos para baixo nos últimos meses até a última previsão, feita na semana passada, de expansão de 4,2%.
"Tivemos um começo de terceiro trimestre cambaleante, após um segundo trimestre ruim. Não há como sustentar antigas previsões de expansão numa economia com esse desempenho envergonhado", diz Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores.
"Todos os meses, reavaliamos nossas projeções, segundo o desempenho da economia. No início de 2006, estávamos otimistas, porém, revisamos nossa rota. Já, inclusive, trabalhávamos com dados menos positivos para o início do terceiro trimestre, como apontou o IBGE", afirma Deborah Cristina Nogueira, economista da Rosenberg & Associados.

IBGE
O IBGE informou na semana passada que houve um declínio no volume de vendas do comércio de 0,45% de junho para julho. No mês anterior, esse mesmo indicador já havia apontado uma queda de 0,31%. Até então, a Pesquisa Mensal do Comércio do instituto registrava índices positivos na comparação mês a mês. Dias após o anúncio dessa freada, o Banco Central anunciou redução de 4% para 3,5% em sua estimativa de crescimento para o Brasil em 2006.
"Agosto continuou "andando de lado", e esperávamos um mês mais forte. Há expectativa de que, após ajuste sazonal, o último trimestre tenha desempenho um pouco melhor. Mas não será nenhuma explosão" diz Zeina Latif, economista-chefe do banco ABN Amro Real.
A área econômica do banco informa que não faz cálculos para o desempenho do comércio, mas espera números mais tímidos. "Acreditávamos em algo como 5% de alta no ano, agora trabalhamos com algo em torno de 4,5% ou até abaixo disso", diz Zeina.
Segundo Fabio Silveira, da RC Consultores, a perda da velocidade de expansão da renda e do volume total de trabalhadores ocupados teve reflexo direto nos recentes desempenhos do varejo. O rendimento médio real habitualmente recebido pelas pessoas ocupadas ficou em R$ 1.036,20 em agosto, com elevação de apenas 0,7% em relação a julho. A alta é menor que a expansão de 2,5% em julho (em relação a junho).
Além disso, segundo ele, ainda não há reflexo considerável da queda na taxa de juros básica (Selic) para o consumidor. Estima-se que são necessários cerca de oito meses desde o início de movimento de redução nas taxas, promovida pelo Banco Central, até o efeito disso na demanda doméstica, explica Zeina Latif, do ABN Amro.
No começo de setembro, a Associação Comercial de São Paulo informou oficialmente mudanças em suas previsões de resultados do comércio. A entidade trabalhava com uma expectativa de expansão de 5% no ano. Marcel Solimeo, economista da associação, já fala agora em alta de 4% para o ano.
Para Solimeo, mesmo o crescimento acumulado da renda no ano -em cerca de 4%- pode não sustentar expansão considerável nas vendas. O recente aumento da inadimplência pode comprometer parte desse ganho. Além disso, diz ele, a expansão nas vendas apenas com base em crédito tem limites.


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