São Paulo, domingo, 30 de setembro de 2007

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Japão, Rússia e China devem concorrer na indústria de aviões

Estudo do BNDES aponta que países são os mais preparados para enfrentar hegemonia das empresas ocidentais no setor

Parcerias com fabricantes para produção de peças levaram tecnologia às companhias locais, que já planejam fazer aeronaves

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

Estudo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) afirma que Japão, Rússia e China são os países mais preparados e dispostos a fomentar a concorrência na indústria aeronáutica. O setor é concentrado basicamente em quatro fabricantes: Boeing e Airbus (aviões de grande porte) e Embraer e Bombardier (jatos regionais).
Segundo o estudo, a entrada de novos concorrentes no setor foi incentivada pelo novo modelo de negócios da indústria aeronáutica, em que os fabricantes se tornam "integradores de sistemas". Na prática, o avião passa a ser construído em diversas partes do mundo e o desenho não só de peças como de sistemas é feito fora da sede do fabricante. Um exemplo dessa estratégia é a fabricação do Boeing-787, com entrada prevista no mercado em 2008.
A construção de 90% das partes do avião foi distribuída por fornecedores internacionais. Os parceiros da Boeing no Japão e na Itália construirão sistemas já certificados, testados e prontos para a montagem final, que leva até quatro dias e é realizada em Everett, Washington.
Os japoneses construirão cerca de 35% da estrutura da aeronave. A japonesa All-Nippon Airways fez uma encomenda inicial de 50 unidades, um negócio da ordem de US$ 6 bilhões. A parceria com os japoneses representa a primeira vez em que a Boeing terceiriza o projeto e a produção de uma asa para uma aeronave nova, o que representa um ponto crítico do projeto e uma das fontes de inovação tecnológica.
"A Boeing tem vantagens no acesso ao mercado e impede maior entrada da Airbus no Japão, mas pode estar desenvolvendo simultaneamente um competidor importante em seu próprio negócio", diz o estudo. A empresa que constrói a asa do Boeing-787, Mitsubishi Heavy Industries, pretende construir um jato regional de 70 a 90 lugares usando a tecnologia desenvolvida com a Boeing.
O novo modelo de negócios permite a redução da exposição ao risco e nos custos com empregados. Segundo José Antônio Pereira de Souza, autor do estudo, a estratégia representa "uma infusão direta de conhecimentos científicos e tecnológicos em fabricantes fora do eixo ocidental" e não leva em conta o impacto sobre a concorrência futura.
Nesse cenário, a Rússia aposta na fabricação de um jato regional, o SSJ (Sukhoi Superjet). Será o primeiro avião comercial russo projetado desde o início para atender os padrões de certificação ocidentais.
"O grande mercado aeronáutico hoje está na Ásia. A própria Sukhoi vai focar no mercado asiático, tentando estabelecer uma rede de fornecedores basicamente no continente. Já há conversas da indústria russa com a indústria chinesa para tentar construir uma aeronave de porte maior", disse Souza.
A expectativa é a de um potencial no mercado doméstico russo de 300 aeronaves e de outras 500 no mercado internacional. Além da experiência, a Rússia conta com custos baixos. A iniciativa agradaria a fornecedores que apóiam o aumento da concorrência em jatos de cem lugares. A consolidação da indústria russa passa pelos planos da estatal Unified Aircraft Building de combinar seis companhias em uma única.
A China atua desde 2003 na montagem de aeronaves da Embraer. Além disso, trabalha com a Boeing nos programas 737 e 787. O Conselho de Estado Chinês aprovou em fevereiro deste ano um plano para produzir um avião comercial.


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