São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 2002

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Dólar leva indústrias a planejar aumento nos próximos três meses

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A disparada do dólar fez com que reajuste de preço virasse palavra de ordem para as indústrias brasileiras: 48% delas esperam promover aumentos nos próximos três meses.
Trata-se da maior marca da era FHC. No primeiro trimestre de 1995, apenas 23% das indústrias consideravam reajustar preços. Na pesquisa feita em julho deste ano o percentual era de 37%.
Os dados são da Sondagem Conjuntural da Indústria da Transformação, da FGV (Fundação Getúlio Vargas). O levantamento aponta que apenas 3% das empresas estudam reduzir preços -49% prevêem mantê-los inalterados.
"É o efeito negativo da alta do câmbio, que pressiona os custos das empresas. Mas não quer dizer que todas conseguirão aumentar. Vai depender da demanda", afirmou Salomão Quadros, economista da FGV.
A pesquisa mostrou ainda que, depois da pré-recessão anunciada em julho, a indústria registrou discreta melhora em outubro. Os estoques das empresas caíram ligeiramente, a capacidade instalada das fábricas teve um pequeno aumento e a demanda apontou uma tímida recuperação.
"Não estamos mais na ante-sala da recessão, como em julho, mas não dá para imaginar ainda uma arrancada da indústria", disse, acrescentando que o setor vive recuperação "lenta e gradual". Para Quadros, a demanda interna continua fraca, o que impede uma retomada mais firme da indústria.
Por mais contraditório que possa parecer, segundo Quadros, foi justamente a alta do dólar que permitiu a melhora. É que a demanda cresceu puxada pelas exportações -com impacto indireto também em setores não-exportadores- e o dólar mais caro permitiu o início de um processo de substituição de importações.
A pesquisa, feita com 1.225 indústrias, revela que 10% dos empresários consideravam seus estoques excessivos em outubro, contra 17% em julho. No caso da demanda, 18% a consideram forte agora. Em julho, eram 11%.
De junho para outubro, o uso da capacidade das fábricas cresceu de 79% para 80,4%. O índice está longe, porém, dos 83% da pesquisa de janeiro de 1995, a primeira feita no governo FHC.
Segundo Quadros, o que prova que está havendo um processo de substituição de importações é o crescimento acima da média da demanda por bens intermediários (insumos). Esses bens, em parte, diz ele, passaram a ser comprados no país com a pressão do câmbio.


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