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POLÍTICA MONETÁRIA
Encargos da dívida do setor público devem chegar a R$ 153,9 bilhões em 2003, o equivalente a 10% do PIB
Gasto com juros será o maior desde 1994
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os gastos do setor público (governo federal, Estados, municípios e estatais) com juros devem
chegar a R$ 153,9 bilhões neste
ano, segundo o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles. O valor é 35% maior do que o
registrado no ano passado.
Caso a projeção se confirme, as
despesas com encargos da dívida
serão as maiores desde a implantação do Plano Real, em julho de
1994. Entre janeiro e agosto, os
gastos foram de R$ 102 bilhões.
Em 2004, disse ontem Meirelles,
eles totalizarão R$ 121 bilhões.
Neste ano, as despesas com juros devem representar cerca de
10% do PIB (Produto Interno
Bruto), o que também seria o nível mais elevado observado no
país desde o início do Real.
Os números foram apresentados durante audiência conjunta
realizada pela Câmara e pelo Senado. A cada três meses, o presidente do BC vai ao Congresso para prestar contas sobre a atuação
da instituição.
Mesmo com o aumento das
despesas com juros, Meirelles disse que "o Brasil passa por um importante ajuste nas contas públicas", baseado no forte aperto fiscal promovido pelo governo. O
presidente do BC afirmou ainda
que "o ajuste está concentrado no
corte de gastos públicos".
O aumento dos gastos com juros reflete a elevação da taxa Selic
(os juros fixados pelo BC), que
corrige grande parte da dívida pública. Entre janeiro e setembro
deste ano, a Selic ficou acumulada
em 18%. Em igual período de
2002, a taxa ficou em aproximadamente 13,5%.
A Selic é uma taxa de juros de
curto prazo utilizada pelo BC nas
operações que a instituição realiza
com os bancos. O aumento dos
juros ocorrido neste ano foi justificado pelo governo pela necessidade de conter a inflação.
Em tese, quando a Selic sobe, os
bancos também elevam as taxas
cobradas nos empréstimos concedidos a seus clientes. Com o crédito mais caro, as pessoas consomem menos, as empresas diminuem seus investimentos e a economia se desacelera. A estagnação, que tende a evitar aumentos
nos preços, é agravada com a redução dos gastos do governo.
Para tentar neutralizar o efeito
da alta dos juros na dívida pública, o governo aumenta o superávit primário (receitas menos despesas, exceto gastos com juros).
Neste ano, essa economia deve
chegar ao equivalente a 4,25% do
PIB. Como esse superávit não será
suficiente para pagar toda a carga
de juros, o setor público terá que
tomar novos empréstimos para
honrar esses compromissos.
Assim, os gastos com juros levam a um aumento da dívida pública. E, quanto maior a dívida,
maiores os encargos que sobre ela
incidem. Durante o governo FHC
(1995-2002), o endividamento
passou de R$ 153,2 bilhões para
R$ 881,1 bilhões -é o que o PT
chama de "herança maldita".
Meirelles disse que, em 2004, os
gastos com juros serão menores
por causa da queda na taxa Selic
esperada para o ano que vem. Hoje, a Selic está em 19% ao ano.
Projeções
Durante a audiência de ontem,
o presidente do BC afirmou que o
ajuste fiscal e a queda dos juros
trarão estabilidade ao país, o que
permitirá que a economia cresça
"3% ou mais" a partir do ano que
vem. Para este ano, espera-se um
crescimento de 0,6%. "É um crescimento pequeno, é verdade. Mas
é crescimento", afirmou.
Meirelles disse, porém, que essa
retomada deve demorar um pouco para ser sentida em termos de
criação de empregos.
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