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São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2003

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FIM DO SUFOCO?

Para economistas e empresários, investimentos e emprego são necessários para recuperar renda e consumo

Só crédito não sustenta retomada do país

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

A recuperação de alguns setores da economia não poderá se sustentar se for baseada apenas na ampliação do crédito, como vem ocorrendo, sem elevação da renda do consumidor, avaliam economistas e empresários. O cenário atual dá fôlego para a atividade econômica, mas há dúvida se ele vai durar meses ou permitirá a reativação por um ou dois anos.
"O que vemos é uma pequena expansão de alguns setores por causa do crédito. Não dá para dizer que a economia voltou a crescer, mas, sim, que apenas parou de encolher", diz Mariano Laplane, economista da Unicamp.
Para ele, a recuperação de alguns setores é sazonal e ocorre porque o consumidor, nesta época, geralmente antecipa certas compras que faria no final do ano, já contando com a primeira parcela do 13º salário.
Mesmo se a reativação se concretizar, há dúvidas se o emprego pode voltar a crescer. O empresário Antônio Ermírio de Moraes, 75, presidente do grupo Votorantim, diz que os empregos não serão gerados na mesma velocidade da recuperação da economia. "O país está melhorando, mas isso não significa que vai criar novos empregos. Na globalização, o país cresce, mas não cria empregos."
Para aumentar o emprego, diz, o governo precisa estimular investimentos na construção civil e no setor de bens de capital. "Nós estamos num Boeing lotado de passageiros levantando vôo numa pista curta. O piloto tem que ser muito bom. Se falhar uma turbina, nós estamos fritos", diz.
Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), também destaca o peso dos investimentos."Vivemos um clássico ciclo de crédito. Mas, se os investimentos não deslancharem, esse ciclo será curto."
Na sua análise, alguns setores da economia reagiram porque o consumo estava reprimido, os juros caíram e os prazos de financiamento esticaram. "Mas isso é pouco. Sem investimentos, a renda não cresce, e o consumo baseado no crédito pode resultar em inadimplência lá na frente", diz.
A taxa de juros cobrada em todas as modalidades de crédito caiu oito pontos percentuais de maio até agora. Em maio, a taxa média era de 57,8% e agora está em 49,8% ao ano. O "spread" bancário (a diferença entre as taxas de juros cobradas e as pagas pelos bancos) caiu de 33,7% para 30,6% ao ano, no período. Isso por causa da redução da Selic, de 26,5% para 19% ao ano, nesse período.
O fôlego da recuperação econômica, na avaliação de economistas, vai depender da política do governo para as taxas de juros. "Ainda não dá para prever o tempo que o crédito pode sustentar a economia brasileira. Podemos estar vivendo apenas uma bolha de crédito", afirma Fábio Pina, economista da Fecomercio SP.
Segundo ele, se o crédito expandir o consumo de alguns setores e isso resultar em mais investimentos e aumento do emprego, a economia poderá dar início a um processo de recuperação.


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