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FIM DO SUFOCO?
Para economistas e empresários, investimentos e emprego são necessários para recuperar renda e consumo
Só crédito não sustenta retomada do país
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
A recuperação de alguns setores
da economia não poderá se sustentar se for baseada apenas na
ampliação do crédito, como vem
ocorrendo, sem elevação da renda
do consumidor, avaliam economistas e empresários. O cenário
atual dá fôlego para a atividade
econômica, mas há dúvida se ele
vai durar meses ou permitirá a
reativação por um ou dois anos.
"O que vemos é uma pequena
expansão de alguns setores por
causa do crédito. Não dá para dizer que a economia voltou a crescer, mas, sim, que apenas parou
de encolher", diz Mariano Laplane, economista da Unicamp.
Para ele, a recuperação de alguns setores é sazonal e ocorre
porque o consumidor, nesta época, geralmente antecipa certas
compras que faria no final do ano,
já contando com a primeira parcela do 13º salário.
Mesmo se a reativação se concretizar, há dúvidas se o emprego
pode voltar a crescer. O empresário Antônio Ermírio de Moraes,
75, presidente do grupo Votorantim, diz que os empregos não serão gerados na mesma velocidade
da recuperação da economia. "O
país está melhorando, mas isso
não significa que vai criar novos
empregos. Na globalização, o país
cresce, mas não cria empregos."
Para aumentar o emprego, diz,
o governo precisa estimular investimentos na construção civil e
no setor de bens de capital. "Nós
estamos num Boeing lotado de
passageiros levantando vôo numa
pista curta. O piloto tem que ser
muito bom. Se falhar uma turbina, nós estamos fritos", diz.
Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento
Industrial), também destaca o peso dos investimentos."Vivemos
um clássico ciclo de crédito. Mas,
se os investimentos não deslancharem, esse ciclo será curto."
Na sua análise, alguns setores da
economia reagiram porque o
consumo estava reprimido, os juros caíram e os prazos de financiamento esticaram. "Mas isso é
pouco. Sem investimentos, a renda não cresce, e o consumo baseado no crédito pode resultar em
inadimplência lá na frente", diz.
A taxa de juros cobrada em todas as modalidades de crédito
caiu oito pontos percentuais de
maio até agora. Em maio, a taxa
média era de 57,8% e agora está
em 49,8% ao ano. O "spread"
bancário (a diferença entre as taxas de juros cobradas e as pagas
pelos bancos) caiu de 33,7% para
30,6% ao ano, no período. Isso
por causa da redução da Selic, de
26,5% para 19% ao ano, nesse período.
O fôlego da recuperação econômica, na avaliação de economistas, vai depender da política do governo para as taxas de juros.
"Ainda não dá para prever o tempo que o crédito pode sustentar a
economia brasileira. Podemos estar vivendo apenas uma bolha de
crédito", afirma Fábio Pina, economista da Fecomercio SP.
Segundo ele, se o crédito expandir o consumo de alguns setores e
isso resultar em mais investimentos e aumento do emprego, a economia poderá dar início a um processo de recuperação.
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