São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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CAPITALISMO VERMELHO

Países vizinhos vêem aumento das taxas chinesas como um passo rumo à flexibilização do yuan

Juros da China valorizam moedas na Ásia

Claro Cortes/Reuters
Contador de notas de yuan; juro chinês atingiu o câmbio na Ásia


DO "FINANCIAL TIMES"

As cotações das principais moedas dos países asiáticos se valorizaram ontem após a elevação das taxas de juros na China. Os mercados interpretaram a decisão como um passo inicial de um processo que pode levar à valorização do yuan, a moeda oficial do país.
Essa interpretação influenciou também os negociadores internacionais de títulos atrelados à moeda chinesa. A taxa desses contratos foi para o mais alto patamar desde abril deste ano, o que projeta uma desvalorização de 3,3% do dólar para o próximo ano -a cotação atual está em 8.002 yuans por dólar.
A valorização do yuan em relação ao dólar funcionou como um sinal verde para outros países asiáticos ajustarem as cotações de suas moedas. A moeda sul-coreana (won) se valorizou 1,5% na semana (recorde em quatro anos).
O dólar de Taiwan e a rupia indiana, ambas, subiram 0,9% em relação ao dólar -um dólar passou a valer 33.395 dólares taiwaneses e 45,30 rupias.

Flexibilização
Mansoor Mohi-uddin, estrategista-chefe do UBS, notou que os bancos centrais asiáticos estão mais inclinados a permitir a sobrevalorização de suas moedas, ao contrário do passado, quando opunham-se bravamente à idéia.
A valorização da moeda japonesa, o iene, é a maior em seis meses. A valorização da moeda foi facilitada pela ausência de vários sinais de intervenções do governo para segurar a cotação. A ausência do governo nas intervenções sobre o câmbio era esperada pelos negociadores para ocorrer apenas após as eleições nos EUA. O país critica com veemência as intervenções estatais no câmbio.
O movimento foi comemorado pelo fato de o câmbio valorizado compensar os efeitos da alta dos preços internacionais de commodities importadas pelo Japão.
No entanto a indicação do governo chinês não foi suficiente para fazer o dólar se valorizar diante do euro. Na quarta-feira, a moeda americana estava no mais baixo valor em oito meses, com um euro valendo US$ 1,2841.

Explicações
Mas os especuladores começaram a rever essa posição após um discurso do chanceler alemão, Gerard Schröder, no qual disse estar "preocupado" com os efeitos da valorização do euro.
O mercado adotou duas explicações para a alta dos juros na China. Uma escola de pensamento concluiu que a elevação foi um substituto para a flexibilização do yuan como forma de reduzir as taxas de crescimento no país.
Robert Lynch, analista de câmbio no BNP Paribas, adota essa visão: "Enquanto em economias orientadas por normas de mercado ajustes nas taxas de juros ocorrem paralelamente a ajustes no câmbio, a China faz isso passo a passo. A China agora observa os efeitos que a medida terá na economia. A elevação dos juros reduziu as chances de uma flexibilização no câmbio".
No entanto uma visão alternativa -que os mercados aparentemente seguiram ontem- mostra que a decisão aponta para a escolha da China por adotar medidas baseadas em regras de mercado. Uma dessas seria a flexibilização do câmbio.
O governo chinês anunciou anteontem que irá elevar suas taxas de juros em 0,27 ponto percentual -a primeira elevação da taxa de juros no país desde 1995. A taxa anual para empréstimos nos bancos da China deve subir dos atuais 5,31% para 5,58%.


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